‘Ser muralista é se tornar a voz da sua quebrada’, diz jornalista da Agência Mural

Por Tainah Ramos jun 06, 2023

O programa para formar correspondentes locais, voltado a jovens periféricos, está com inscrições abertas

Há 13 anos, a Agência Mural, associada à Ajor, apoia a formação de jovens comunicadores de bairros periféricos da Grande São Paulo por meio do Programa de Correspondentes Locais, do Clube Mural, que, desde 2010, já impactou 500 profissionais. O objetivo é que eles aprendam a contar as histórias sobre as pessoas, atividades e iniciativas de seus territórios, trazendo suas perspectivas como moradores das comunidades.

“O Programa de Correspondentes Locais começou a atuar de forma mais sistematizada desde o ano passado, incluindo uma trilha exclusiva sobre cobertura nas periferias na plataforma de cursos do Clube Mural, que é o laboratório de experimentos e práticas sobre jornalismo local da Agência Mural”, explica Laiza Lopes, coordenadora do Clube Mural.

A edição de 2023 está com inscrições abertas até o dia 12 de junho. A iniciativa vai selecionar 30 jovens estudantes e formados nas áreas de comunicação, com sessões pensadas para melhorar as habilidades profissionais dos correspondentes locais, conhecidos como muralistas, e também apresentar temas que podem virar pautas. “A agenda de formações do Clube Mural neste ano abordará diferentes temas como: escrita criativa, direitos das juventudes, produção em vídeo, jornalismo investigativo e distribuição de conteúdo”, aponta Laiza.

O treinamento acontece entre julho e dezembro e a expectativa do veículo é que os selecionados consigam desenvolver habilidades que apoiem a construção de conteúdos jornalísticos sobre o território em que vivem, trazendo mais diversidade de localidades para a cobertura da Mural.

Formado em jornalismo em 2021, Wellington Nascimento, de 25 anos, é morador de Cidade Ademar, distrito da zona sul de São Paulo, e participou do programa no ano passado. Hoje, compõe o quadro de correspondentes locais do veículo. Ele conta que durante o treinamento desenvolveu a “visão de muralista”.

 “O que é ter essa visão? É a forma como a periferia deve ser vista. A periferia não é sinônimo de violência e exclusão. Existe muita cultura, riqueza, conhecimento que não são contados e pessoas que não são vistas. É essa visão que você passa a ter do seu território quando entra na Mural. Eu conheci melhor o lugar onde vivi a vida inteira”, explica.

Ao longo do último ano, Wellington teve a oportunidade de escrever sobre sua região de várias perspectivas, como a apresentação das localidades dos times finalistas da Taça das Favelas de 2022 – o campeonato de futebol realizado pela Cufa (Central Única das Favelas) –, a história de moradores de Cidade Ademar que lutam contra desapropriação de suas casas e a de um professor que constrói miniaturas de elementos das favelas com materiais recicláveis.

Para o jornalista, a trajetória no veículo foi importante principalmente pelo contato com as pessoas do seu próprio bairro. “O brilho no olho das pessoas ao serem reconhecidas e valorizadas na sua comunidade não tem preço. Você tira a pessoa da invisibilidade. Uma grande mídia, por exemplo, jamais iria chegar até ela porque simplesmente é um bairro esquecido.” O jovem ainda relata que o apoio e a mentoria da equipe da Mural é um diferencial para aprender a narrar histórias e fazer jornalismo local. 

“O conselho que dou para quem está em dúvida sobre se inscrever para o programa é: seja sim um correspondente local da Mural. Ser muralista é você se sentir pertencente ao seu bairro, ao seu distrito e você se torna a voz da sua quebrada”, completa.

Laiza explica que, assim como Wellington, os participantes terão a oportunidade de entrar para a rede de correspondentes locais da Agência Mural, “a depender da participação ao longo do programa – presença nos treinamentos e reuniões, desenvolvimento de reportagem sobre o bairro em que mora”.

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