Festival 3i 2024: como a atuação de mídias cívicas traz novas possibilidades para o jornalismo

Pesquisa inédita apresentou os desafios e os pontos centrais da produção jornalística de organizações de notícias cívicas

Por Festival 3i jun 15, 2024

Pesquisa inédita apresentou os desafios e os pontos centrais da produção jornalística de organizações de notícias cívicas

Por Festival 3i jun 15, 2024

* Por Bruna Abinara

Mídia cívica e ecossistemas locais de informação são o tema do relatório “Do jornalismo cidadão para o jornalismo cívico”, apresentado nesta sexta-feira (14), durante a programação do Festival 3i 2024, na Casa Firjan, no Rio de Janeiro. A jornalista Nina Weingrill, consultora para organizações de jornalismo e direitos humanos em governança, estratégia e impacto, apresentou o Censo sobre Organizações de Notícias Cívicas – Futuro da Rede Local de Notícias. A apresentação fez parte da seção Dados & Tendências, novo formato do Festival, que permite ao público acompanhar os resultados de pesquisas sobre diferentes aspectos do ecossistema jornalístico.

A pesquisa inédita buscou compreender as características, valores e práticas das mídias cívicas locais nos Estados Unidos, um movimento crescente de organizações que defendem que o jornalismo é uma ferramenta de mudança e que não deveria se limitar apenas a informar o público. O relatório oferece detalhes sobre padrões entre essas organizações para colocar a audiência no centro do processo jornalístico – como o uso de metodologias de participação e engajamento comunitário, mecanismos de medição de impacto no território e o surgimento de um novo ethos jornalístico.

Nina, que é cofundadora da Enóis, contou que a ideia da pesquisa surgiu da experiência à frente da organização, que se define como um laboratório que trabalha para impulsionar diversidade, representatividade e inclusão no jornalismo brasileiro. Por isso, começou a pensar sobre o ecossistema de informação para além do jornalismo tradicional, em especial sobre a mídia cívica. A proposta, segundo Nina, é caracterizada pela missão de produzir informações de necessidade básica dos cidadãos e por ser capaz de fortalecer os laços sociais dentro das comunidades.

O censo analisou 18 mídias cívicas dos Estados Unidos de julho a setembro de 2023, para entender suas semelhanças e incentivar e apoiar a ação cívica local por meio da produção de informação.

A pesquisa resultou em quatro descobertas principais sobre o ecossistema das mídias cívicas. O primeiro diz respeito ao despreparo para o crescimento da equipe e a sucessão da liderança das organizações. Dentre as mídias analisadas, apenas uma tem um setor voltado a questões internas e apenas 28% preparam planos de sucessão. A palestrante explicou que esse cenário faz com que os veículos estejam atentos às demandas da comunidade, mas alheios em relação às suas próprias necessidades, além de serem dependentes de seus fundadores.

O segundo insight da pesquisa revelou que o relacionamento com o público precisa ser mais trabalhado nessas organizações. Nina mostrou que, entre os cargos executivos mais altos, apenas 11% são relacionados a engajamento e alcance. A jornalista disse que, mesmo se a distribuição do conteúdo produzido em meios online seja estratégica para a maioria dessas organizações, elas ainda não aproveitam plenamente os canais disponíveis.

“Na nossa amostragem, a palavra ‘impacto’ foi citada 72 vezes e ‘comunidade’, 124 vezes. Fica claro que o impacto social é o principal objetivo dessas mídias. O trabalho delas é pela transformação social, que não termina depois que o texto foi publicado”, contou Nina. No entanto, ela afirmou que a maioria das mídias analisadas está insatisfeita com seus métodos atuais de acompanhamento de impacto e 61% delas já investem em novas maneiras de mensurar essa métrica. Desse modo, a terceira conclusão do estudo busca impulsionar o alcance dessas mídias.

Por fim, o quarto insight diz respeito ao aspecto educacional dessas mídias, que educam e treinam tanto os jornalistas quanto o público, e 65% delas incluem estágios como parte de suas iniciativas: “Essas práticas não são institucionalizadas, o que garante maior versatilidade e velocidade para atender às demandas da população local, mas compromete a busca por melhorias contínuas e pela consolidação desses serviços”.

*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2024 com as faculdades ESPM-Rio, PUC-Rio e Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA).

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