Festival 3i 2024: oficinas exploram possibilidades e desafios da inteligência artificial

Workshops mostram caminhos práticos para criar e imaginar o futuro da comunicação

Por Festival 3i jun 14, 2024

Workshops mostram caminhos práticos para criar e imaginar o futuro da comunicação

Por Festival 3i jun 14, 2024

* Por Barbara Ballerini, Carlos Gabriel Toledo e Clarissa Santos

O primeiro dia do Festival 3i de 2024, no Rio de Janeiro entre os dias 13 a 15 de junho, foi repleto de oficinas sobre inteligências artificiais e futuros possíveis. Ana Freitas, da Quid, Isabela Petrosillo e Natalia Coelho de Oliveira, do Lab de Tendências da Casa Firjan, e Sérgio Spagnuolo, do Núcleo Jornalismo, foram as vozes e mentes especialistas no assunto.

Usando a IA na prática com Ana Freitas, da Quid

Nos últimos anos, a ascensão da inteligência artificial tem transformado profundamente diversos campos do conhecimento da nossa sociedade. As ferramentas não só facilitam tarefas cotidianas, mas também expandem nossos horizontes intelectuais. A oficina “O uso de IA para a produção de conteúdo jornalístico”, mediada pela jornalista e estrategista digital Ana Freitas, diretora da Quid, mostrou quando e como essas ferramentas podem fazer parte, sempre de forma ética e com cautela, desde os processos de sugestão de comandos – os prompts, como são chamados – até os processos de transcrição, com direito a criação de apresentações e até vídeos do zero.

Ana começou a oficina explicando as diferenças entre os tipos de inteligência artificial, separadas em generativas ou tradicionais: as generativas são as que criam algum tipo de conteúdo a partir de um comando, como o ChatGPT, da OpenAI, e Gemini, da Google. Já as tradicionais são as ferramentas que só imitam, copiam e reproduzem algo que já existe ou que já foi feito, como por exemplo, as timelines do Instagram e do TikTok.

Em seguida, a instrutora apresentou e explicou o fenômeno de “alucinação”: quando a inteligência artificial é programada para sempre dar uma resposta, e ao não conseguir chegar a uma resposta certa, a ferramenta começa a alucinar e inventar informações, ou até mesmo misturar fatos reais com detalhes incertos.

A jornalista também deu dicas de como utilizar as ferramentas gratuitas do ChatGPT, como usar a opção do microfone do sistema para transformar o que está em sua mente em algo concreto e apresentável.

Diferentes abordagens costumam gerar resultados melhores: a palestrante já observou que ao ameaçar a ferramenta ou até oferecer dinheiro, os resultados melhoraram em algumas respostas. “Claro que você não vai precisar pagar, né”, brincou Ana.

O tipo de comando usado também é muito importante: quanto mais específico e detalhado for o seu prompt, maiores são as chances de se obter um resultado mais agradável. Ana também enfatizou que o uso da inteligência artificial também requer inteligência de quem a utiliza: usá-la para apurar conteúdo ou usar dados sem checagem é extremamente perigoso.

Após a apresentação, a oficina teve sua parte prática: os participantes foram separados por mesas, e a missão era criar duas sugestões de pautas completas para a editoria de ciência de um portal fictício. O desenvolvimento foi feito usando as ferramentas ChatGPT e Perplexity, incluindo sugestão de abordagem e encaminhamento, sugestão de fontes e de perfis de personagens, lista de perguntas para as fontes, sugestão de encaminhamento e estrutura, visão de narrativas divergentes e materiais de referência para pesquisa.

A professora de Jornalismo da Universidade de Brasília (UnB), Fernanda Ferreira, participou do exercício e elogiou a oficina: “Eu acho que a exposição foi sensacional porque trouxe uma série de contextos importantes do uso da inteligência artificial”. Fernanda complementou dizendo que sabemos muito pouco sobre como usar a ferramenta como meio de instrumento, e não como o fim. Sobre a dinâmica, a também professora de mestrado na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), achou que a atividade foi um desafio. “É um desafio em grupo, mas também é um desafio individual. O que ficou bem claro, tanto na oficina quanto em outros momentos do Festival 3i, é que o prompt é a alma da inteligência artificial”, finalizou Fernanda.

Como imaginar nossos futuros possíveis hoje?

A oficina do Lab Tendências da Casa Firjan levou os participantes a criar cenários distópicos e utópicos sobre a sociedade dentro de cinco, 10 e 20 anos com sua oficina “Jogo: Futuros Possíveis”. Apresentado pelas pesquisadoras Isabela Petrosillo e Nathalia Coelho de Oliveira, o jogo Futuros Possíveis é baseado nas pesquisas feitas pelo laboratório.

A iniciativa tem o intuito de discutir formas diferentes de olhar para nosso futuro enquanto sociedade, levando em consideração o que produzimos hoje. Quais seriam as oportunidades e desafios se, em 10 anos, um país vazasse dados sensíveis de outros? Esta foi uma das perguntas que levaram os alunos a discutir segurança e diferentes formas de gestão de dados.

Hilane Tawil, do Canal Meio, achou a metodologia da atividade estimulante. “Achei surpreendente. Por meio da colaboração com as pessoas, nós pensamos no futuro. Eu não conseguiria ir tão longe se não fosse a metodologia.”

O centro de pesquisa mapeia sinais de mudanças que serão tendência pelos próximos dois anos, seja no setor social ou do trabalho, e publicam anualmente os resultados de forma gratuita no site da Casa Firjan.

Eleições e inteligência artificial: como utilizar na cobertura?

Na última oficina do primeiro dia do Festival 3i, Sérgio Spagnuolo, diretor-executivo do Núcleo Jornalismo, apresentou formas de trabalhar com inteligências artificiais e redes sociais para a cobertura das eleições de 2024 na oficina “Como cobrir as eleições de 2024 a partir da conexão entre democracia e tecnologia, IA e plataformas sociais”.

A oficina começou discutindo sobre até onde as IAs devem chegar. No cenário de eleições em 2024, Sérgio ressaltou como é importante olhar para essas ferramentas como algo que pode ser perigoso, mas também facilitador. Sabendo que haverá muitos disparos de fake news durante esse período, a dica de Sérgio é identificar as ferramentas que estão sendo usadas para que elas sejam mitigadas, já que com o uso de IAs com diferentes funções, todo tipo de fake news pode ser gerado.

Ele mencionou o caso de Geoffrey Hinton, considerado pioneiro da inteligência artificial, que pediu demissão do Google em 2023 para poder falar livremente sobre as IAs. Geoffrey disse que mesmo que as inteligências artificiais tenham potenciais benéficos, não podemos impedir que atores ruins as usem para algo negativo. Sérgio aponta para dois casos de uso de uma mesma ferramenta de deepfake: o primeiro, divertido, o caso do Papa usando uma jaqueta branca da Balenciaga. O segundo caso, um crime: a criação de imagens de crianças e adolescentes com roupas em posições sexualizadas.

Sérgio também falou sobre a violação de direitos autorais. No caso do ChatGPT, por exemplo, a IA coleta informações disponíveis online para responder às solicitações. Essas informações foram produzidas por pessoas reais que trabalharam arduamente para obtê-las. O palestrante comentou sobre a necessidade, em um futuro próximo, de um acordo entre os profissionais e as empresas.

Mas Sérgio deixou claro que, mesmo com questões a serem resolvidas, não podemos descartar o uso dessas ferramentas. A checagem de informações, por exemplo, tem enorme potencial com a IA. Ele apresentou diferentes formas de usar ferramentas para melhorar a cobertura: a plataforma Perplexity para verificação de fonte, o uso do ChatGPT para montagem de gráficos interativos e planilhas, e verificação e checagem com o bot Fátima, IA desenvolvida pelo Aos Fatos que utiliza a base de dados da organização, focada em combate à desinformação.

Ele também não acredita que essas ferramentas tirarão empregos de jornalistas. Ao invés disso, crê que elas vão apenas continuar automatizando funções. Mas finalizou reforçando a importância do uso do senso crítico, a necessidade da edição e revisão das pesquisas, que a verificação e checagem da informação é parte do trabalho jornalístico e deve ser feita com atenção, e que a inteligência não é sinônimo de conteúdo gratuito, e sim um recurso.

*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2024 com as faculdades ESPM-RJ, PUC-RJ e Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA).

outras notícias

veja também