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InfoAmazonia une veículos amazônicos para enfrentar deserto de notícias socioambientais

por | fev 23, 2023

Projeto Rede Cidadã mapeou organizações nos nove estados da Amazônia Legal para instigar coprodução de reportagens

“Exclusivo: remédios do SUS para combater malária entre os Yanomami foram desviados e são vendidos por garimpeiros ilegais na internet”. Essa foi a manchete de uma das principais notícias sobre situação do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A investigação, feita pela organização associada à Ajor InfoAmazonia em parceria com o site Vocativo, é resultado do projeto Rede Cidadã InfoAmazonia, que conecta comunicadores locais e mídias regionais da Amazônia Legal.

“É nessa linha que queremos trabalhar: coproduzir cada vez mais reportagens com quem está atuando diretamente na Amazônia”, afirma Débora Menezes, coordenadora do projeto. “O InfoAmazonia utiliza dados aprofundados e mapas para contar histórias sobre a Amazônia e as parcerias têm acesso a narrativas e personagens locais que talvez não conseguiríamos sozinhos.”

O primeiro passo da Rede Cidadã foi a elaboração do Mapa Vivo de Mídias da Amazônia, com dados dos veículos de comunicação dos nove estados da Amazônia Legal que abordam temas socioambientais. O levantamento foi feito a partir de bases de dados e coletas complementares, identificando conteúdos sobre meio ambiente publicados durante janeiro e dezembro de 2021.

O Norte do país é a região que lidera em “desertos de notícia”, termo utilizado pelo estudo “Atlas da Notícia” para designar municípios sem nenhum veículo jornalístico em atuação. Com base em dados de fevereiro de 2022, há 1.107 meios de informação nos sete estados. Quando se inclui Maranhão e Mato Grosso para completar a Amazônia Legal, o número de iniciativas jornalísticas passa para 2.158, que, em sua maioria, estão nos grandes centros urbanos. Para se ter ideia, apenas no estado de São Paulo, há 2.685 veículos cadastrados no Atlas.

Se já há um deserto informativo na região, quando se trata de cobertura socioambiental, o vazio é ainda maior. O mapeamento do InfoAmazonia mostrou que apenas 282 meios de comunicação nos nove estados abordaram o tema em 2021. Destes, somente 20% têm uma editoria ou seção especializada em meio ambiente.

“Embora esteja na mídia o tempo todo, a temática socioambiental é difícil de emplacar com o público, ainda mais no interior. Não tem muito interesse, é bem contraditório”, aponta Menezes. Ela enumera alguns fatores que explicam essa baixa procura, como dificuldade de acesso à educação, questões políticas e o desafio de escrever reportagens ambientais em linguagem acessível. Nesse sentido, ONGs com atuação socioambiental também se tornaram produtores de notícias, além de projetos de comunicação comunitária. 

Os frutos da colaboração já são sentidos nas mídias locais. É o caso do Tapajós de Fato, veículo de Santarém, no Pará. “A Rede Cidadã vem em um momento importante para a gente, em que buscamos estar mais conectados com outras organizações. De algum modo, nos instiga a sair da nossa rotina para construir pautas em outros espaços e a continuar processos que foram interrompidos. Isso tem um peso muito grande para o Tapajós de Fato, principalmente no apoio e disposição dados”, conta Marcos Wesley, cofundador do veículo.

Segundo Menezes, a rede está em fase de entrosamento entre os veículos e também de planejamento para a continuidade da iniciativa, que se deu a partir do apoio inicial da Fundação Porticus.

 

Foto: Vinícius Mendonça/Ibama.