Festival 3i 2024: veja as oficinas do último dia do evento

Por Festival 3i jun 18, 2024

Workshops discutem desde produtos e cobertura de jornalismo ambiental até a saúde jurídica das organizações

* Por Davi Rosenail e Joana Braga, da ESPM-RJ

A produção de documentário, a violência vivida por jornalistas na cobertura ambiental, a mentalidade de produtos nas redações e a saúde jurídica dos veículos. A diversidade de temas foi a marca das oficinas do terceiro e último dia (15) do Festival 3i 2024. Depois da Casa Firjan, o evento ocupou o campus de Botafogo da Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso), no Rio de Janeiro.

Ao longo do dia, os participantes puderam ouvir sobre o trabalho de palestrantes e dialogar sobre seus próprios projetos nos workshops. Para a presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Katia Brembatti, este é um trunfo do evento: “O Festival 3i melhora a cada ano, por conseguir captar o que o setor e o campo precisam, além de estar antenado com as demandas e antecipando tendências”.

Um ‘correspondente de guerra’ na Amazônia

Há 21 anos, Daniel Camargos iniciou a carreira jornalística pela cobertura de meio ambiente, de conflitos no campo e de questões políticas do país. Hoje, ele é repórter investigativo na Repórter Brasil e acumula seis prêmios de jornalismo, entre eles, o Prêmio Vladimir Herzog.

Parceiro de reportagem do jornalista Dom Philips, assassinado em junho de 2022 em Atalaia do Norte (AM), Daniel Camargos participou ativamente da busca pelo corpo do amigo e de Bruno Pereira, jornalista executado ao lado de Philips naquele ano. Depois do crime, Camargos embarcou em uma jornada pela maior floresta do mundo para refletir sobre o papel dos jornalistas que cobrem os conflitos por recursos naturais. O trabalho deu origem ao documentário “Relatos de um Correspondente da Guerra na Amazônia”, com direção dele e de Ana Aranha e produção da Repórter Brasil.

O repórter investigativo Daniel Camargos conversa com o público sobre os desafios de cobertura na Amazônia devido à segurança.

No longa, o jornalista visita os Guajajara, no Maranhão, povo que se organizou para enfrentar os invasores de suas terras no que classificam como uma guerra – nos últimos 20 anos, foram registradas 50 mortes. Daniel Camargos também foi ao Pará, para visitar as aldeias Munduruku mais distantes das cidades. Lá, os indígenas sofrem os impactos da contaminação por mercúrio usado em garimpos ilegais.

Na oficina, o repórter conta que a violência que os parceiros de trabalho sofreram desencadeou uma pergunta significativa para o seguimento da própria carreira: “Agora eu fico com medo ou sigo com coragem para lutar?”. Para ele, noticiar a violência recorrente na região representa parte da luta que os profissionais da área ambiental devem seguir.

A discussão sobre imparcialidade permeou toda a conversa. Para a estagiária d’O Eco, Júlia Mendes, a forma como Daniel abordou o caso na produção chama atenção. “As pessoas falam sobre ser imparcial, só que a gente tem um lado humano, principalmente no jornalismo ambiental. Existe o medo pela questão de cobertura e segurança, mas mostrar o poder de um jornalista é fundamental”.

Mentalidade de produto nas redações

Na oficina “Como fomentar a mentalidade de produto na minha redação?”, a vice-presidente do board News Product Alliance, Luciana Cardoso explorou uma filosofia que considera essencial nas redações: a mentalidade de produto. Segundo ela, a percepção sobre o tema ainda é recente no meio jornalístico e foi cooptada pelas empresas de tecnologia. “Precisamos trazer isso para dentro do nosso negócio, porque estamos olhando muito internamente e pouco para o exterior, dando atenção reduzida para a audiência”, disse a especialista.

A oficina funcionou como um bate-papo. Luciana expôs a teoria da mentalidade do produto e abordou temas como o design thinking, a criação de personas e as pesquisas para melhor conhecimento da audiência – estas, aliás, fundamentais. Para ela, a troca com a audiência deve ser feita no dia a dia, como forma de aproximar o canal ao consumidor.

Para exemplificar a mentalidade de produto nas redações, Luciana apresentou o modelo de necessidades de usuário da BBC. Os jornalistas do veículo britânico produzem conteúdo com base em seis desejos dos consumidores: detectar tendências, inspirar-se, entreter-se, aprender, ter perspectiva e estar informado.

Mídia kit e portfólio estratégico

Mentora da Blue Engine Collaborative, Isabella Freihat usou a oficina para ressaltar a importância de um mídia kit e de um portfólio estratégico para a atração de anunciantes. A especialista dividiu o workshop em três partes: proposta de valor, mídia kit e boas práticas.A primeira consiste em equilibrar aspectos autênticos e mercadológicos do veículo. Segundo Isabella, o material comercial funciona como esse elo: “Nosso mídia kit tem que ser esse grande ponto de encontro: o que a gente quer vender e o que nós fazemos bem, mas que ainda vale dinheiro e resolve o problema de alguém, uma dor”.

Isabella encerrou a oficina com quatro dicas para a formulação e uso do material:

  • Seja intencional: Aproveitar uma oportunidade é diferente de aceitar qualquer coisa.
  • Tempo é dinheiro: Todo empreendedor deve destinar cerca de 30% do tempo semanal para o setor comercial.
  • Começar pelo começo: A empresa deve pensar de forma cronológica e fazer apenas o que tem condições de realizar no momento, sem se apegar ao futuro.
  • Teste e otimize sempre: Um mídia kit que consiga exprimir o verdadeiro DNA da empresa e que ao mesmo tempo seja atrativo só sai por meio da tentativa e erro.

Checkup de saúde jurídica

Oficial Sênior do Programa Jurídico da Thomson Reuters Foundation, Camila Estella realizou a última oficina da edição 2024 do Festival 3i. Durante as duas horas de workshop, a advogada argentina interagiu com os participantes por meio do site Mentimeter, no qual puderam relatar as suas vivências e desafios com a área jurídica de seus veículos. A especialista abordou ameaças que os jornalistas encaram, detalhes da propriedade intelectual e a importância de se ter um código de ética próprio do veículo.

Camilla também faz parte de uma das maiores redes pro bono do mundo, a TrustLaw. Com uma comunidade aproximada de seis mil membros em mais de 190 países, a organização tem uma ampla rede de advogados no Brasil, na Argentina, na Colômbia e no México. No serviço de assistência legal gratuita global da Thomson Reuters Foundation, as ONGs e as empresas sociais de maior impacto trabalham para criar uma mudança social e ambiental. Isso é possível graças a estudos e equipes corporativas legais, que oferecem assistência jurídica gratuita.

Para Daniel Nardin, membro do projeto Amazônia Vox, aprender sobre o tema é valioso para as organizações, sobretudo num contexto em que jornalistas de modo geral costumam se distanciar da área jurídica – fundamental no exercício da profissão. “Nos trouxe alguns alertas e lembretes para que a gente possa ter mais cuidado com os dados que nós recolhemos para os nossos produtos. Foi bastante esclarecedor e alarmante”, afirmou.

*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo da ESPM-RJ para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2024 com as faculdades ESPM-RJ, PUC-RJ e Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha).

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