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Novo Atlas da Notícia mostra redução de desertos de informação e liderança do jornalismo online

por | mar 3, 2022

Levantamento anual agregou 642 novos empreendimentos à base; dados estão disponíveis para uso livre por pesquisadores

Foi divulgado na última semana o Atlas da Notícia 5.0, censo que mapeia anualmente as iniciativas jornalísticas do país. O levantamento identificou uma redução de 9,5% no número de desertos de notícias, que são cidades sem nenhuma cobertura jornalística local. Apesar da melhora, estima-se que 5 em cada 10 municípios ainda se enquadram neste perfil, impactando 13,8% da população brasileira.

A pesquisa identificou 13.734 veículos jornalísticos em atividade no Brasil em 2021 e 642 novos empreendimentos foram acrescentados à base. O aumento do número de iniciativas é fruto de um investimento em pesquisa nas localidades consideradas desérticas nos levantamentos anteriores. Com os novos dados, o segmento online passa a ter a maior representação no jornalismo local no Brasil.

”O online cresce porque não há barreiras de entrada”, explica Sérgio Lüdtke, coordenador de pesquisa do projeto, “você pode criar muito rapidamente, sem burocracias e com baixo investimento um canal de notícias na web”. Para o pesquisador, o crescimento do digital está relacionado também à crise do jornalismo tradicional e à queda na receita publicitária, agravadas nos últimos dois anos. O censo, porém, não identificou um impacto direto da pandemia na abertura ou no fechamento de veículos.

O relatório é realizado pelo Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) e tem patrocínio da Meta Journalism Project. A 5ª edição também contou com a parceria institucional da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), assim como a colaboração de 174 voluntários de 28 escolas de jornalismo.

O Atlas 5.0 estreou a nova plataforma do projeto, que facilita a consulta das estatísticas em duas aplicações, uma com dados brutos da pesquisa e outra com análises. “O novo site do Atlas está melhor organizado e fácil de navegar, o que vai ajudar pesquisadores e qualquer pessoa que queira explorar nossos dados”, afirmou à Ajor Sérgio Spagnuolo, coordenador do Atlas e fundador do Volt Data Lab, agência responsável pelo desenvolvimento do site.

Análises e riscos regionais

O Norte e Nordeste são as regiões com as maiores porcentagens de desertos, mas há localidades sem cobertura jornalística disseminadas por todo o país. Segundo o relatório, as pessoas que vivem nestes lugares, via de regra, têm acesso à internet. O problema está na falta de informação apurada e de fiscalização dos poderes. Segundo Lüdtke, isso pode levar a leituras distorcidas da realidade local e potencializar a desinformação. 

Todos os territórios registraram aumento no número de iniciativas de jornalismo online, que inclui blogs, sites, páginas noticiosas em redes sociais, portais, podcasts, newsletters e rádios/TVs digitais. Outro destaque da edição foi a consolidação da relevância do rádio para o cenário nacional: no Sudeste, ele tomou o lugar do impresso pela primeira vez e aparece como o principal meio da região. 

“O rádio ainda tem grande relevância por sua capacidade de alcance, principalmente em regiões onde o acesso à internet é deficiente ou até inexistente. E há uma rede muito grande de rádios comunitárias no país, algumas delas também produzindo jornalismo”, explica Lüdtke. 

A pesquisa aponta ainda a sustentabilidade financeira como um dos principais entraves para o jornalismo local. A audiência potencial dos veículos é baixa: os desertos de notícias são cidades que têm populações pequenas em média, menos de 10 mil habitantes e os quase desertos, cerca de 20 mil. Além disso, a menor atividade econômica destas regiões dificulta a implementação de modelos de negócios viáveis. 

O risco não é apenas o fechamento destas iniciativas, mas a falta de independência editorial, uma vez que muitos destes veículos acabam se submetendo ao poder público para se sustentar: “Se o veículo se torna refém do poder municipal, ele enfraquece a sua capacidade de fiscalizar esse poder e corre o risco de dar repercussão somente àquilo que interessa às prefeituras”, afirma o pesquisador. 

Próximos passos da pesquisa

No site do projeto estão disponíveis análises específicas das cinco regiões brasileiras feitas por pesquisadores locais: Angela Werdemberg (Centro-Oeste), Dubes Sônego (Sudeste), Jéssica Botelho (Norte), Marcelo Fontoura (Sul) e Mariama Correia (Nordeste). Werdemberg também é uma das convidadas do painel “Decentralização da mídia“, do Festival 3i 2022, e vai comentar sobre os principais resultados do levantamento.

O Atlas vai dar sequência ao projeto a partir de uma pesquisa qualitativa para identificar riscos e oportunidades de veículos que estão situados em uma faixa intermediária: os semidesertos, ou seja, lugares em que há apenas um ou dois veículos locais. 

Todos os dados do relatório estão disponíveis para uso livre em pesquisas e análises. “Nosso trabalho está dedicado a melhorar e atualizar as informações que constam dessa base para que ela possa ser usada por outros pesquisadores, para servir a outras investigações. Essa é a contribuição do Atlas da Notícia”, completa Lüdtke.