A edição de estreia da Brasis chegou aos leitores em 1º de setembro de 2022. Tinha o seguinte título: “Promessas vãs, lobby e pistoleiros no Pará”. A opção por essa pequena lista era uma tentativa de dar conta da abrangência de assuntos da recém-criada newsletter. E fazia sentido: a Brasis foi pensada como uma curadoria de notícias a partir das associadas à Ajor – à época, eram cerca de 90. Hoje, dois anos depois da estreia, o desafio da Brasis ganhou outra escala: a newsletter parte agora dos conteúdos produzidos por 157 associadas à Ajor. Elas estão em todas as regiões do Brasil e produzem muitos jornalismos – sim, no plural.
O conteúdo que alimenta a Brasis todos os dias é feito sobretudo de pluralidade: jornalismo local, jornalismo periférico, jornalismo ambiental, jornalismo investigativo, jornalismo de raça, jornalismo de gênero… A lista é longa e talvez não caiba em rótulos formais. Falando em forma, estão lá um leque de formatos que confirmam o caráter inovador do jornalismo: podcasts, vídeos, documentários, galerias de imagens, depoimentos. As associadas à Ajor oferecem um banquete todos os dias para a Brasis.
Não só as associadas que alimentam a newsletter cresceram, mas também os leitores. Se começamos com uma base de assinantes enxuta, tivemos um salto de 71,5% no número de inscritos, um crescimento orgânico, em boa parte fruto da própria reputação da Brasis e da associação. Nesses dois anos, também tivemos uma excelente taxa de abertura. Quando discutimos como seria o projeto, lembro-me de ouvir que, se 15% dos assinantes abrissem o e-mail da newsletter, seria uma vitória. Logo na primeira edição, nossa taxa foi de 33% – e, desde então, sempre se manteve, em média, em 29%.
Mas, nessa trajetória, os números dizem menos sobre a evolução da Brasis do que o próprio fazer da newsletter. Em dois anos, aplicamos duas pesquisas para ouvir nossos leitores. Aqui, uma breve volta aos dados: soubemos, por exemplo, que 55% deles passaram a acompanhar um novo veículo de jornalismo a partir da Brasis. Ou ainda que 66,5% dos assinantes já indicaram a newsletter para alguém.
A meu ver, o trunfo dessas pesquisas está em mostrar como o produto está incorporado ao cotidiano dos leitores. Há relatos de quem usa a Brasis em sala de aula, nos cursos de Jornalismo, ou ainda de quem busca no conteúdo da newsletter potenciais parceiros de trabalho, ou mesmo de quem acompanha as edições porque sabe que vai encontrar assuntos de áreas menos presentes na mídia tradicional, como direitos humanos ou raça e gênero.
O desafio diário na curadoria é trazer justamente essa diversidade de temas, mas não só: a missão da Brasis é dar visibilidade ao jornalismo das associadas à Ajor, valorizar o jornalismo local, buscar novas perspectivas para assuntos do dia. Em dois anos, temos muitos exemplos desse exercício. Atravessamos a cobertura das eleições presidenciais em 2022 (e temos pela frente o pleito municipal de 2024), acompanhamos a invasão de Brasília no 8 de janeiro de 2023, antecipamos a tragédia dos povos Yanomami na Amazônia, passamos pelo desastre climático no Rio Grande do Sul – neste caso, aliás, com destaque para a cobertura feita pelas associadas locais do estado. Reunimos histórias contadas a partir dos territórios, na voz de quem as vive ou dos jornalistas que se empenham para dar voz a quem foi historicamente silenciado.
Diante de tanto assunto, não por acaso, o título da newsletter foi pensado como uma pequena lista. Hoje, já não mais como na primeira Brasis, são só duas histórias no nome de cada edição. Foi uma decisão editorial – parte do Manual de Redação da Brasis, um guia que explica desde o modo de fazer a curadoria de assuntos para a newsletter até a padronização das notas e títulos.
Graças à capilaridade das associadas à Ajor, a Brasis também pode contar histórias que, infelizmente, passam longe da mídia tradicional. Quem lê a Brasis conhece, por exemplo, as mulheres que sobem a Serra do Espinhaço, entre os estados de Minas Gerais e Bahia, para colher sempre-vivas, ou o homem que vive numa caverna sobre o túnel Zuzu Angel, no Rio de Janeiro. Ou ainda rezadeiras do interior da Bahia, atletas da periferia de São Paulo, indígenas que estão abrindo um rio com as mãos em Pernambuco. Este Brasil cabe na Brasis.
Nesses dois anos, a newsletter da Ajor não apenas consolidou seu papel como um espaço de diversidade jornalística, mas também se tornou uma janela aberta para realidades e histórias que, muitas vezes, permanecem à margem. A trajetória da Brasis reflete o compromisso de dar voz às diferentes regiões e perspectivas do país, conectando leitores a um jornalismo que é, acima de tudo, plural e necessário.