Festival 3i 2024: especialistas debatem riscos e potencialidades da IA para o jornalismo

Mesa levanta questões sobre monopólio de dados das big techs, remuneração a jornalistas por informações coletadas para bancos de dados e distribuição de informação de qualidade por buscadores e IAs

Por Festival 3i jun 27, 2024

Mesa levanta questões sobre monopólio de dados das big techs, remuneração a jornalistas por informações coletadas para bancos de dados e distribuição de informação de qualidade por buscadores e IAs

Por Festival 3i jun 27, 2024

* Por Carolina Bottino e Felipe Scofield, da PUC-RJ

A inteligência artificial foi o principal assunto de debate durante os três dias do Festival 3i 2024, no Rio de Janeiro. No segundo dia, sexta-feira (14), a mesa “IA e Jornalismo – Riscos e Potencialidades” analisou as possibilidades futuras da nova revolução tecnológica para empresas e profissionais da comunicação. As discussões trouxeram questionamentos sobre o monopólio de dados das big techs, a remuneração a jornalistas por informações coletadas em matérias para bancos de dados e a distribuição de informação de qualidade por buscadores e IAs.

O debate foi realizado por três jornalistas: a americana Courtney Radsch, diretora do Center for Journalism and Liberty, e as brasileiras Nina Santos, da plataforma baiana Aláfia Lab, laboratório de pesquisa que se concentra nas áreas que entrelaçam a transformação digital e social, e Ingrid Fernandes, da AzMina, veículo focado em temas diversos com recorte de gênero. A mesa foi mediada pela jornalista e estrategista digital Ana Freitas, do laboratório de comunicação e narrativas progressistas Quid, que havia apresentado uma oficina sobre o uso da ferramenta para a produção de conteúdo jornalístico no primeiro dia do festival. 

A rapidez na organização e execução de tarefas realizadas pela inteligência artificial são fatores importantes a serem considerados tanto para a análise dos pontos positivos quanto dos negativos relacionados à nova tecnologia. Para Ingrid Fernandes, gerente de tecnologia do Instituto AzMina, a IA pode ser uma aliada na produtividade, mas desde que não prejudique na entrega do conteúdo dos anunciantes.

“É preciso desenvolver e aplicar sistemas que possam classificar, agrupar e separar as informações, mas que também possamos contribuir para essa classificação se isso for interessante. Hoje, os anúncios são entregues de maneira inteligente. Jornais que antes não possuíam nenhum intermediário na entrega das publicidades agora precisam concorrer com o algoritmo das big techs. Há alguns anos esse é um dos maiores riscos da IA para o jornalismo”, destacou Ingrid.

Courtney Radsch enfatizou o avanço das big techs sobre informações colhidas em veículos jornalísticos. Ela acredita que a melhor forma de frear esse “roubo” de dados é regulamentando as Inteligências Artificiais. A partir dessa regulação pode haver o controle de quais dados são coletados pelas empresas e uma melhor definição do que é permitido ou não ser utilizado. Assim, os veículos que quisessem fornecer essas informações tiradas de matérias autorais poderiam ser remunerados por isso.

A especialista em cultura digital Ana Freitas afirmou que é importante saber diferenciar em quais contextos a utilização de inteligência artificial pode ser produtiva e em quais não. Com desafios e benefícios, o uso da nova tecnologia pode tanto otimizar os processos de produção quanto para o aumento da desinformação: “Inteligência artificial é sobre escala. A IA não faz nada que a gente não consiga fazer, mas ela faz muito mais rápido”.

De maneira geral, as maiores questões relacionadas ao uso da tecnologia no ambiente jornalístico se resumem aos seguintes fatores, apontados pelas especialistas:

Riscos

  • Definição da propriedade intelectual: a utilização de IA para a produção de textos torna a identificação dos autores um desafio;
  • Escalada da desinformação: a rapidez dos conteúdos desenvolvidos pelas tecnologias podem potencializar a desinformação, que já cresce em larga escala;
  • Modelo de negócio: o uso indevido das ferramentas de IA podem contribuir para o sucateamento das redações jornalísticas, e, consequentemente, para o conteúdo produzido por elas;
  • Apropriação e uso: o treinamento dos profissionais do jornalismo, assim como o entendimento quanto às regulações para a proteção dos direitos autorais dos conteúdos são desafios a serem enfrentados pelas redações.

Potencialidades

  • Dinamização da informação: a compreensão de tabelas, relatórios e planilhas pode ser simplificada pelas ferramentas de inteligência artificial, tornando as informações mais dinâmicas e descomplicadas;
  • Escalada da produtividade: tarefas repetitivas em meios manuais, como transcrições de áudio e corte de vídeos podem ser otimizadas, sobrando mais tempo para a apuração e desenvolvimento das matérias;
  • Organização de estruturas: é possível entender sistemas complexos, como o desenvolvimento e elaboração de um projeto de lei, a partir da IA.  E assim, possuir um entendimento mais amplo sobre as questões que cercam a sociedade;
  • Ajuda na pré apuração: com a disponibilização de informações sobre uma pauta jornalística, as ferramentas da inteligência artificial podem auxiliar na elaboração de perguntas.

Para Nina Santos, existem três pilares para se pensar em políticas públicas:

1. Regulação de plataformas digitais e IA: criação de uma regulamentação que pense em transparência, em padrões de uso, em respeito à diversidade e valorização da informação de qualidade;
2. Incentivo ao desenvolvimento nacional: uso de tecnologias de IA. Sem a apropriação da nova realidade, haverá sempre uma dependência aos modelos e padrões impostos por países estrangeiros. É necessário tomar o protagonismo desta revolução digital;
3. Construir um imaginário do que queremos de uma sociedade democrática da era digital. O que queremos da integridade da informação? O que significa para nós?

Apesar dos riscos, a IA, regulamentada, pode se tornar uma aliada na prática jornalística. Mesmo sendo uma ferramenta versátil, ela ainda não é capaz de fazer tudo o que se imagina, mas permite que os processos sejam otimizados. Saber aplicar da forma certa é o melhor caminho para se aproveitar dessa tecnologia em vez de resistir às adaptações do mercado. 

Assista à mesa completa:

*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2024 com PUC-Rio, ESPM-Rio e Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha).

Foto de destaque: Heros Cegatta.

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