Observatório do Racismo nas Redes traz levantamento inédito ao Festival 3i

Pesquisa “Racismo pra quê? As estratégias dos discursos racistas nas redes” foi baseada na coleta de mais de 217 mil conteúdos de Instagram

Por Festival 3i jun 15, 2024

Pesquisa “Racismo pra quê? As estratégias dos discursos racistas nas redes” foi baseada na coleta de mais de 217 mil conteúdos de Instagram

Por Festival 3i jun 15, 2024

* Por Lucas Adeniran

A plataforma baiana Aláfia Lab, laboratório de pesquisa que se concentra nas áreas que entrelaçam transformação digital e transformação social, apresentou no Festival 3i, nesta sexta-feira (14), levantamento inédito do seu Observatório do Racismo nas Redes. A pesquisa “Racismo pra quê? As estratégias dos discursos racistas nas redes” foi baseada na coleta de mais de 217 mil conteúdos de Instagram identificados como postagens racistas, ou seja, que buscam desumanizar, desqualificar, invisibilizar e desinformar sobre a vida, a cultura e as ações de pessoas negras.

Neste quarto relatório produzido pelo observatório, foram coletadas e analisadas postagens nos perfis de 26 personalidades negras brasileiras, entre as quais o jogador Vinicius Jr., a intelectual Djamila Ribeiro, a jornalista Flávia Oliveira e o ator Lázaro Ramos. “O racismo é um problema estrutural do nosso país e obviamente os temas do digital são os nossos temas caros, e daí surgiu a ideia da gente fazer este observatório, por ver que não existiam tantas iniciativas nesse sentido”, contou Nina Santos, diretora do Aláfia Lab, plataforma que nasceu com o propósito de dar maior visibilidade à cidade mais negra fora da África, Salvador.

A pesquisa surgiu da necessidade de denunciar o racismo nas redes, devido ao crescimento significativo de ataques a pessoas negras proeminentes – em especial o jogador Vinícius Jr., que vem sendo alvo de ataques de ódio por seu posicionamento contra o racismo que tem sofrido na Espanha.

A especialista, que também é coordenadora geral do Desinformante, pesquisadora no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) e integrante do Comitê sobre Integridade Digital e Transparência nas Plataformas de Internet do Tribunal Superior Eleitoral, destacou as cinco dimensões de racismo nas redes:

A aparência: segundo a pesquisa, é uma das vertentes mais visíveis do racismo. Esses ataques usam com frequência comparações de pessoas negras com animais como “macaco” e “urubu”.

Territorialidade: a relação das pessoas negras com territórios marginalizados também é uma vertente relevante. O termo “favelado” explicita uma relação entre ataque racista e território.

Formas de expressão: as maneiras de se expressar são também uma dimensão importante dos ataques racistas. A forma de mexer o corpo e interagir com outras pessoas é questionada. O ato de dançar para comemorar um gol, por exemplo, gerou uma série de ofensas racistas nas redes.

Gênero: a intersecção entre ataques racistas e misóginos é significativa. Portanto, falar de ataques a mulheres negras inclui ainda essa outra dimensão.

Religiosidade: ataques racistas que fazem referência a termos religiosos. O foco principal dos ataques são as religiões de matriz africana, vistas como elemento do mal. O termo “macumbeiro” é frequentemente utilizado.

Nina também pontuou que a sociedade brasileira tende a negar o racismo e mencionou o caso do nigeriano Möise Kabagambe como  exemplo de racismo invisibilizado – ele foi assassinado em janeiro de 2022 no quiosque em que trabalhava, na Praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, após cobrar o pagamento de seu salário. Segundo a pesquisadora, menos de 10% das menções nas redes sociais citavam a questão racial como central nesse fato. Confira o relatório Racismo pra quê: as estratégias dos discursos nas redes na íntegra.

*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2024 com as faculdades ESPM-Rio, PUC-Rio e Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA).

outras notícias

veja também