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Uso do TikTok como fonte de notícias aumenta cinco vezes entre os jovens, diz pesquisa

por | jul 8, 2022

Veículos traçam estratégias para criar conteúdo na plataforma e alcançar novas audiências

O relatório Digital News Report 2022 revelou que o uso do TikTok para o consumo de notícias aumentou cinco vezes entre as pessoas de 18 a 24 anos. Além disso, as redes sociais substituíram os sites de notícias como principal fonte de informação para este público. A perspectiva de expansão do alcance e da audiência chamam atenção de veículos de comunicação, que buscam veicular seus conteúdos em outros formatos. 

Esta é a décima edição do estudo realizado pelo Instituto Reuters da Universidade de Oxford, no Reino Unido. O relatório deste ano traz insights sobre o consumo de notícias digitais com base em uma pesquisa da YouGov com mais de 93 mil consumidores de notícias online, em 46 mercados que cobrem metade da população mundial. Entre os tópicos abordados estão o aumento no número de pessoas que evitam notícias e como jovens de diferentes mercados consomem informação.

Além do panorama internacional, a pesquisa traz recortes de alguns países, como o Brasil. De acordo com o relatório, quase dois terços dos brasileiros (64%) recebem suas notícias por meio das redes sociais, usando uma ampla variedade de plataformas para isso. O Facebook vem perdendo terreno e foi ultrapassado pelo YouTube como a rede mais popular para o consumo de notícias. Além disso, houve um forte aumento no uso de redes visuais para se informar, como Instagram (35%) e TikTok (12%). Os aplicativos de mensagens WhatsApp (41%) e Telegram (9%), por sua vez, continuam sendo meios importantes de compartilhamento de  notícias.

O que as redações estão fazendo?

O jornalismo precisa se adaptar às mudanças nos hábitos de consumo de notícias. Organizações associadas à Ajor têm apostado no TikTok com diferentes estratégias, mas com o mesmo objetivo: alavancar o seu alcance e entregar jornalismo de qualidade para um novo público. 

“Atualmente, o TikTok conta mais de 1 bilhão de usuários ativos, sendo 32,5% jovens entre 10 e 19 anos, e está ampliando o público de 25 a 45 anos, o que para nós é uma oportunidade de aumentar a distribuição dos nossos conteúdos e conquistar novos públicos”, contou à Ajor Iacy Correia, gerente de comunicação e criação de conteúdo da Alma Preta.

Diretor de Redação do Correio Sabiá, Maurício Ferro conta que é uma das estratégias do veículo entregar informações em diferentes plataformas: “Nossa missão é permitir que a sociedade possa tomar decisões melhores, com base em informação confiável. Por isso, considerando o crescimento do TikTok, o contexto pré-eleitoral e o provável aumento da disseminação de notícias falsas nesse período, concluímos que era fundamental estabelecer nossa presença nessa rede, como forma de levar jornalismo profissional a um público, em geral, mais jovem.”

Para estar em uma rede social como o TikTok, no entanto, é necessário conhecer os diferentes públicos-alvo, formatos e possibilidades da plataforma. “Diferentemente do Instagram ou do Facebook, com postagens que se baseiam principalmente em fotos e textos e com visualizações automáticas, no Tiktok não existe feed e a única forma de conteúdo é em vídeo”  explica Iacy. Segundo ela, esse formato permite um maior nível de atenção e engajamento do público, mas, para isso, o conteúdo deve ser criativo,  rápido, impactante e descontraído em sua abordagem. 

A organização também precisou pensar em estratégias de como transmitir histórias sensíveis para o público mais jovem: “Visto que trabalhamos com temas delicados e com grande impacto no psicológico é importante pensar nas melhores formas de adaptação de conteúdo e do nosso discurso para se obter os resultados esperados”, afirma. 

Já o fundador do Jornal Plural Rogério Galindo falou sobre a importância da velocidade no início do vídeo para não perder o usuário: “Tem algumas questões que já aprendemos que funcionam. O formato claro. A brevidade. Mas tentamos manter o mesmo nível de linguagem e explicação que nas outras plataformas”.

Os três veículos afirmam que a experiência tem sido positiva. Rogério comenta que o Plural já teve vários vídeos com mais de 5 mil visitas: “Agora queremos aprender a fazer lives e tentar monetizar com isso”. A conta no TikTok do Correio Sábia foi criada no final de maio deste ano e já conta com 460 seguidores de modo orgânico. “Considerando que não fizemos nada pago e estamos na plataforma há apenas 1 mês, achamos as marcas atingidas até agora bem expressivas”, explica Maurício. 

Iacy explica que o Alma Preta ainda está em processo de planejamento da sua estratégia de comunicação na plataforma: “Como resultado a médio prazo, queremos, por meios dos nossos conteúdos, ampliar e fortalecer ainda mais as discussões acerca do debate racial (dentro e fora da plataforma) e ter mais seguidores no nosso perfil”. 

Mudanças no  jornalismo

Segundo o instituto, 15% dos jovens (abaixo de 35 anos) em países como Austrália, EUA e Brasil afirmam ter dificuldade de acompanhar as notícias, o que deveria incentivar a imprensa a simplificar a linguagem e explicar didaticamente temas complexos. “Reconhecer a variedade de preferências e gostos que existem dentro de um grupo incrivelmente diversificado apresenta um novo conjunto de desafios para as organizações de mídia”, afirma a conclusão do estudo.

A explosão do TikTok, no entanto, não vai limitar o jornalismo ao formato audiovisual ou às “dancinhas” típicas da plataforma. A pesquisa revelou que há lugar para  texto, vídeo, áudio e imagens estáticas – às vezes, tudo em um único conteúdo.  E que tanto o tom mais sério da mídia tradicional quanto as abordagens mais casuais e divertidas podem ter sucesso, desde que bem executadas.

Imagem de divulgação: freepick