Festival 3i 2024: veja como foram os cases apresentados no primeiro dia do evento

Palestrantes detalharam cases nacionais e internacionais de sucesso do universo do jornalismo digital

Por Festival 3i jun 14, 2024

Palestrantes detalharam cases nacionais e internacionais de sucesso do universo do jornalismo digital

Por Festival 3i jun 14, 2024

* Por Letycia Daflon e Matheus Bisaggio

No primeiro dia do Festival 3i 2024, no Rio de Janeiro, palestrantes diversos apresentaram cases nacionais e internacionais de jornalismo. As sessões têm o objetivo de divulgar a estratégia de desenvolvimento de produtos, distribuição, construção de formatos e maneiras como foram pensados os nichos editoriais das iniciativas jornalísticas que mais fizeram sucesso recentemente no mercado digital brasileiro e latino americano. Confira as apresentações que aconteceram na quinta-feira (13):

Experiência do Ciência Suja trabalhando com influencers

Theo Ruprecht, fundador e apresentador do podcast Ciência Suja, apresentou os detalhes da experiência do podcast trabalhando com influencers.

Theo usou como exemplo a nova temporada do podcast em parceria com a equipe do canal do youtube “Olá, Ciência”, e em um episódio sobre suplementos alimentares com a biomédica Bruna Maria. As parcerias ajudaram a aumentar o alcance do podcast, chegando a mais de 140 mil visualizações no YouTube, no 1⁰ lugar em ciências do Spotify nas temporadas de 2023, além de prêmios conquistados após a conexão com os influencers.

“A conexão é a palavra chave para as múltiplas conexões entre jornalistas e instituições para a capitalização da audiência e para a promoção do engajamento”, disse Theo, que criou o podcast junto com Thaís Manarini, Pedro Belo e Felipe Barbosa.

Aquazônia

O projeto Aquazônia reuniu diversos jornalistas de diversas áreas, coordenados por Thiago Medaglia, diretor-executivo da organização de jornalismo Ambiental Media. O case apresentou o contato do grupo com uma consultoria especializada em ciência com o objetivo de identificar o estado das águas da Amazônia no Brasil, que se transformou em um diagnóstico sobre o assunto.

O time da Ambiental Media trabalhou no desenvolvimento do índice de impacto nas águas da Amazônia, guiado por uma cientista, na criação de um mapa 3D da região amazônica, que aborda os alagamentos, áreas desmatadas, entre outras ocorrências ambientais na região e para medir os impactos deles nas bacias hidrográficas. O executivo explicou como o mapa deve ser lido. “O índice tem classificações que partem de impacto baixo a impacto extremo, mostra os rios que não tem visibilidade e são importantes na prevenção de impactos ambientais na Amazônia”, destacou Thiago.

Os próximos passos da Ambiental Media são apurar todos os biomas brasileiros e desenvolver o projeto Rio 60, focado na construção de um índice de vulnerabilidade das favelas do Rio de Janeiro a eventos climáticos extremos, com a ajuda de Inteligência artificial.

Como desenhamos nossa política para uso de IA

Sérgio Spagnuolo, diretor-executivo do Núcleo Jornalismo, trouxe ao Festival 3i o pioneirismo do veículo ao publicar uma política aberta de uso de inteligência artificial na redação, mantendo a ética, a transparência e alinhamento à política editorial como objetivo principal.

Na apresentação, ele ressaltou a importância de uma política de uso da IA e expôs de forma resumida a política do Núcleo. “Nossa política é definida em dois pilares: o editorial voltado para a parte interna e o de produtos e bots. Em cada uma delas, determinamos o que poderemos fazer e nunca faremos com IA”, explicou Sérgio. Ele também destacou a importância de que a política seja enxuta e acessível para o público.

Sobre a possibilidade de os chats artificiais modificarem o cenário do mercado de trabalho no meio jornalístico, Spagnuolo pontuou que “a inteligência artificial não pode substituir a nossa capacidade enquanto jornalistas”.

Cobertura do desmatamento ilegal em Roraima

A jornalista Kendria Cavalcante, editora-chefe de jornalismo na Rede Amazônica Roraima, em parceria com o projeto Conservando Juntos, desenvolvido pela Earth Journalism Network, apresentou o case sobre formatos narrativos de cobertura da Amazônia, com o objetivo de humanizar e dar visibilidade ao desmatamento e seus impactos reais.

Durante a apresentação, Kendria falou sobre o desmatamento ilegal que ocorreu entre janeiro e abril de 2024 no estado de Roraima. Segundo ela, “no primeiro trimestre do ano, mais de 4 mil hectares de vegetação do estado de Roraima foram desmatados,valor equivalente a 5,7 mil campos de futebol”.

Além disso, ela afirmou que a qualidade do ar do estado, após as queimadas ilegais, está cada vez pior. “30% da vegetação foi afetada por queimadas, deixando [a qualidade do ar] em condições piores do que em países como Vietnã” – Hanói, capital do país, é considerada uma das cidades com maior poluição do mundo.

Fátima e a inteligência artificial

O case apresentado por Rhenan Bartels, desenvolvedor de software do Aos Fatos, mostrou a RAG, um framework que conecta LLMs (“Grandes Modelos de Linguagem”, em tradução livre, modelo de aprendizado de máquina treinado para aprender a partir de base de dados) a uma base de dados externa – tudo para evoluir ainda mais a Fátima, bot criado pela organização para se comunicar com usuários a partir das checagens já feitas.

Um dos pontos destacados por Bartels foi a utilização de uma técnica para atualização do LLM, incorporado à Fátima. “Dessa forma, ao invés de depender de dados e treinamento, o modelo LLM é forçado a buscar fontes externas para dar a resposta.”

Outra novidade apresentada pelo desenvolvedor foi a atualização de linguagem da Fátima: “Agora as respostas das perguntas não serão mais via link. Elas passarão a ser de forma natural, com um texto, dando uma resposta mais objetiva”. Sobre os próximos passos para a Fátima, Rhenan revelou que a equipe de Aos Fatos prevê a implementação de múltiplos idiomas e a inserção de busca a partir de imagens enviadas pelos usuários.

Alianza de Medios do México

O palestrante Rodrigo Soberanes, repórter da Alianza de Medios de México, representou o grupo formado por 15 veículos mexicanos que se uniram para fortalecer a cobertura local do país, com foco em segurança pública e direitos humanos.

Soberanes iniciou sua apresentação trazendo um conselho para jornalistas no evento: “É importante falar sobre nossas fontes e não ter medo de falar sobre nossos medos”. Ele deu como exemplo a cobertura via áudio da prisão de venezuelanos na fronteira com o México feita por jornalistas locais que fazem parte da aliança, e também citou outros temas que assolam o país, como o narcotráfico e a falta de transparência do governo.

O resultado, segundo Soberanes, é a marca de mais de um milhão de visualizações por mês, número relevante que demonstra a importância da aliança no México, um país “em que o acesso aos dados tem cada vez se tornado mais complexo”.

Rede Cajueira

As jornalistas e cofundadoras da Cajueira, Mariama Correia e Nayara Felizardo, expuseram no final da tarde o case “Rede Cajueira”, uma curadoria de conteúdos da mídia independente dos estados do Nordeste. Há três anos, a Cajueira publica uma newsletter quinzenal com as notícias apuradas nos nove estados do Nordeste.

A iniciativa luta pela descentralização do jornalismo no Brasil e por mais diversidade regional na imprensa, ainda concentrada nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

As jornalistas destacaram todos os recursos que são disponibilizados pela Cajueira para promover essa descentralização: a newsletter quinzenal, o CajuZap, e a Rede Cajueira, que conta com o primeiro banco de dados de fontes nordestinas no Brasil, com foco em diversificação e descentralização.

Sobre o banco de dados, elas explicaram que os internautas “podem pesquisar por pesquisador, região, estado e área de pesquisa nos nove estados do Nordeste com mais de 2 mil especialistas em 16 áreas de atuação”. Elas ainda revelaram novos projetos em vista, como cursos e workshops que serão produzidos pela rede e disponibilizados de forma gratuita.

A estratégia para criar e manter um canal no WhatsApp

O Mobile Times compartilhou dicas de como criar um canal, as etapas envolvidas na solicitação de verificação e as melhores práticas de produção e gerenciamento de conteúdo em canais do WhatsApp, no case apresentado por Fernando Paiva, diretor-executivo do Mobile Time, site de notícias especializado na cobertura de tecnologia móvel e por isso escreve com recorrência sobre o WhatsApp. Segundo Paiva, ele e sua equipe estavam ansiosos pelo lançamento das comunidades na plataforma, que já eram utilizadas por eles em outros apps, como o Telegram.

O canal no WhatsApp da iniciativa conta atualmente com 47 mil assinantes e esse número chega a ser superior ao de assinantes na newsletter. O canal está entre os principais da plataforma. Seus editores selecionam cuidadosamente as matérias que vão ser postadas nesta rede social, pois uma de suas preocupações é a poluição do feed dos usuários.

É importante ressaltar que essa opção ainda é recente na plataforma e ainda passa por adaptações e aprendizados para ambos os lados, como os usuários e os criadores de conteúdos.

Rede Cidadã InfoAmazonia

A jornalista Helena Bertho Dias, coordenadora da Rede Cidadã InfoAmazonia, apresentou o último case do primeiro dia de evento e reiterou seu objetivo ao criar a rede: conectar comunicadores locais e mídias regionais da Amazônia Legal para criar e difundir conteúdos com temas socioambientais produzidos no território.

O projeto foi criado em 2022 com o objetivo de “unir e fortalecer os veículos independentes da Amazônia, para amplificar a audiência e criar postagens com os grupos participantes da iniciativa”. A Rede Cidadã é pioneira na produção de geojornalismo, usando dados regionais. Helena falou sobre os desafios enfrentados, como a falta de segurança, altos custos e envolvimentos políticos na região.

A palestrante também reiterou que o jornalismo feito pela Rede Cidadã InfoAmazonia não se resume somente à pauta ambiental. Em 2023, a Rede, em parceria com O Vocativo, foram premiados no 4° Prêmio Não Aceito Corrupção pela publicação da matéria sobre o desvio de remédios do SUS que deveriam ser destinados aos povos Yanomami, mas foram desviados por garimpeiros da área.

*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2024 com as faculdades ESPM-RJ, PUC-RJ e Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA).

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