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Especial 2023: o que esperar do jornalismo digital no próximo ano?

por | dez 23, 2022

Confira o que as associadas à Ajor estão planejando para a produção jornalística em 2023

Empreendedorismo, diversidade e liberdade de imprensa são algumas palavras que vão ser carregadas para 2023. A Ajor (Associação de Jornalismo Digital) seguirá implementando ações de fomento à aceleração digital, auxiliando as organizações associadas na busca de financiadores e no desenvolvimento de projetos inovadores. Já no primeiro semestre, realizaremos a edição nacional e presencial do Festival 3i, após o sucesso da edição Nordeste, no Recife, Pernambuco, em novembro deste ano.

O jornalismo digital também começa o próximo ano com novos desafios: estão em foco a cobertura do novo governo, a mudança no cenário político, a reversão da destruição ambiental, a polarização entre governo federal e governos estaduais, entre outros temas. Mídias independentes, locais e periféricas devem ganhar ainda mais destaque. 

A Ajor conversou com representantes de cinco associadas de diferentes estados e nichos –  Taty Valeria (Paraíba Feminina), Michel Silva (Fala Roça), Fausto Salvadori (Ponte Jornalismo), Rafael Gloria (Nonada Jornalismo) e Maristela Crispim (Eco Nordeste) – para entender o que as organizações estão planejando para 2023 – e os principais desafios e oportunidades para o setor.

 

“Eu começaria dizendo que 2023 nos traz muita esperança. Os últimos anos foram difíceis para quem atua na imprensa, especialmente numa imprensa que prega pela ética, pela verdade dos fatos e que tem como base o respeito aos direitos humanos. Com a mudança no cenário político, a projeção é que os veículos que seguem esses preceitos, possam ter o reconhecimento merecido e consigam furar (pelo menos um pouco) a bolha da grande mídia.

Quanto ao Paraíba Feminina, nosso maior ‘entrave’ hoje diz respeito ao financiamento, ou melhor, a falta dele. Por morarmos e atuarmos num estado em que a imprensa está completamente atrelada ao poder econômico e político, fazer um jornalismo independente te dá bastante visibilidade, mas fecha as portas para os incentivos.

A perspectiva é que com os novos ventos de mudança que já começaram a soprar, possamos encontrar meios de viabilizar nosso trabalho e garantir nossa sobrevivência enquanto portal, mantendo nossa linha editorial e sem tantas amarras.”

―  Taty Valeria, do Paraíba Feminina

 

Acredito que em 2023 as mídias independentes, sobretudo, as mídias periféricas e faveladas, continuarão mostrando a importância do fomento para o jornalismo que é feito sobre e para as comunidades subrepresentadas. Os profissionais que trabalham com jornalismo nesses territórios também são articuladores comunitários e dão um novo sentido ao jornalismo brasileiro. No Fala Roça, por exemplo, a volta da versão impressa segue sendo uma das prioridades porque não levamos apenas informação para os moradores, construímos a relação com a comunidade e potencializamos nossa representatividade no território. O jornalismo digital é um grande aliado da mídia impressa ao invés de ser um algoz. O jornal impresso está longe de acabar.”

― Michel Silva, do Fala Roça

 

A extrema-direita deixou o governo federal, mas continuará presente em outros setores, com ações violentas e contando com a conivência da polícia. O jornalismo precisa aprender a lidar com essa corrente, sem amplificar nem naturalizar suas ideias, mas colaborando para isolá-la e auxiliar no processo de ‘desnazificação’ de que o país precisa. Outro desafio é o de lidar com as plataformas que lucram com nosso trabalho e impõem suas regras a nós, o que será ainda mais impactante com o anunciado derretimento do Twitter.”

― Fausto Salvadori, da Ponte Jornalismo

 

“Para 2023 queremos continuar crescendo e consolidando o nosso olhar decolonial e transversal sobre a cultura, ampliando nossa cobertura em diferentes pontos do país. Pretendemos também intensificar as nossas pautas que relacionam o setor cultural aos direitos humanos e desenvolvimento sustentável. Quanto ao jornalismo digital brasileiro, acreditamos que enfrentaremos desafios, mas as perspectivas são boas, desde que sempre se tenha a ideia de diversidade e ética em nossas rotinas profissionais.”

― Rafael Gloria, do Nonada Jornalismo

 

“Depois de quatro anos de negacionismo, perseguição a ambientalistas, povos tradicionais, jornalistas, mulheres, artistas, pessoas LGBTQIAPN+ reforçados pelo próprio governo, grandes são as expectativas depositadas em 2023 e isso não é diferente com as mídias digitais independentes, que têm lutado para se manter vivas e atuantes contra todas as adversidades. Com o apoio da Ajor, esperamos dar mais passos em direção à sustentabilidade financeira. A Eco Nordeste, particularmente, vem trabalhando incansavelmente neste sentido e espera que 2023 seja o seu ano de virada para a sua consolidação como mídia independente sustentável.”

― Maristela Crispim, do Eco Nordeste

Foto: Morgana Narjara.