notícias

Três dicas para começar a trabalhar com visualização de dados

por | mar 28, 2023

Ferramentas gratuitas e colaborações com outras iniciativas ajudam redações a darem os primeiros passos na criação de conteúdos gráficos baseados em números

O processo de extrair, analisar, limpar e construir visualizações de grandes bases de dados não é simples, porém se tornou cada vez mais necessário para o jornalismo. Embora demande conhecimentos – e investimentos – técnicos, o jornalismo de dados pode ser um diferencial para as redações.

“Cada vez mais os números são notícia – mas um texto repleto de números é uma estrada pedregosa. A adequação entre tema e linguagem visual é fundamental. Para os leitores, só há vantagens nessa divisão de tarefas cognitivas. Para as publicações, isso se traduz no mínimo em didatismo e eficiência informativa, mas também pode resultar em uma estética atraente, apresentação inovadora e até novos produtos”, afirma Marcelo Soares, fundador do Lagom Data, organização associada à Ajor dedicada à inteligência de dados.

Além de deixar os conteúdos jornalísticos mais dinâmicos, permitindo a interatividade dos leitores, o uso de dados também pode ser o ponto de partida para investigações. “A visualização exploratória de dados, ou seja, gráficos feitos não para publicar, mas para ver os padrões, é um recurso muito importante para a apuração de qualquer tema que envolva números – do dado mensal do desemprego à pauta especial do ano”, completa Soares.

Mesmo sem um conhecimento técnico na área e com poucos recursos para investir, é possível dar os primeiros passos para adotar a cultura de dados dentro de uma redação. Veja algumas dicas a seguir: 

Explore ferramentas

“As ferramentas de trabalho com visualização básica de dados são cada vez mais fáceis de utilizar, e muitas delas inclusive são gratuitas ou têm planos especiais para redações”, afirma Soares. 

Perguntamos a ele e a outros especialistas da área quais plataformas  eles utilizam e recomendam. Entre elas estão: Flourish, Datawrapper, Infogram, Grafana, Chartbuilder.

A Escola de Dados, iniciativa da Open Knowledge Brasil, mapeou mais de 150 ferramentas para trabalhar com dados. As Iniciativas são separadas por categorias e plataformas, além de serem identificadas como ferramentas de código aberto ou não.

Una esforços

Segundo Soares, um dos principais desafios para jornalistas é pensar visualmente a informação, de maneira atraente e elegante. Para conseguir contornar isso, a colaboração com outras áreas de conhecimento é essencial.

“Designers fazem isso com um pé nas costas, mas nem sempre têm a visão da informação que um repórter tem. O repórter muitas vezes sabe onde está o ponto relevante da informação mas não tem clareza de como apresentar visualmente. Se a sua equipe tem designers e repórteres, trabalhar juntos na mesma pauta é proveitoso para todos”, explica. 

Parcerias com outras redações e a contratação de consultorias especializadas também pode ser uma solução para lançar projetos específicos de visualização de dados. Entre as associadas à Ajor, há organizações dedicadas especificamente ao tema, como a própria Lagom Data, o Volt Data Lab, a Gênero e Número, a Agência Tatu e o Data Labe

Busque referências

“Quanto mais se lê, melhor se escreve – e não tem como ser diferente em outros tipos de linguagem”, completa Soares. No Brasil e no mundo, há diversas iniciativas jornalísticas ganhando destaque pela cobertura baseada em dados. Acompanhar estes trabalhos é essencial para desenvolver referências estéticas e conhecer casos de sucesso. 

O fundador da Lagom Data indica o projeto Aquazônia, da Ambiental Media, também associada à Ajor: “Eles pegam um ângulo pouco explorado popularmente da questão ambiental e o explicam de maneira muito atraente”. Além disso, destaca a seção “Graphic Detail”, do The Economist, e o trabalho de jornalismo visual de Singapura, Straits Times.

Foto: Markus Winkler/Unsplash