Festival 3i 2024: entenda os novos modelos de negócio e a descentralização do jornalismo
As mesas do primeiro dia do evento trouxeram um olhar para a inovação no financiamento do jornalismo e nos modos de cobertura nas periferias e na Amazônia
As mesas do primeiro dia do evento trouxeram um olhar para a inovação no financiamento do jornalismo e nos modos de cobertura nas periferias e na Amazônia
O Festival 3i 2024, que aconteceu entre os dias 13 e 15 de junho, no Rio de Janeiro, foi aberto pela tradicional mesa “Novos caminhos para financiar o jornalismo”, com a participação de Julia Harris, responsável pelo programa de membresia do Daily Maverick (África do Sul), Mauricio Cabrera, criador do Story Baker (México), e Elaine Silva, sócia e diretora da Alma Preta Jornalismo (Brasil). A sessão foi mediada por Carol Monteiro, cofundadora da Marco Zero Conteúdo e presidente do Conselho Executivo Deliberativo da Ajor (Associação de Jornalismo Digital), organizadora do evento.
A cofundadora da Alma Preta, Elaine Silva, explicou como diversificar a receita no jornalismo. “Trabalhei em agências de publicidade e propaganda, era um mundo completamente diferente. Trabalhar no universo de jornalismo de mídia independente é novo para mim, mas que me cativa muito”, contou. Essa trajetória fez com Elaine idealizasse o Black Adnet, uma plataforma da organização que conecta publishers negros a anunciantes.
Ela também enfatizou a importância de um planejamento estratégico que respeite a linha editorial do veículo, além da criação de áreas de gestão e captação de recursos. Na Alma Preta, foi adotada a estratégia de criar esses setores para deixar o editor-chefe focado na produção dos conteúdos.
Já o mexicano Mauricio Cabrera abordou a necessidade de criar relações humanas em um mundo saturado de informações. “Nosso papel não é só tornar visível a informação, mas socializar e gerar utilidade por trás do conhecimento”, pontuou. Para Cabrera,criadores de conteúdo podem ajudar o público a compreender as informações, o que também é uma forma de estimular a interação da comunidade.
Com mais de 15 anos de experiência na indústria de mídia digital, Julia Harris apresentou o Daily Maverick, organização de notícias investigativas da África do Sul com 12 milhões de visitantes mensais. O conteúdo é gratuito e sustentado por 30 mil membros ativos. “Temos a tendência de copiar o que os outros estão fazendo, mas o que funciona para a gente talvez não funcione para o outro. Então, teste, teste sem medo de testar”, aconselhou.
Assista à mesa na íntegra:
Mulheres periféricas na linha de frente do jornalismo local
A mesa que deu o pontapé nas atividades da tarde do primeiro dia do evento revelou a potência do empreendedorismo feminino negro e periférico no jornalismo, mostrando a necessidade de descentralização dos olhares das mídias tradicionais. Nas trincheiras da comunicação em suas comunidades, Ana Muza Cipriano, do PPG Informativo, Martihene de Oliveira, do Sargento Perifa, e Gabrielle Guido, da Entre Becos, se reuniram mesa “Mulheres lideranças de veículos periféricos e locais – fazendo o novo jornalismo”, com mediação de Aline Rodrigues, da Periferia em Movimento.
O PPG Informativo está há 10 anos no meio de comunicação. É um jornal que para além da informação do território do PPG, faz a mediação de conflitos entre os vizinhos. Foram feitas participações de cobertura de imprensa, se aproximando de organizações como o Voz das Comunidades, o Fala Roça, o CDD Acontece e o Voz de Manguinhos. Dez anos sem ajuda de custo para funcionar, Muza também compartilhou o mapeamento dos editais feito por uma voluntária. Ela foi se juntando com outras mulheres para potencializar o que fazem no dia a dia, ajudando os moradores da região.
Autora do livro-reportagem “Urubu Marrom – Relatos de uma jornalista de favela”, a jornalista Martihene de Oliveira é idealizadora do Coletivo Sargento Perifa, que dá visibilidade aos fatos e vivências da comunidade Córrego do Sargento, na zona norte do Recife, em Pernambuco. Além de informar e retratar a localidade para além da abordagem da mídia tradicional, a organização também atua com mais de 20 projetos formados pelos moradores, sendo a Rede Mulheres um dos pilares de mobilização.
Por fim, Gabrielle Guido, da Entre Becos, de Salvador (BA), destacou a importância de um jornalismo que não reforce os estereótipos sobre as periferias. “É necessário compor uma comunicação que possa incluir, que possa contar suas histórias a partir de suas perspectivas sem ser o que já era visto nos jornais”, afirmou. A Entre Becos atua através de uma newsletter quinzenal e garante o direito à informação de qualidade produzida a partir das periferias da capital baiana.
Confira a mesa na íntegra:
A desafiadora cobertura na Amazônia
Última mesa do primeiro dia do Festival, o encontro “Ambiente informacional na Amazônia” contou com a participação dos jornalistas Fábio Pontes, d’O Varadouro (Acre), Vanessa Vieira, do Correio do Lavrado (Roraima), e Mayra Wapichana, consultora em Comunicação Indígena, também de Roraima. A sessão foi mediada por Jessica Botelho, pesquisadora da região Norte no Atlas da Notícia.
Com quase 20 anos de experiência, Fábio Pontes ressaltou a necessidade de um jornalismo amazônico dialogando com a população local. “É o nosso território, então estamos nos apropriando desse legado que jornalistas lá atrás nos anos 70, 80, tiveram a capacidade de fazer”, disse. Pontes relatou coberturas desafiadoras, como a demarcação de terras pelo povo Nawa, destacando os riscos enfrentados devido à violência e ao narcotráfico nas fronteiras com Peru e Bolívia.
Vanessa Vieira apresentou o Correio do Lavrado, que ela co-fundou em 2019. Ela enfatiza a complexidade de fazer jornalismo na Amazônia, com recursos limitados e dependência de editais e premiações. “Como jornalistas amazônicos, a gente tem que estar muito atento ao que está acontecendo. Não temos recursos. A gente consegue essa sustentabilidade por meio dos editais e premiações por um curto período”, afirmou.
Mayra Wapichana, jornalista indígena e consultora em comunicação, discutiu a importância da comunicação indígena baseada na coletividade e no protagonismo. “A comunicação indígena traz o olhar da produção indígena, trabalhando a comunicação interna e externa, e a visibilidade das pautas, como o território e mudanças climáticas”, destacou. Ela também denunciou os problemas da região, como desmatamento, mineração ilegal e hidrelétricas.
Veja a mesa completa:
*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2024 com PUC-Rio, ESPM-Rio e Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha).
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