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Sérgio Spagnuolo: ‘A IA é um recurso incrível, mas pode ser usada de maneira irresponsável’

por | maio 24, 2023

Organização associada à Ajor, o Núcleo se tornou o primeiro veículo brasileiro a publicar uma política aberta de uso de inteligência artificial na redação

Uma das tendências para o jornalismo em 2023, segundo o Instituto Reuters, o uso da inteligência artificial em redações vêm se massificando e, com isso, levantando debates sobre ética, desinformação e novos modelos de trabalho. 

Com o objetivo de criar diretrizes claras sobre o uso da tecnologia, veículos apostam agora na contratação de profissionais especializados e em adaptar suas estratégias editoriais. Em fevereiro, o Financial Times anunciou a contratação de sua primeira editora de inteligência artificial. Em março, foi a vez da The Wired publicar regras internas sobre o uso de AI generativa na redação. 

Na última semana, o Núcleo, organização associada à Ajor, se tornou o primeiro veículo brasileiro a ter uma política aberta sobre uso de IA. O documento apresenta uma série de parâmetros que guiam a equipe e informam os leitores sobre como o site utiliza a tecnologia, tanto na produção de conteúdo quanto em suas aplicações. E, principalmente, como não a utiliza. 

O veículo pode, por exemplo, usar inteligência artificial para construir sumários de textos, sugerir posts alternativos para redes sociais, criar ilustrações em casos excepcionais e auxiliar no desenvolvimento de softwares. No entanto, a política define que a organização nunca usará a tecnologia para gerar o conteúdo completo de uma publicação e que textos ou imagens gerados por AÍ não serão publicados sem uma revisão humana. 

A Ajor conversou com Sérgio Spagnuolo, cofundador do Núcleo, para entender a motivação por trás da política. Ele foi o moderador da mesa “Os possíveis impactos da IA no jornalismo e no debate público”, última sessão do Festival 3i 2023, que aconteceu entre os dias 5 e 7 de maio no Rio de Janeiro.

Qual foi a inspiração para a criação da política de uso de IA no Núcleo e por que ela é importante para a redação e para o ecossistema de mídia?

Sérgio Spagnuolo: A inspiração veio do painel sobre inteligência artificial que mediei no Festival 3i. Nesse debate, ficou muito claro que IA é um recurso incrível, mas que pode ser usado de maneira irresponsável e até mesmo desinformativa. Ao estabelecer regras e parâmetros abertos sobre nossos interesses e processos, o Núcleo cria uma camada importante de transparência para que nossos leitores e leitoras sejam informados sobre como a gente está usando IA.

A afirmação de que “O uso de inteligência artificial deve ser aplicado para facilitar o trabalho do jornalismo, não produzi-lo” é parte importante do texto. Para você, quais são os principais problemas de aplicação da AI até o momento no jornalismo em geral?

Sérgio Spagnuolo: Não dá pra saber. As empresas de jornalismo não estão divulgando muito como usam IA. Em alguns casos, como a CNET, nos EUA, mostram que apenas deixar a IA generativa escrever e publicar, com pouca supervisão humana, não é uma boa ideia. Mas, em geral, não acho que muitos veículos brasileiros já estejam usando IA para produzir conteúdo integralmente. Mas esse é um risco que quisemos tratar na nossa política, de que IA nunca será responsável por nosso conteúdo.

Diante do avanço acelerado de tecnologias de AI, você consegue fazer uma previsão de resultados positivos do seu uso e também de problemas que enfrentaremos nos próximos anos?

Sérgio Spagnuolo: IA veio pra ficar. Não é uma ondinha como blockchain ou metaverso. Os benefícios de usar inteligência artificial são muito claros no dia a dia, desde ajudar na concisão de textos até pesquisar ideias. Mas também há os perigos, como utilizar IA pra produzir conteúdo em massa para clickbait e, claro, desinformação – isso sem falar das empresas que inevitavelmente tentarão substituir pessoas por máquinas.

Assista à sessão sobre Inteligência Artificial no Festival 3i 2023: