InternetLab lança relatório que visa compreender como as desigualdades estruturais da sociedade brasileira se manifestam quando pensamos em sustentabilidade de mídias

Por Ajor ago 20, 2024

Quase metade das organizações ouvidas é composta por associadas à Ajor

* Stephanie Lima, Francisco Brito Cruz, Ester Borges, Iná Jost, Victor Pavarin, do InternetLab

Nos últimos anos, as transformações do jornalismo são evidentes especialmente pelos desafios que estas representam para o setor de comunicação como um todo. Das mídias tradicionais aos novos formatos de fazer jornalístico, é possível observar mudanças drásticas na produção, distribuição e consumo de informações, sobretudo em razão da popularização das tecnologias digitais e grandes plataformas de mídias sociais.

O relatório “Sustentabilidade de Mídias Independentes no Brasil”, recentemente publicado pelo InternetLab, tem essas mudanças como ponto de partida. O estudo examina as barreiras e desigualdades estruturais da sociedade brasileira, destacando a importância das mídias independentes para a democracia e os direitos humanos, assim como as principais dificuldades enfrentadas por esse setor em meio às transformações na comunicação.

A expansão do acesso à internet representou um desafio para as mídias tradicionais, mas também abriu espaço para a criação de novas mídias e formatos de jornalismo. Políticas de acesso ao ensino superior também impactaram as dinâmicas jornalísticas. Ocorre que, apesar desse contexto ter promovido maior diversidade de vozes, as mídias independentes ainda enfrentam grandes obstáculos para garantir sua sustentabilidade e consolidação.

Nesse contexto, o relatório tem dois objetivos principais: oferecer um diagnóstico inicial sobre a sustentabilidade das mídias independentes no Brasil, com ênfase no direito à comunicação de populações historicamente marginalizadas; e, a partir de entrevistas com interlocutores e coleta de dados, sugerir contribuições para uma agenda multissetorial que fortaleça esses atores.

A análise parte de uma indagação: quais foram as principais mudanças e dificuldades no jornalismo independente nos últimos 10 anos? Para explorar essas questões, o relatório adota uma abordagem multi-métodos, incluindo entrevistas semi-estruturadas com profissionais e organizações da comunicação, jornalismo e filantropia, além da coleta e análise de dados públicos e de iniciativas privadas de financiamento de mídias independentes.

A fase preliminar da pesquisa envolveu um seminário com profissionais de comunicação que atuam em mídias focadas em questões raciais, indígenas e periféricas/territoriais. O objetivo do encontro foi compreender os desafios e estratégias para construir um caminho sustentável e plural na produção de jornalismo no Brasil. O relatório também conta com um glossário com definições de categorias usadas para classificar o campo e os veículos entrevistados ou mencionados pelos interlocutores.

Um apontamento importante dos entrevistados no estudo é que o Estado e a filantropia ainda não conseguiram desenvolver mecanismos eficazes para garantir a sustentabilidade das mídias negras, indígenas e periféricas/territoriais. O relatório evidencia a falta de políticas para o financiamento sustentável desses veículos, o que demanda a criação de dispositivos legais de ações afirmativas que fortaleçam as mídias independentes.

Além disso, apesar de o setor filantrópico privado ter se tornado o principal financiador das mídias independentes no Brasil, é comum que nesse campo o jornalismo seja visto de forma instrumental – e, assim, integrado transversalmente em agendas programáticas. Essa visão instrumental do jornalismo estabelece uma relação entre filantropia e organizações jornalísticas, focando em pautas e temas de interesse institucional.

A partir da sistematização das falas dos nossos interlocutores, elencamos 4 pontos que podem contribuir para o fortalecimento da sustentabilidade das mídias independentes: i) criação de uma política de Estado para sustentabilidade do jornalismo de interesse público; ii) marco de regulação de plataformas que contemple a criação de um fundo público; iii) criação de um fundo filantrópico específico para o jornalismo; iv) fortalecimento de redes de mídias negras, indígenas e periféricas/territoriais, em um processo por meio do qual as organizações possam dialogar e se formar coletivamente.

Esse relatório é parte de agenda de pesquisa mais ampla do InternetLab focada na relação entre internet, equidade no acesso ao conhecimento e acesso à informação. Além deste estudo, o InternetLab tem abordado diversos desafios impostos pelas transformações no jornalismo e oferecido insumos sobre o tema para diferentes atores que compõem esse ecossistema.

Confira o relatório completo.

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