Monitoramento de ataques à imprensa

Por Ajor set 06, 2024

Durante o período eleitoral deste ano, a Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor), articulação composta por 11 organizações da sociedade civil da qual a Ajor (Associação de Jornalismo Digital) faz parte, fará o monitoramento de ataques ao trabalho da imprensa na cobertura do pleito, com relatórios publicados semanalmente.

Após rigorosa análise e com base no histórico de violência contra à imprensa, a Coalizão selecionou nove capitais para o monitoramento digital: Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Belém (PA), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE), Maceió (AL) e Cuiabá (MT).

A Coalizão conta com a parceria do Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que coletará dados, ao longo de 12 semanas – do início da campanha em 16 de agosto até o fim do segundo turno – de cerca de 200 contas de jornalistas, organizações jornalísticas e candidatos às prefeituras. Entre os monitorados estão organizações associadas à Ajor e profissionais que integram suas equipes. Serão observadas também expressões específicas que remetem a algum tipo de violência ou discurso estigmatizante contra a imprensa no X (antigo Twitter) e no Instagram.

Confira os relatórios:

Relatório 15/08 a 28/08

O monitoramento das redes sociais nas duas primeiras semanas da campanha eleitoral brasileira de 2024 mostra um quadro de disseminação e banalização de ataques a jornalistas e meios de comunicação em todo o país. Somente na plataforma X (antes de seu bloqueio no Brasil), entre 15 de agosto, véspera do início da campanha, e 28 de agosto, mais de 30 mil postagens ofensivas ou associadas a discursos depreciativos contra a imprensa foram publicadas. O número corresponde a posts agressivos mencionando jornalistas e meios de comunicação e comentários feitos em seus perfis. Hashtags de ataque ao jornalismo publicadas em toda a rede também foram contabilizadas.

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Num período marcado pelo início de sabatinas e entrevistas nos veículos, a análise demonstra um padrão de hostilidade especialmente direcionado aos meios de comunicação do Grupo Globo. A hashtag #globolixo, que ganhou capilaridade nas eleições presidenciais de 2022, apareceu em 3.876 posts. Outras ligadas ao grupo também foram registradas no período: #foraglobolixo (101 menções), #globosta (87), #globolixoooo (53), #globonewslixo (41) e #desligaaglobo (31).

Vale destacar as interações entre contas que postaram a #globolixo e outras de ataque ao trabalho da imprensa com hashtags do campo da política, como #forapt, #esquerdaimunda, #abaixocomunismo e #esquerdalha. Tais interações refletem uma narrativa que vincula a atuação jornalística a uma suposta defesa da esquerda e do Partido dos Trabalhadores (PT), sugerindo que alguns veículos estariam alinhados ideologicamente a esse espectro político.

A seguir, alguns exemplos de posts publicados dentro dessa lógica, nos marcos da cobertura eleitoral das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis:

“Pablo Marçal: O PT é uma facção criminosa. Daniela Lima: CANDIDATOOO Pablo da próxima vez pega mais leve para não deixar a Daniela Lima tão nervosa! Afinal falar mal do PT na Globo Lixo pode atrasar o PIX.”

“Gente não acredite em nada que esse gabinete da ousadia (Globo Lixo) fale contra os candidatos do Bolsonaro!! ALÔ Rio de Janeiro vamos de Ramagem. Lembre-se da covardia que fizeram contra ele no Governo Bolsonaro! querem um Rio seguro? RAMAGEM”

“Esse cara é o dono da Globolixo em SC o grupo NSC. Estão fechados com lula e os quadrilheiros. Não por acaso escondem e manipulam notícias desfavoráveis ao governo do ladrão mas não exitam em detonar políticos e apoiadores da direita.”

A hashtag #jornalixo apareceu 127 vezes, seguida por #vejalixo, com 87, e #cnnlixo, com 59.

Entre os perfis jornalísticos que receberam ataques diretos no X estão @globonews (1.487), @oglobopolitica (256) e @jornaloglobo (162) (pertencentes ambos ao jornal O Globo), @cnnbrasil (177), @veja (176) e @folha (115).

Já os/as jornalistas mais agredidos no X no período deste relatório foram Andreia Sadi (101), Daniela Lima (93), André Trigueiro (79) e Guga Chacra (61), todos do Grupo Globo.

Os principais agressores no X

Os usuários do X que mais utilizaram tags e termos de ataque à imprensa no período foram @lfsdogogo, @cesarcascos, @marco_cfn, @direitaBRAunida e @patriam777. Em suas descrições de perfis aparecem apoios ao ex-presidente Jair Bolsonaro e bandeiras do Brasil. Um dos perfis, de um militar na reserva, traz a foto de um treinamento de tiro. Outro fala da “Ditadura Socialulista da Toga” e exalta que a “direita conservadora está avançando no mundo onde há liberdade de escolha e não o maldito comunismo que destrói nações”. Os perfil dos agressores reforçam a análise de que, no espectro político-ideológico, os ataques à imprensa partem prioritariamente de pessoas que se consideram de direita.

Ataques à imprensa no Instagram

A análise feita nas publicações dos candidatos às eleições de 2024 no Instagram revela uma baixa quantidade de ataques diretos a jornalistas específicos ou meios de comunicação. Porém, há uma generalização do tratamento ofensivo à imprensa para gerar a autopromoção das candidaturas. Foram registrados na rede 90 postagens ofensivas ou estigmatizantes no período analisado.

O candidato à prefeitura de Porto Velho, Dr. Benedito Alves (Solidariedade) foi o único, entre os monitorados nas nove capitais abarcadas no levantamento, a direcionar críticas à imprensa. Ele fez isso em três de suas postagens, onde se diz vítima de “fake news”: “NÃO ACREDITE EM FAKE NEWS! Estão tentando nos derrubar a toda maneira”, declarou num post em que exibe prints de matérias jornalísticas. De acordo com o candidato, os veículos de comunicação estariam distorcendo informações para prejudicá-lo.

A abordagem, adotada por diferentes campanhas, reflete uma estratégia sutil de descredibilização da imprensa: mantém a ambiguidade ao evitar confrontos diretos, mas reforça a narrativa de perseguição para fortalecer sua imagem pública frente a seus eleitores.

Considerando os jornalistas atacados no Instagram, o comentarista político Reinaldo Azevedo foi alvo de comentários agressivos ao publicar uma matéria sobre uma pesquisa do Datafolha com os números dos candidatos à prefeitura de São Paulo, na qual citou o candidato Pablo Marçal (PRTB). Os internautas o chamaram de “bandido” e sugeriram que Reinaldo Azevedo não deveria expressar sua opinião: “Saudades de quando repórteres se manifestavam para informar, não para dar sua opinião”. Muitos associam a imagem de Reinaldo à esquerda como justificativa para atacá-lo.

O jornalista Ricardo Noblat também foi alvo de críticas no Instagram por sua postura profissional e em sua integridade pessoal. Em um comentário, Noblat foi descrito como “a escóri@ do jornalismo”. Em outros, foi chamado de “vovó Mafalda” e acusado de envergonhar sua família, além de ter sido chamado de “mal caráter” e “jornazista”.

Ataques fora das redes

Em Vilhena/RO, o jornalista Paulo Andreoli, do Rondônia ao Vivo, e o blog Entrelinhas receberam um ofício da Polícia Federal pedindo os nomes dos responsáveis por uma reportagem sobre o prefeito da cidade, o ex-delegado da PF, Flori Cordeiro de Miranda Junior, que busca a reeleição. Ele foi eleito pelo Podemos em 2022 tirando fotos com uma AR-15 nas mãos. A reportagem tratava da falta de quitação eleitoral, que poderia deixar o candidato fora do pleito, e o requerimento serviria para instruir uma investigação policial. Os jornalistas afirmam que o prefeito usou a PF para intimidar seu trabalho.

Em São Bernardo do Campo/SP, o repórter Artur Rodrigues, do Diário do Grande ABC, foi interpelado no dia 21 de agosto pelo vereador Paulo Chuchu (PL) sobre em quem votaria para a prefeitura. Rindo e mostrando sua pistola na cintura, o vereador ameaçou o jornalista, alertando-o para ter cuidado com o que responderia.

Relatório 29/08 a 04/09

O segundo relatório de monitoramento de ataques on-line contra a Imprensa nas Eleições de 2024, que cobre a terceira semana de campanha eleitoral (29 de agosto a 4 de setembro), mostra uma alteração importante no volume de publicações ofensivas coletadas no período, devido à determinação pelo STF de suspensão do X em todo território nacional, concretizada no último dia 31. Nos dois dias de monitoramento antes do bloqueio, foram mapeados 3.702 posts ofensivos / ataques a jornalistas e meios de comunicação no X. Já no Instagram, foram 1.314 nos sete dias monitorados.

Porém, embora o volume de publicações ofensivas tenha caído em comparação ao primeiro relatório, o padrão dos ataques a jornalistas e meios de comunicação se mantém, com uso de hashtags ofensivas e termos chulos visando a desqualificação tanto do profissional de imprensa como do veículo no qual ele/a trabalha.

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O tema que dominou as redes sociais brasileiras neste período foi justamente o bloqueio do X, com críticas fortes ao posicionamento de jornalistas que cobriram a medida do STF. Os mais visados, na própria plataforma, foram Andréia Sadi (67 ataques), André Trigueiro (30), Karina Michelin (16) e Camila Bomfim (13). No Instagram, os jornalistas mais atacados na semana foram Vera Magalhães e Leonardo Sakamoto, ambos sendo alvo de 35 postagens ofensivas cada. Abaixo, alguns exemplos dos posts:

“A militante hipócrita @AndreiaSadi disse que o X virou uma rede social tóxica. A pergunta é porque vocês ainda mantém a contém de vocês nessa rede social ainda já que é Tóxica? Única coisa Toxica no X é esse jornalismo lixo que vocês fazem e mentem. Eu desafio você…”

“@karinamichelin Jornalista militante não tem vergonha de mentir mas tem vergonha de ver as críticas e desprezo do Brasil.”

“@reinaldoazevedo Você é uma vergonha. Jornalista com rabo preso com político e juíz não é respeitado”

“@leonardosakamoto sa-fa-do jornalista de aluguel”

“Essa Daniela Lima é sem dúvidas a maior pros7i7uta do jornalismo brasileiro”

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Os ataques aos meios de comunicação no X também mantiveram o padrão intenso de hostilidade direcionado principalmente aos veículos do Grupo Globo, a partir do uso de hashtags como #globolixo (678 menções), #globosta (40) e #desligaaglobo (9). Outras hashtags que se destacaram foram #jornalixo (27), #cnnlixo (12), #vejalixo (6), #imprensalixo (6) e #midialixo (6).
Entre os veículos que sofreram ataques estão GloboNews (324), O Globo (31), CNN (25), G1 (22), Veja (16), O Estado de S.Paulo (12), Jovem Pan (11) e UOL (11). No Instagram, os principais alvos do período foram: GloboNews (128), O Estado de S.Paulo (127), Folha de S.Paulo (74) e O Globo (56). Abaixo alguns exemplos de postagens:

“@GloboNews @juliaduailibi Sério globolixo.. vcs ultrapassam todos os limites de serem fdp.. não sei como conseguem chegar em casa e olhar para seus filhos.. vocês são muito lixo…”

“@CNNBrasil A imprensa vermelha vulgo: relações públicas do Luladrão e do Xandão. Correndo desesperadamente para tirar o foco da merda que o Alexandre de Moraes fez. Pra quem entende essa situação é mais que corriqueira.”

“@JovemPanNews #jovempanlixo abaixou as calças pro sistema. So bunda mole se esquerda nessa emissora 😔”

“O mais impressionante é que até o ser humano mais analfabeto tem interpretação de texto melhor que os jornalistas da @folhadespaulo…”

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Violência na TV, no rádio e nas redes

No período deste relatório, teve início a propaganda eleitoral obrigatória no rádio e TV e a continuação das sabatinas e entrevistas feitas por veículos de comunicação. Uma das entrevistas que mais gerou repercussão foi a do candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) no programa Roda Viva, da TV Cultura, no dia 2/09. A entrevista desencadeou uma série de ataques nas redes contra jornalistas que compunham a bancada do programa, em especial contra a repórter da Agência Pública Amanda Audi, a colunista do jornal O Globo Malu Gaspar e o diretor de redação do Alma Preta, Pedro Borges. Borges foi vítima de ofensas racistas perpetradas por seguidores do candidato, recebidas inclusive por mensagens diretas no Instagram.

A repórter Amanda Audi também foi alvo de ofensas do deputado estadual Denian Couto (Podemos/PR), apoiador do candidato Pablo Marçal. Ele usou seu canal no YouTube e o programa que tem em uma emissora de rádio para atacar a jornalista, referindo-se a ela como “semianalfabeta” por sua participação no Roda Viva.

Os principais agressores no X

Antes do bloqueio do X, foi possível mapear os perfis que mais utilizaram tags ou termos ofensivos à imprensa associadas a menções diretas a veículos de comunicação e jornalistas. Segundo o Labic-Ufes, responsável pelo monitoramento, essa prática faz parte de uma estratégia para impulsionar tags, utilizada para aumentar a sua visibilidade, tornando os ataques mais disseminados e amplificando seu alcance dentro da rede.

Ao associar as tags a figuras da mídia, esses usuários buscam fortalecer a narrativa de deslegitimação da imprensa e dos profissionais envolvidos. Os 10 usuários que mais publicaram ataques no período foram: @jacksontoledo6, @amaralina0866, @francisvalim, @marizmarcella, @scheilafratho, @sidneybeff, @gareth_rocha, @busch_novo, @nunomusik e @patriam777.

Além dos ataques à imprensa, as hashtags mais mobilizadas por esses usuários incluem #STFOrganizacaoCriminosa, #ForaLulaJá, #ForaLulaLadrão, #ForaLulaLadrao e #ForaLulaeSuaQuadrilha. As postagens revelam uma convergência de críticas direcionadas tanto à imprensa quanto a figuras políticas de destaque no país. Cinco dos dez principais agressores incluem na apresentação de seus perfis bandeiras do Brasil e menções ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à “ditadura do STF”.

Ataques fora das redes

O período foi marcado também por ataques a jornalistas fora das redes. No dia 29 de agosto, em Manaus/Amazonas, foi registrado um episódio de agressão física contra o repórter Adriano Santos, do Radar Amazônia. Santos estava tentando questionar o prefeito da cidade, David Almeida (Avante), sobre possível crime eleitoral cometido no local, quando foi atingido por um golpe do seu segurança, identificado como tenente Renato Araújo Mota, que tentou arrancar o microfone da mão do jornalista.


Relatório 05/09 a 11/09

Com o avançar do período eleitoral e a sequência de debates, entrevistas e inserções dos candidatos nos meios de comunicação, têm se multiplicado também ataques aos jornalistas que protagonizam as mediações ou tecem análises sobre as candidaturas. O destaque desta semana são as agressões realizadas por apoiadores de Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo.

Com o bloqueio do X no Brasil, as principais agressões na web têm sido feitas no Instagram, rede social que contabilizou, no último período da análise (5 a 11 de setembro), um total de 119 postagens com ataques a jornalistas e comunicadores. Muitas dessas agressões são produzidas após a participação de candidatos em debates, como é o caso do episódio de violência contra a jornalista Vera Magalhães, comentarista do Viva Voz, na Rádio CBN.

No dia 5 de setembro, Vera Magalhães comentava o resultado da pesquisa Datafolha que apresentava aumento de quatro pontos percentuais na rejeição de Pablo Marçal, em São Paulo, chegando a 38%. A informação motivou uma escalada de ataques contra a jornalista, colocando a profissional na segunda posição do ranking dos mais agredidos, com o total de 34 ofensas diretas. O post da CBN nesse dia chegou a mais de 4.000 curtidas e cerca de 1.500 comentários, muito mais do que a média do perfil da emissora no Instagram.

Outro jornalista que sofreu ataques diretos no último período analisado foi Leonardo Sakamoto, que produz diariamente análises políticas para o Portal UOL, com 6 ataques. Ao divulgar os resultados da pesquisa eleitoral dos candidatos à Prefeitura de São Paulo, acabou atraindo eleitores do candidato Pablo Marçal, que nos comentários da publicação afirmavam que o candidato do PRTB estava conquistando muitos eleitores apesar da mídia.

Enquanto os termos mais usados para ofender a jornalista Vera Magalhães e seu veículo foram jornalistas militantes, infantil, imprensa podre e militante e comunista, os usados para desqualificar o trabalho de Leonardo Sakamoto e da imprensa foram mídia podre, jornalismo tendencioso, extrema imprensa e imprensa militante. Os comentários eram seguidos por expressões de apoio ao candidato Pablo Marçal.

Além de Vera Magalhães e Leonardo Sakamoto, outros jornalistas bastante atacados no Instagram foram Lauro Jardim (5), Andreia Sadi (4), Octavio Guedes (4), entre outros. Já os veículos com maior número de ataques foram Rede Globo (60 ataques) e Rádio CBN (34).

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A ofensiva dos apoiadores de candidatos de extrema direita sobre a grande mídia é fenômeno relativamente novo, que tem se intensificado na última década. Vem sempre acompanhado de uma postura anti-imprensa e antidemocrática exercida pelos próprios candidatos (ou mandatários) que representam esse segmento político. Um dos casos recentes é o ataque de Pablo Marçal ao jornalista Josias de Souza, durante debate realizado pela TV Gazeta.

Embora com volume muito menor no último período analisado, em função do bloqueio ordenado pelo ministro Alexandre de Moraes, também foi possível mapear agressões contra jornalistas e comunicadores na plataforma X, onde foram encontrados 39 posts ofensivos/ataques a jornalistas e meios de comunicação. Diferente do Instagram, o mapeamento nessa rede se deu entre os dias 1º e 11 de setembro.

No X, os ataques foram maiores às empresas do que aos jornalistas. Os perfis mais atacados diretamente na plataforma nos onze dias de campanha foram: Rede Globo (6 ataques), Folha de S.Paulo (3), UOL (2) e Fernão Mesquita (2) e Paulo Figueiredo (1). É possível que essas postagens tenham sido realizadas por usuários que continuaram postando no X utilizando VPNs, acessando de regiões onde o bloqueio não foi efetivo ou postando de fora do país.

As hashtags mais utilizadas foram #globolixo (58 menções) e #midiapodre (34). Outros termos para desqualificar jornalistas e imprensa foram: militante(s), vergonha e podre.

O resultado dessa coleta mostra que o bloqueio do X foi decisivo na diminuição dos ataques a jornalistas durante o período monitorado, o que comprova que a rede vinha se tornando um ambiente digital particularmente hostil à prática jornalística e à liberdade de imprensa. E, assim como visto no Instagram, grande parte dos ataques no período de análise foram proferidos por apoiadores e candidaturas ligadas à extrema direita no Brasil. Abaixo, alguns exemplos das postagens com ataques no X:

@fernaolmesquita Não apoio e não voto em Marçal meu norte é Bolsonaro. Mas Intercept é jornalismo CANALHA de militância sem caráter. Foram até lá e não entrevistaram NINGUÉM? Não perguntaram a ninguém sobre o projeto ou sobre Marçal? Não mostraram nenhuma das casas construídas p dentro ou fora?

@FIGHTZINCLUB Jornalista Brasileiro tem tudo que ser tirado pra merda como marçal faz não tem como respeitar essa corja

Abaixo, alguns exemplos de comentários com ataques postados no Instagram:

A rejeição não existe. Esse comentário é palpite pessoal. Hoje é assim, jornalista dá opinião própria e não notícia. Modo operante de esquerda. Divulgação de conteúdo mentiroso para que vire verdade fake.

Vc é muito infantil prá ser jornalista e logo fazer perguntas pro Pablo Marçal, vc passou vergonha cara é inteligente enquanto vc é meia comunista só levou taca

Ataques fora das redes

Fora das redes sociais, jornalistas seguem sendo alvos de ataques, discursos hostis e, inclusive, agressões físicas.

Embora fora do período de monitoramento deste boletim, a equipe da Coalizão teve acesso nesta semana a um caso ocorrido no dia 04 de setembro, em Guarabira, no estado da Paraíba. A candidata à prefeita Léa Toscano (União Brasil) se recusou a participar de um debate eleitoral municipal promovido pela TV Mídia. Ela se opunha à mediação feita pela jornalista Michele Marques, com um discurso contra a credibilidade da jornalista, acusando-a de ser parcial. A jornalista e o veículo explicaram que desde 2012 realizam esse trabalho de maneira profissional e nunca tinham sido questionados dessa maneira. Por caracterizar um discurso estigmatizante de uma candidata contra a imprensa, o caso foi registrado pelo monitoramento da Coalizão.

No dia 9 de setembro, uma equipe da TV Norte Amazonas – SBT Manaus, composta pelo repórter Gabriel de Abreu Lima e pelo repórter cinematográfico Alan Glesseir, foi hostilizada e ameaçada durante comício da candidata à reeleição, Patrícia Lopes, no município de Presidente Figueiredo (AM). A agressão foi protagonizada por seguranças da prefeita no momento em que foi questionada sobre os contratos sem licitação na gestão municipal.

Relatório 12/09 a 18/09

A principal novidade do quarto relatório da Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) sobre violência online contra jornalistas e veículos de comunicação no período eleitoral brasileiro foi a inclusão do TikTok no monitoramento. De 12 a 18 de setembro, foram acompanhados nessa rede 17 perfis e selecionados 596 termos ofensivos usados para a coleta e filtragem das publicações, totalizando quase 160 mil postagens analisadas, que resultaram em 491 ataques à imprensa. Os dados colocam a rede, proporcionalmente, no topo das mais utilizadas para hostilizar a imprensa. Para efeito comparativo, nesse mesmo intervalo, o Instagram, com 50 vezes mais contas monitoradas, foi palco de 1.193 ataques, pouco mais que o dobro do TikTok. Já o X registrou apenas 48, lembrando que a rede do bilionário Elon Musk segue bloqueada no Brasil desde 31 de agosto sob ordem do Supremo Tribunal Federal.

O número de canais monitorados nesta semana foi expandido, totalizando 868 no Instagram e 451 no X, além da inclusão dos 17 canais de meios de comunicação no TikTok. A quantidade de termos ofensivos foi ampliada, chegando a 596 nas três redes sociais e incluindo expressões mais sutis, como “Verinha” (referência à jornalista Vera Magalhães), “Mafalda” (usada para atacar o jornalista Ricardo Noblat) e “caiu o pix” (sugestão de suposta corrupção). O objetivo dos ataques segue o mesmo: estigmatizar jornalistas e veículos e descredibilizar o trabalho da imprensa na cobertura das eleições municipais.

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A eleição à prefeitura de São Paulo dominou as redes nessa quarta semana devido à cadeirada desferida pelo candidato José Luiz Datena (PSDB) no também candidato Pablo Marçal (PRTB) durante um debate na TV Cultura, no dia 15 de setembro. Esse incidente violento gerou uma grande quantidade de postagens e comentários, incluindo a cobertura da agressão pela imprensa. Dois jornalistas se destacaram por terem sido alvos de ataques nesse período: Pedro Meletti, que apresentou uma Cronologia da Cadeirada na CNN, e Diego Sarza, do UOL, que se envolveu em uma discussão com Pablo Marçal enquanto cobria o debate da RedeTV!, realizado no dia 17 de setembro.

Meletti foi acusado por apoiadores de Marçal de fazer “jornalismo militante” e de tentar justificar a cadeirada. “Justificar agressão foi demais pro jornalismo militante”, “Jornalismo está de péssimo a pior” e “Jornalismo abre a boca sai merda” foram alguns dos comentários ofensivos recebidos por Meletti no perfil CNN Política no Instagram. O jornalista liderou a lista no período monitorado com 208 ataques, seguido por Sarza, com 168.

O repórter do UOL foi atacado depois de pedir uma declaração a Marçal quando ele chegava para o debate na RedeTV!. Ao reportar ao vivo a negativa do candidato em falar com a imprensa, Sarza foi interrompido por Marçal e os dois discutiram. Apoiadores do candidato criticaram a postura do jornalista no perfil do UOL no Instagram, chamando-o de “militante” e “parcial”.

Ainda no Instagram, reverberando os ataques a Meletti e Sarza, os perfis de veículos mais atacados foram os do UOL, com 451 comentários, o da CNN Política, com 194, e o da CNN Brasil, com 193. Termos como “mídia podre” e “jornalismo imparcial” e “imprensa vendida” foram usados para tachar esses veículos e também a imprensa de modo geral. Os comentários, como sempre, pesaram a mão no uso de termos ofensivos, assim como as hashtags. As mais usadas no período foram #ripjornalismo e #imprensahipocrita.

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Também se observou no período a recorrência da palavra lixo associada a veículos de imprensa, como #bandlixo, #uollixo, #folhalixo e #tvculturalixo, como já acontece faz tempo com a Rede Globo. Aos já conhecidos “globolixo”, “globo tendenciosa” e “globosta”, os internautas acrescentaram “globe”, termo que poderia estar ligado, de forma debochada, ao uso de pronomes neutros muitas vezes associados a atores da esquerda e aos ditos “militantes”.

No TikTok, os veículos mais atacados foram Metrópoles, com 199 comentários, UOL, com 107, e Folha de S.Paulo, com 36. Alguns exemplos de comentários:

@andrefagundes746 – A mídia quer destruir Pablo marcal meu voto dele ! Armadilha mídia ! Mídia suja !

@vitor.bulhes5 – Folha de São Paulo é o pior portal de notícias do Brasil !! Só esquerdistas tóxicos e sensacionalistas e totalmente parcial para os que não os convém!!!

Outros ataques

Apesar de ter ocorrido um dia antes do período de monitoramento, em 11 de setembro, foi registrado o caso da jornalista Cláudia Carvalho, do portal ParlamentoPB. Depois de postar sobre propostas do candidato a vereador de João Pessoa Moisés Mota (Solidariedade) que envolvem criar o “maior parque pet do Brasil”, entre outras, Cláudia recebeu mensagens diretas do candidato insinuando que ela deveria estar trabalhando na “assessoria política de algum vereador”.

Em 16 de setembro, o repórter Bruno Martins, do Jornal Ouvidor, foi alvo de ameaça por telefone feita pelo vereador Marcos Felipe de Oliveira Barbosa (União Brasil), de Santa Isabel (SP), conhecido como Marcos Cannor. O vereador se irritou com uma reportagem do jornalista sobre um incêndio ocorrido em sua propriedade. Segundo Martins relatou no boletim de ocorrência registrado na polícia, Cannor teria ligado para ele e dito: “Espero que você esteja gravando isso, ou você arruma essa sua matéria, ou eu vou entubar em você”. Posteriormente, enviou mensagens de texto ao repórter, classificando o jornal como “lixo” e seus profissionais como “vermes”.

Relatório 19/09 a 25/09

O quinto relatório de monitoramento da Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) traz um dado alarmante sobre o contexto de violência contra jornalistas durante o período eleitoral brasileiro de 2024. Com a suspensão do X por decisão do STF desde 31 de agosto, os ataques contra jornalistas têm se intensificado em outras redes sociais. Os dados observados nesta semana mostram que o TikTok está se consolidando como um espaço caracterizado por ataques contra o jornalismo, confirmando a preocupação levantada no relatório passado.

Só no período deste relatório —de 19 a 25 de setembro—, houve 2.885 ataques à imprensa no Tik Tok. Em comparação, no Instagram, rede também monitorada pela CDJor, foram identificados 967 ataques no mesmo período. No Instagram foram monitorados 196.591 posts e comentários, número bem próximo ao do TikTok, com 200.347 postagens.

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No X foi identificada uma quantidade residual de ataques: um total de 18 postagens ofensivas contra a imprensa no período. O acesso está proibido em território nacional, mas algumas das contas que realizaram esses ataques têm conseguido burlar a decisão judicial com o uso de aplicativos de VPN. Algumas das hashtags utilizadas no X foram #globolixo, #emissoralixo, #globodefendebandido e a mais compartilhada, #jornalistadestrutivo.

O soco que um integrante da campanha de Pablo Marçal (PRTB) deu em um assessor de Ricardo Nunes (MDB) ao final do debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, no dia 23 de setembro, foi a principal causa de uma série de ataques a jornalistas e veículos de imprensa nos dias seguintes. O principal alvo dos ataques no Instagram e no TikTok foi o jornalista Carlos Tramontina, que conduzia o debate organizado pelo grupo Flow. No Instagram, os ataques contra Tramontina apareceram frequentemente seguidos das hashtags #jornazista e #parcialidade. Veja alguns exemplos de postagens:

@celioqualidade – O Pseudo Jornalismo também tem que aprender ser imparcial, os Candidatos devem aparecer e não o Jornalista.

@adrianabataglini1974 – Absurdo o que fizeram com o Marçal, jornazista um verdadeiro compro.

@giseldadefranca – Despreparo de um jornalista junto com a parcialidade pode causar…. Debate fraco e incoerente…..

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As hashtags utilizadas para atacar veículos de imprensa nas redes focam, em grande medida, em ataques à Rede Globo. Hashtags usadas no Instagram como #globolixo e #globofakenews, insinuando que os veículos do Grupo Globo produzem desinformação, são encontrados em postagens violentas contra a imprensa. O grande número de ataques direcionados à emissora carioca e suas subsidiárias indica que a organização é tida por quem ataca como um ícone do ecossistema midiático. Ainda assim, no período de 19 a 25 de setembro, os veículos que mais sofreram ataques foram Metrópoles, seguido por UOL e G1. Folha e CNN completam o ranking em quarto e quinto lugar, respectivamente. Algumas expressões utilizadas por quem ataca afirmam que a imprensa não é isenta na sua cobertura política e vinculam o jornalismo a um ideário de esquerda ou comunista. São frequentes expressões como “jornalismo imparcial”, “mídia esquerdista”, “totalmente parcial” e “jornalista parcial”. Leia um exemplo de post:

@orfilenomed2022 – Condeno o ato praticado! Mas o alvo da imprensa militante e do “Consórcio Comunista” sempre será o Marçal & Cia. Toda ação tem uma reação! Já apuraram que o agredido, inicialmente foi o agressor? Vamos rebobinar e colocar à luz dos fatos a materialidade da ação em sua completude!

Os principais agressores

Os cinco perfis que mais atacaram jornalistas e veículos de imprensa no período no Instagram foram @ronaldoandrade.escritor, @orfilenomed2022, @orfilenogomesogy, @lucioluizsalomao e @celioqualidade. No TikTok os perfis @unknown, @jwilsonoliveira, @user728373847, @vlademirnanci5 e @edmilsonmelo22 foram os mais nocivos à imprensa.

Outros ataques

Na madrugada do dia 25 de setembro, quatro homens armados renderam o vigilante e um repórter da TV Cidade, afiliada da Record TV, na cidade de Bacabal, no Maranhão, e atearam fogo nos equipamentos da emissora. Há indícios de motivação política, uma vez que a emissora fazia críticas ao candidato a prefeito Marcos Miranda (União Brasil). O vereador Manoel Passos de Araújo, conhecido como Júnior Passos, aliado do candidato do União Brasil, foi preso em flagrante por suspeita de ser o mandante do atentado, mas foi liberado.

Índice de toxicidade

Em parceria com o ITS-Rio, a CDJor também analisou o grau de toxicidade nas mensagens e nos comentários postados contra jornalistas e meios de comunicação nas três redes sociais monitoradas. Utilizando tecnologia de API do Google, cada comentário analisado recebe um valor entre 0 e 1. Quanto maior o valor, maior a chance de um usuário perceber aquele comentário como tóxico. Os modelos avaliam os comentários em uma série de atributos que descrevem conceitos emocionais que podem impactar uma conversa. Estabelecendo um grau de toxicidade para cada postagem analisada, é possível estabelecer um parâmetro de quão tóxico é o ambiente da plataforma em relação à imprensa.

Analisando as postagens monitoradas pela CDJor, no caso do TikTok, a média de toxicidade das postagens analisadas é de 0,39, enquanto no Instagram esse valor é de 0,22, reforçando a preocupação de que o TikTok se converta na principal plataforma de ataque à imprensa nas redes sociais. Vale mencionar que, mesmo com atuação suspensa no Brasil e com base em amostra residual, a média de toxicidade das postagens analisadas no X está acima das outras duas: 0,44. O exemplo de postagem a seguir, extraído do Tik Tok no dia 25 de setembro, foi classificado com um grau de toxicidade de 0,89, bem próximo ao grau máximo:

malditos da globo lixo mentiram antes e mentem agora

Relatório 26/09 a 06/10

O monitoramento das redes sociais na reta final do primeiro turno eleitoral e no dia da votação (6/10) comprovaram o que foi observado pela Coalizão em Defesa do Jornalismo, em parceria com o Labic, da Universidade Federal do Espírito Santo, ao longo da campanha: quando a disputa política se intensifica, os apoiadores dos candidatos respondem à cobertura feita pela imprensa com ataques e ofensas a jornalistas e meios de comunicação.

Na maior cidade do país, dois episódios que marcaram os dias pré-votação resultaram em uma série de ataques de eleitores do candidato Pablo Marçal (PRTB) à imprensa no TikTok, no Instagram e também no X: a publicação por Marçal de um laudo médico falso contra o candidato Guilherme Boulos (PSOL) e uma declaração misógina feita pelo candidato contra sua adversária Tábata Amaral (PSB).

Entre 26 de setembro e 06 de outubro, foram 1.198 postagens agressivas registradas no Instagram, 1.015 no TikTok e 185 no X – um crescimento de mais de 10 vezes em relação à semana anterior, apesar da plataforma ainda estar bloqueada no Brasil no período analisado. Os dados revelam indícios de que não apenas o candidato Pablo Marçal, como apontou a Polícia Federal, mas também seus apoiadores burlaram o bloqueio determinado pelo Supremo Tribunal Federal nos últimos dias de campanha.

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O candidato do PL à prefeitura de Cuiabá, Abilio Brunini, também usou o X no período para criticar o que chama de “imprensa militante”. Uma das postagens, em que atacou a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, recebeu 1.444 repostagens e 3.965 curtidas, além de 151 comentários. Abílio enfrentará o candidato do PT, Lúdio, no segundo turno.

No Instagram, entre os 5 usuários que mais curtiram posts e comentários de ataques à imprensa está o perfil de um apoiador e multiplicador de conteúdos de Pablo Marçal, que segue a mesma linha do coach de anunciar a multiplicação fácil do seu patrimônio e prometer o mesmo para seus mais de 24 mil seguidores.

Veículos e jornalistas mais atacados

Em todas as redes sociais, o uso de hashtags contra a imprensa cresceu. A mais usada no período, nas três plataformas monitoradas, foi #globolixo, seguida de outras atacando a emissora, que organizou os últimos debates televisionados do primeiro turno das eleições municipais. Esse aspecto pode ser sinal tanto de que há uma visão negativa difusa entre o público que utiliza diferentes redes sociais quanto um indicativo de uma articulação de ataque multiplataforma.

Seguindo a dinâmica de associação da imprensa com a esquerda, muitos agressores utilizaram a hashtag contra a Globo ao lado de outras como #esquerdalixo e #foracomunismo e junto com termos depreciativos como “mídia militante”, “mídia esquerdista” e “caiu pix”, que insinua um jornalismo vendido aos interesses de partidos políticos. No TikTok, “globo lixo” apareceu inclusive em comentários a outros veículos, mostrando que a expressão virou um marcador de uma visão negativa sobre o conjunto da imprensa.

Considerando todos os perfis do grupo monitorados no Instagram e no TikTok, a Globo também liderou a lista de veículos mais atacados no período, com 479 ataques ao Portal G1, 391 à TV Globo, 146 à GloboNews e 86 ao jornal O Globo.

Exemplos de comentários publicados em postagens jornalísticas em perfis do grupo são:

A GLOBOSTA NÃO ATINGIU MARÇAL

Mídia militante, vcs não vão fazer com o Marçal o que fizeram com o Enéias. Marçal X Sistema

Faltam 1 dia para ouvir William Bonner anunciar na globe: A justiça eleitoral acaba de confirmar a vitória no PRIMEIRO TURNO de Pablo Henrique Marçal do PRTB na disputa pela prefeitura de São Paulo.

Consórcio Mídia Militante, STF e Extrema Esquerda Lulista (com emojis de dinheiro, letra M, e o número 28, do candidato Pablo Marçal)

Já entre os 5 jornalistas mais atacados no período no Instagram estão 3 do Portal UOL: Tales Faria, Raquel Landim e, novamente, Leonardo Sakamoto. No TikTok, a mais atacada foi Fabíola Cidral, também do UOL, que mediou o debate do portal entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, seguida pelo comentarista da Band, Reinaldo Azevedo, e pela apresentadora da GloboNews, Julia Duailibi. Todos haviam publicado reportagens ou análises envolvendo o candidato do PRTB.

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Se os dados forem analisados territorialmente, a disputa em São Paulo foi a que mais mobilizou a ação de agressores no ambiente online, com 187 ataques à cobertura de veículos e jornalistas do processo eleitoral paulista. Em seguida vem Cuiabá/MT, com 113 ataques registrados; Porto Alegre/RS, com 88; Rio de Janeiro/RJ, com 73; e Fortaleza/CE, com 60.

Índice de toxicidade

Em parceria com o ITS-Rio, a CDJor também analisou o grau de toxicidade nas mensagens e nos comentários postados contra jornalistas e meios de comunicação nas três redes sociais monitoradas. Utilizando tecnologia de API do Google, cada comentário recebe um valor entre 0 e 1 em diversos parâmetros de análise. Quanto maior o valor, maior a chance de um usuário perceber aquele comentário como tóxico. Estabelecendo um grau de toxicidade para cada postagem analisada, é possível perceber um parâmetro de quão tóxico é o ambiente da plataforma em relação à imprensa.

No período deste relatório, a média de toxicidade das postagens analisadas no TikTok foi de 0,38, enquanto no Instagram esse valor foi de 0,19. No X, mesmo com o bloqueio ainda em vigor e com base em amostra residual, a média de toxicidade das postagens analisadas foi de 0,27. A postagem a seguir, extraída do TikTok no dia 29 de setembro, foi classificada com grau de toxicidade de 0,92: “jornalista um pedaço de merda”.

Ataques fora das redes

O jornalista André Pessoa, do Portal 180 Graus, foi agredido no dia 28 de setembro enquanto cobria um comício do candidato Isaías Neto (PT), em São Raimundo Nonato, no sudeste do Piauí. Ele foi abordado por seguranças ao chegar no evento e espancado por seis pessoas, entre elas o fotógrafo da Prefeitura, Francisco Joaquim Tomaz Neto. O partido de Isaías Neto comanda o município, mas ele perdeu a eleição no dia 6. Durante o ataque, o jornalista teve seu celular e um drone furtados.

No dia 30 de outubro, a jornalista Paula Araújo, do Conexão GloboNews, sofreu uma agressão momentos antes de entrar ao vivo no canal a cabo. O incidente ocorreu em frente à sede da Rede Globo em São Paulo. A agressora tentou, sem sucesso, atacá-la com o tripé da câmera. Logo depois, desferiu um tapa na repórter e, ao deixar o local, acusou a emissora de perseguir Bolsonaro e seus apoiadores, usando a frase “globo lixo”.

O jornalista Bruno Soares, do Jornal Plural, e a diretora do Jornal Primeira Linha, Bárbara Letícia Mezzomo, foram alvo de uma campanha de descredibilização movida pelo candidato à Câmara Municipal de Foz do Iguaçu/PR, Darlon Dutra (Mobiliza). Em um vídeo de aproximadamente 10 minutos, o candidato faz acusações de irregularidades e corrupção contra os profissionais, mobilizando a opinião pública para questionar a imparcialidade e estigmatizando seu trabalho. Darlon não foi eleito vereador no último dia 6 de outubro.

O Jornal Plural também foi alvo da coligação do vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), candidato à prefeitura de Curitiba/PR, que obteve uma decisão judicial que censura reportagens do veículo sobre um caso de coação de funcionários públicos na capital paranaense. O caso envolve áudios vazados de uma reunião entre servidores municipais, na qual um superintendente exige que subordinados adquiram convites de R$ 3 mil para um evento do candidato. A decisão sobre os conteúdos jornalísticos foi proferida no dia 3 de outubro pelo juiz Marcelo Mazzali, da 4ª Zona Eleitoral de Curitiba.

Com o cumprimento da medida liminar, os conteúdos não podem mais ser acessados e, após consulta aos autos do processo, não foi possível conhecer a íntegra das matérias removidas. Do que consta no processo, não se vislumbra qualquer abuso por parte do Jornal Plural a justificar essa medida extrema. Para a Coalizão em Defesa do Jornalismo, é imprescindível que conteúdos jornalísticos que venham a ser removidos por ordem judicial estejam registrados nos autos, para que a sociedade possa fazer uma avaliação crítica do que foi decidido pelo Poder Judiciário e até mesmo para que instâncias superiores possam revê-las.

Balanço do 1º turno

Durante o primeiro turno da campanha eleitoral no Brasil, a Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) registrou mais de 44.200 ataques contra a imprensa em cerca de sete semanas de monitoramento das redes sociais X, Instagram e TikTok. Em parceria com o Laboratório de Internet e Ciência de Dados (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), mais de 450 contas de jornalistas, meios de comunicação e candidatos às prefeituras vêm sendo monitoradas desde o dia 15 de agosto, véspera do início oficial da campanha.

A análise semanal dos padrões de hostilidade contra a imprensa no meio digital mostrou que, após o bloqueio do X no país, o TikTok vem se consolidando como um espaço nocivo aos jornalistas. Nas três primeiras semanas de acompanhamento, o X ocupava o primeiro lugar em número de ataques. Mais de 34.700 publicações, comentários ou menções que remetiam a algum tipo de violência ou discurso estigmatizante contra jornalistas ou meios de comunicação foram publicadas na plataforma. Após o bloqueio da rede social no Brasil, a CDJor ampliou o escopo de monitoramento no Instagram e iniciou a análise de dados no TikTok, que apresentou registros alarmantes. O TikTok assumiu a dianteira, com cerca de 4.400 ataques registrados em cerca de 20 dias. Já no Instagram, foram captados mais de 4.800 ataques em sete semanas de monitoramento.

Os ataques variam de agressões diretas a jornalistas e veículos a um discurso estigmatizante contra a imprensa. Expressões como “mídia podre”, “jornalismo tendencioso”, “extrema imprensa”, “imprensa militante”, “jornalismo imparcial” e “imprensa vendida” são frequentemente usadas para descredibilizar profissionais e veículos.

Entre 15 de agosto e 6 de outubro, os jornalistas mais atacados nas redes sociais foram Carlos Tramontina (que mediou o debate do Flow entre candidatos à prefeitura de São Paulo), Josias de Souza (UOL), Pedro Duran Meletti (CNN Brasil), Andréia Sadi (GloboNews), Vera Magalhães (O Globo/ CBN), Diego Sarza (UOL), André Trigueiro (GloboNews), Leonardo Sakamoto (UOL), José Roberto de Toledo (UOL) e Daniela Lima (GloboNews).

Já os meios de comunicação que mais receberam menções ou comentários hostis foram GloboNews, UOL, Metrópoles, G1, CNN, O Globo, Folha de S.Paulo, Rede Globo, O Estado de S.Paulo e Veja. A hashtag mais utilizada no peŕiodo foi #globolixo, seguida de outras ligadas ao mesmo grupo. A expressão aparece com frequência inclusive em posts direcionados a outros meios de comunicação, mostrando que se tornou um termo de hostilização ao jornalismo em geral. 

Os principais agressores e a retórica da extrema-direita

Os principais perfis agressores que postaram mensagens, fizeram comentários ou curtiram conteúdos agressivos à imprensa no primeiro turno se apresentam como conservadores de direita e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entretanto, as principais ondas de violência contra jornalistas e meios de comunicação na campanha para o 1º turno se formaram pela ação de eleitores do candidato Pablo Marçal (PRTB), que disputou a prefeitura de São Paulo. 

Semanalmente, postagens jornalísticas trazendo fatos e análises da disputa paulista que envolviam Marçal recebiam enxurradas de ataques de seus seguidores e apoiadores. Jornalistas que protagonizaram episódios envolvendo o candidato — seja durante um debate televisionado, uma sabatina ou uma atividade de campanha — também viraram alvos diretos.

Um aspecto marcante na maioria das postagens ofensivas vindo dos apoiadores de Marçal era uma tentativa de vinculação do trabalho da imprensa com partidos de esquerda, visando sua descredibilização. Outra expressão presente nos ataques foi “caiu o pix”, que insinua que jornalistas e veículos são comprados e, portanto, sem qualquer independência para realizar seu trabalho.

Ataques fora das redes

Além da análise das mídias digitais, as organizações da CDJor atuaram para monitorar episódios de ataques offline à imprensa em todo o país. Durante os meses de campanha eleitoral que antecederam o primeiro turno, foram registradas 14 denúncias de ataques a jornalistas, entre agressões físicas, verbais, interpelações policiais, processos judiciais abusivos e campanhas de estigmatização. Boa parte das agressões aconteceu durante comícios ou entrevistas a candidatos, que se ofenderam com questionamentos feitos pelos  profissionais. Mas não só. 

No dia 30 de setembro, a jornalista Paula Araújo, do Conexão GloboNews, sofreu uma agressão momentos antes de entrar ao vivo. O incidente ocorreu em frente à sede da Globo, na zona sul de São Paulo, enquanto ela se preparava para cobrir as eleições na capital. A agressora tentou, sem sucesso, atacá-la com o tripé da câmera. Logo depois, desferiu um tapa na repórter e, ao deixar o local, acusou a emissora de perseguir Bolsonaro e seus apoiadores, usando a frase “Globo lixo”.

Sobre a Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor)

A Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) é uma articulação de 11 organizações da sociedade civil, que tem como principais temas de atuação: proteção e segurança de comunicadores e jornalistas, sustentabilidade do jornalismo e integridade do espaço informacional. Compõem a Coalizão: Artigo 19, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Instituto Tornavoz, Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Jeduca – Associação de jornalistas de educação e Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Para mais informações, siga a Coalizão no Instagram e no X.

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