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Cobrindo a ômicron? Veja o que saber

por | jan 14, 2022

Por INAARA GANGJI

Este post foi publicado originalmente pelo IJnet, em 11.jan.2021. 

Conforme variantes da COVID-19 continuam emergindo, é crucial que jornalistas mantenham seus leitores informados com a informação mais atualizada e precisa para ajudá-los a tomar decisões vitais.

A variante ômicron, que surgiu no fim de 2021, é diferente de outras porque ainda há muito que não sabemos sobre ela, disse Peter van Heusden, bioinformático do Instituto Nacional de Bioinformática da África do Sul, durante um webinar do Fórum de Reportagem da Crise Global de Saúde do ICFJ.

Van Heusden teorizou que há muitas razões pelas quais a ômicron pode ter se desenvolvido. É mais provável que ela tenha se originado de infecções longas, ele disse, o que permitiu que o vírus passasse por uma mutação mais longa que o habitual. Outras causas potenciais da ômicron incluem zoonoses, segundo a qual o vírus teria mutado depois de um humano infectar um animal com a cepa original do vírus, e o contágio retornou aos humanos na sequência. Mutações podem não ter sido detectadas em áreas com menos restrições e onde faltam monitoramento e fiscalização.

A onda de ômicron na África do Sul cresceu mais rápido que as anteriores, mas não estão ocorrendo muitos casos severos, observou van Heusden. A disseminação rápida sugere, porém, que a variante é mais virulenta e está infectando pessoas que já haviam sido infectadas com a COVID-19. Apesar de ainda não se saber muito sobre a variante, e de estarmos aprendendo mais dia após dia, a ênfase nas vacinas permanece. “A ômicron já se espalhou pelo mundo todo”, ele observou.

Infelizmente, a África do Sul sofreu as consequências depois de sua avançada tecnologia de sequenciamento soar o alarme sobre a ômicron. Países como os Estados Unidos, por exemplo, impuseram restrições de viagem controversas à África do Sul e países próximos na região, penalizando viajantes e economias locais. “O dia que a África do Sul reportou não foi o dia que a variante foi descoberta, mas as pessoas não estavam prontas para ouvir. Elas colocaram [a culpa] na África do Sul; da próxima vez, ninguém vai fornecer informação”, disse Oyewala Tomori, professor de virologia na Universidade Redeemer, na Nigéria.  

Variantes não detectadas

Vacinas, testes e sequenciamento têm sido distribuídos e realizados de maneira desigual na África e no mundo como um todo durante a pandemia. Isso leva ao desenvolvimento de variantes, como a ômicron e anteriormente a delta, que podem não ser descobertas cedo o bastante para serem combatidas de forma eficaz, bem como outras mutações podem passar despercebidas. Conforme o vírus continua a se espalhar, variantes vão continuar se formando, disse van Heusden.

“Esse é um desafio para a saúde pública, um desafio para a comunicação — temos um vírus cuja evolução parece ser impulsionada primariamente pela evasão do nosso sistema imunológico”, disse van Heusden. “Isso não significa que ele vai causar mais casos graves, mas significa que manter nossa população segura da infecção está se tornando mais difícil com essa variante.”

Mesmo assim, as vacinas continuam funcionando, e aqueles que estão se infectando permanecem sendo amplamente aqueles que não se vacinaram. “O ponto importante é o nível de imunidade da pessoa. Isso vai afetar a virulência da variante”, acrescentou Tomori.

Uma ‘infodemia’ dentro de uma pandemia

Cobrir as variantes e maneiras de combatê-las é incrivelmente desafiador. Notícias sobre a ômicron no Reino Unido, por exemplo, foram sensacionalizadas e frequentemente careciam de contexto importante, observou van Heusden.

“A confusão com o que está acontecendo com a ômicron tem chances de intensificar a ‘infodemia’ de pessoas que espalham desinformação sobre intervenções de saúde pública”, ele disse. “Comunicar em meio a tudo isso é um desafio.”

A saúde pública é também orientada em partes pela política. É importante, porém, que autoridades de saúde evitem que a política influencie seu trabalho. “Se estivesse nas mãos dos políticos, nós não teríamos mais dados”, disse Tomori. “Nós não devemos nos envolver com a política.”

Van Heusden destacou como a natureza em constante evolução da crise de saúde torna a comunicação difícil tanto para governos quanto para a população. “Os governos querem respostas, [mas] nós não estamos em um vácuo. O que precisamos comunicar às pessoas é que este é um novo vírus”, ele disse. “O que sabemos hoje pode mudar. As ferramentas que temos para lutar contra ele podem mudar. Precisamos estar prontos para nos esquivar dos golpes.”  

Colaboração como solução

O continente africano não tem um sistema coordenado de fiscalização, o que pode ter consequências. Por exemplo, há lugares onde variantes poderiam facilmente ficar detectadas. “Algo que começa na África do Sul ou na Nigéria vai acabar se tornando um problema para toda a África. Precisamos trabalhar juntos [e] colaborar com os cientistas africanos”, disse Tomori.

Tomori enfatizou a necessidade de governos africanos priorizarem a saúde pública e intervenções não farmacêuticas também. “É importante continuar fazendo o que estamos fazendo; precisamos dar condições aos cientistas africanos. Seja qual for a informação que temos disponível, a disponibilizamos e deixamos as pessoas cientes de que não somos infalíveis, e que essa é a informação à qual devem prestar atenção.”

O vírus veio para ficar e as soluções precisam refletir isso. “Dado o fracasso dos sistemas de saúde africanos, o fracasso da solidariedade global, não vamos eliminar de novo este vírus. Há aspectos que o tornam excepcionalmente difícil. Vamos lutar contra o vírus nos próximos anos. Precisamos ser humildes, e precisamos encontrar a próxima melhor solução”, disse van Heusden, acrescentando que o acesso a máscaras, testes, licença do trabalho, e especialmente vacinas, é essencial.

“Temos que convencer as pessoas [a se vacinarem]. O segundo problema é de acesso — estamos tendo dificuldade de obter vacinas”, continuou. “Temos de trazer a vacina para perto efetivamente. A informação sobre a eficácia das vacinas tem sido analisada por tantos grupos. A evidência está aí. Esquecemos como é uma campanha de vacinação.”

As vacinas permanecem uma prioridade e a evidência vinda da África do Sul sugere atualmente que aqueles que tomaram duas doses e tiveram uma infecção anterior estão mais protegidos contra a nova variante, disse van Heusden. “Sua proteção contra a infecção pode ser reduzida [na comparação com cepas anteriores do vírus], mas muitas especialistas pensam — e eu concordo com eles — que as vacinas continuam protegendo contra casos graves.”