Ataque a Míriam Leitão e a violência de gênero no jornalismo

Por Ajor abr 05, 2022

No último domingo (3), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou suas redes sociais para debochar da tortura vivida por Míriam Leitão durante a ditadura no Brasil. “Ainda com pena da cobra”, escreveu, fazendo referência ao relato da jornalista de que foi colocada em uma sala escura com uma jibóia quando estava detida no quartel do Exército em Vila Velha no período do regime militar.

O ataque se deu depois que Míriam publicou um artigo no jornal O Globo criticando o posicionamento de integrantes da chamada terceira via de comparar e tentar igualar o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro. No texto, Leitão declara que o atual presidente é “inimigo declarado da democracia”.

Nesta segunda, parlamentares, entidades de classe e políticos publicaram notas de repúdio contra a fala de Eduardo Bolsonaro. Em nota, a Abraji afirmou que o caso “ é um tipo de ataque recorrente, praticado não só pelo deputado, mas por seu pai, o presidente da República, a uma profissional da imprensa, na busca para desvalorizar seu trabalho e tentar silenciá-la no debate político”.

Os partidos PSOL e Rede apresentaram ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados um pedido de cassação do mandato do deputado, no qual classificam a declaração como “abjeta, repugnante e criminosa”.

A jornalista também usou suas redes sociais para relatar o caso:

Políticos estão entre os principais instigadores de ataques à jornalistas

Em 2021, foram registrados 119 ataques com viés de gênero contra jornalistas brasileiras. Mais de 70% deles tiveram origem ou alguma repercussão no ambiente digital. Dados foram apresentados pela nova edição do monitoramento “violência de gênero contra jornalistas”, projeto feito anualmente pela Abraji com indicadores da rede Voces Del Sur.

O levantamento mostrou que autoridades de Estado, como vereadores, deputados, senadores e o próprio presidente da República estão entre os principais agressores. A categoria é responsável por 36,1% do total de casos registrados no último ano.

“Os agentes políticos são os orquestradores desses ataques. Eles vêm como avalanches que te soterram. Existem núcleos organizados em plataformas como o Telegram que produzem material para promover estes ataques diretos a jornalistas”, relatou Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha de S.Paulo, em webinar de lançamento da pesquisa, em março de 2022.

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