Mesas do último dia do Festival 3i 2024 discutem os novos caminhos do jornalismo

Distribuição de conteúdo na era digital e a utilização dos recursos de imagem e som em reportagens são temas de conversa no auditório da Facha

Por Festival 3i jun 28, 2024

Distribuição de conteúdo na era digital e a utilização dos recursos de imagem e som em reportagens são temas de conversa no auditório da Facha

Por Festival 3i jun 28, 2024

* Por Maria Eduarda Reis e Joana Braga, da ESPM-RJ

Pensar estratégias de comunicação e compartilhamento de informações na era das redes sociais. Esse foi o foco da mesa “O que você está fazendo de novo para distribuir seu conteúdo?” no último dia do Festival 3i 2024, sábado (15/06). Mediada por Jessica Santos, editora de relacionamento da Ponte Jornalismo, o debate contou com a participação de Juan Camilo Maldonado, diretor da plataforma colombiana Mutante, Bia Ribeiro, coordenadora de produto e audiência da Rádio Novelo, Alejandro Valdez, cofundador do veículo de jornalismo visual paraguaio El Surtidor, e Mabel Cáceres, fundadora do jornal regional El Búho, que promove a cobertura de conflitos socioambientais em Arequipa, no Peru. 

Durante o debate, os participantes revelaram a metodologia utilizada por seus veículos para alcançar a nova audiência que surge com a chegada do universo digital. Nas redes sociais da Rádio Novelo, maior produtora de podcasts jornalísticos do país, o objetivo é cativar o interesse do público a partir do storytelling em ilustrações e vídeos que exibem trechos dos episódios no Instagram. “Se contamos histórias em áudio, precisamos continuar contando essas histórias na divulgação”, explicou Bia Ribeiro. Além de estratégias para despertar a curiosidade, Bia compartilhou os resultados positivos da newsletter e dos canais no WhatsApp, que permitem o contato mais direto e personalizado com os chamados “superfãs”.

A proximidade com a comunidade também foi uma questão levantada por Juan Camilo Maldonado. No Mutante, veículo de comunicação sem fins lucrativos que analisa conversas públicas na Colômbia e na América Latina, a solução foi investir no jornalismo participativo. Segundo Juan, o caminho é envolver diretamente o público nos processos de investigação e produção jornalística através de três fases: falar, compreender e atuar. “A nossa tese fundamental é de que fazemos jornalismo com as comunidades envolvidas em cada problema”, relatou. Entre as técnicas exploradas, estão as pesquisas em comunidades do WhatsApp, enquetes públicas nas redes sociais e chamadas para ação.

E como ativar o interesse dos jovens? Para responder o questionamento, a história do El Surti serviu de exemplo. Criado em 2016 como uma página do Facebook, o veículo se tornou um dos principais canais de comunicação do Paraguai com a produção de reportagens e ilustrações inovadoras sobre mudanças climáticas, COVID-19 e desinformação. Referência no jornalismo visual, o El Surti optou por alinhar sua produção aos gostos do público mais jovem e transmitir informação através de memes. Além de produzir um conteúdo de fácil entendimento e compartilhamento, Alejandro Valdez destacou a importância de realizar

encontros públicos com a comunidade de leitores. “Ter a atenção do público não basta para gerar impacto e trazer mudanças no mundo real. A questão-chave é o desenvolvimento de uma relação de confiança entre o público e o veículo”, mencionou

A mesa também abordou as dificuldades da transição para o digital. Para Mabel Cáceres, adaptar o El Búho, jornal regional que trabalha há 24 anos para democratizar o acesso à informação no Peru, significou aprender uma nova forma de fazer jornalismo. Hoje, o veículo é totalmente digital e está presente nas principais plataformas, como TikTok e Instagram, além de produzir 5 tipos de newsletters para diferentes grupos de audiência. Ao final, Mabel destacou os benefícios da transição, tanto pela redução dos custos da produção, quanto pela diversificação do conteúdo.

Assista à mesa completa:

O futuro do jornalismo em transformação contínua

Inovação, inspiração e independência são os três pilares do Festival 3i. O foco da mesa-festa de debate que fechou a programação do evento foi a apresentação do novo cenário do jornalismo. Na mesa-festa “O futuro do jornalismo a partir de imagens e sons”, mediada pela professora da UFPE, Fabiana Moraes, os convidados utilizaram referências audiovisuais que representam esse momento marcado pela criatividade e o imediatismo. A mesa contou com a participação de Natália Viana, diretora executiva e cofundadora da Agência Pública, Mariana Filgueiras, jornalista e roteirista, e Pedro Borges, editor-chefe e cofundador do Alma Preta

O ponto de partida da conversa foi a fragmentação do jornalismo, questionamento levantado por Natália Viana. Para ela, em um cenário que coexiste entre o presente e o passado, o antigo sentimento de nostalgia industrial manifestado por profissionais deixou de existir, e a volta dos grandes canais midiáticos ao que eram antes, ou a criação de canais semelhantes, é impossível. “O futuro do jornalismo não existe, nós já estamos em um mundo fragmentado e avançado”, disse Natália.

Para representar a situação informacional hoje, a jornalista apresentou o filme premiado “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” (2022). Além disso, ela utilizou reportagens antigas do que seriam “inovações” da profissão, mas não deram certo, para reafirmar a ideia da importância que as redes transitórias e a articulação política têm para o momento atual.

Na discussão sobre os aspectos que constituem um jornalista, a mesa abordou a produção de reportagens. Com os avanços tecnológicos, debates sobre o uso da Inteligência Artificial para substituir profissionais de texto têm se tornado frequentes, destacando o potencial da ferramenta para otimizar e reduzir custos. Pedro Borges acredita que, apesar dessa inovação, o toque humano na reportagem é essencial, já que o Brasil possui uma ampla diversidade de valores éticos e tradições orais para serem interpretados e reportados de forma coerente somente pela IA.

Pedro também abordou em seu discurso as questões do imediatismo e da imparcialidade no jornalismo. Para desmistificar essas posições, ele trouxe o exemplo do grupo Racionais MC’s, que consegue abordar pautas que espelham a realidade das periferias urbanas brasileiras em músicas de repertório considerado longo. A música “Homem na Estrada” foi utilizada para fortalecer o discurso: “Eu, que trabalho com a cobertura de violência policial, sobretudo com pessoas negras, considero que essa é uma excelente reportagem sobre um crime. Isso tem muita pista do que a gente pode fazer para ter um contato maior com o nosso público”, disse o jornalista. Para além do rap, Pedro apresentou o samba “Liberdade Sonhada”, do Katinguelê, e o funk “Set Vini JR.-Os Pretos No Devido Lugar”, que reuniu treze artistas, entre eles Ludmilla, MC Ryan e Livinho, para complementar a conversa.

A partir da reflexão sobre a utilização de imagens e sons no jornalismo, a transformação de matérias e documentos em narrativas foi um dos pontos abordados por Mariana Filgueiras ao final da roda de conversa. Segundo a roteirista, a incorporação de novos recursos na produção de reportagens permite maior durabilidade do conteúdo, permitindo a reflexão sobre seus efeitos. “Pensando nas reportagens que já tiveram suas vidas em jornais, televisões e podcasts, será que elas não teriam mais perenidade em outras linguagens?”, refletiu.

Como referência de recurso audiovisual, Mariana exibiu a matéria “Guardiãs do Samba”, que produziu em março de 2011 para o jornal O Globo, justificando a ideia de que é possível transformar reportagens em argumentos de cinema. E foi o que aconteceu: hoje, o filme “De Você Fiz Meu Samba”, produzido pela Conspiração e Hysteria, está circulando por festivais e vai entrar no Canal Brasil este ano. O longa reúne cinco histórias de amor contadas por viúvas de famosos sambistas brasileiros e segue como inspiração para jornalistas reinventarem suas reportagens.

Ao final da mesa-festa, a conclusão foi de que o futuro do jornalismo passa pela contínua experimentação e adoção de novas linguagens e tecnologias. A inovação é vital para manter o jornalismo impactante, capaz de se conectar com audiências diversas e contar histórias. A combinação de recursos audiovisuais, o uso de novas plataformas e a valorização das narrativas culturais e sociais do Brasil são caminhos promissores para essa transformação.

Veja na íntegra:

*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2024 com as faculdades ESPM-Rio, PUC-Rio e Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha).

Foto de destaque: Eric Bittencourt.

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