Revista O Grito! amplia cobertura cultural com selo de HQs

Por Tainah Ramos jun 21, 2023

Primeira obra do projeto traz conteúdo com temática LGBTQIA+ e será lançada em dezembro

Após uma década de cobertura cultural com olhar atento sobre a cena independente, a Revista O Grito!, associada à Ajor, possui agora um selo de publicações impressas, voltado para histórias em quadrinhos, as HQs. O gênero cresceu ao longo da pandemia ao redor do mundo e se tornou o segundo mais consumido, atrás apenas do romance, segundo pesquisa realizada em livrarias físicas e digitais pela GfK, empresa alemã de estudos de mercado. 

A iniciativa marca mais um passo da organização para a diversificação de suas fontes de receita, inclusive fora do ambiente digital. Editor-chefe da Revista O Grito!, Paulo Floro explica a estratégia e a complementação entre a produção impressa e  digital: “Muita gente não associa ter produtos e experiências offline sendo um produto digital, mas eu acredito que dá para fazer. Não só com livro. Temos visto experiências em outros países e no Brasil também de sites que criam atividades fora do ambiente digital para engajar o público”.

Para ele, a publicação impressa funciona bastante para determinados nichos, como é o caso dos leitores de quadrinhos – que gostam de colecionar, frequentar encontros e ir a lançamentos. “Os eventos depois da pandemia voltaram com muita força. Fomos agora para a POC Con, em São Paulo, que é um evento de quadrinhos LGBTQIA+, era gratuito e estava lotado, as pessoas ficaram uma hora na fila para entrar”, explica. Na ocasião, o veículo lançou a HQ “Fim de Tarde”, do cineasta e quadrinista pernambucano Chico Lacerda. 

A relação da revista com as HQs

O aprofundamento da cobertura sobre o tema começou com a percepção de que as mídias tradicionais e outros veículos de jornalismo cultural não cobriam a cena com tanto afinco, mesmo existindo uma enorme quantidade de produções. Floro conta que por muito tempo as HQs foram associadas aos super heróis e como um produto para crianças, mas que, na verdade, se trata de uma arte plural que discute temas relevantes da atualidade.

Ao longo de sua trajetória, O Grito! se dedicou a cobrir especialmente obras brasileiras e autorais, com o mesmo rigor jornalístico que se cobre cinema, exposições e música, afirma o editor-chefe da organização. O investimento teve retorno: a revista se tornou uma referência entre os próprios quadrinistas.

Outros dois produtos impressos – a “Plaf”, lançada em 2017, e a “Plaf Apresenta”, que estreou em 2022 – passam também a integrar o selo. A primeira conta com sete números publicados e é um projeto jornalístico especializado em quadrinhos inéditos para dialogar com os leitores do gênero no país. Já a segunda é uma coletânea de produções de quadrinistas e ilustradores que destaca a diversidade regional e estética da cena brasileira.

O que esperar do selo

A iniciativa vai lançar ainda neste ano a antologia “Fora do Padrão: 40 Anos de Quadrinhos LGBTQIA+”, versão traduzida para o português brasileiro do best-seller estadunidense “No Straight Lines” (2012), organizado por Justin Hall, reunindo trabalhos de autores consagrados, como Alison Bechdel (“Perigosas Sapatas”), Howard Cruse (“Stuck Rubber Baby – Como Viemos ao Mundo”) e Ralf Koenig (“O Homem Ideal”). O livro reúne também artistas alternativos que contrapõem o cenário cisheteronormativo da produção no país.

“Fora do Padrão” marca a estreia do selo, que tem três focos bem definidos. Primeiro, as produções que narram histórias sobre cultura e arte de modo geral, dialogando com a cobertura do próprio site. Um exemplo de HQ que aborda esse tema e foi coberta pelo veículo é a “Pedra D’Água”, de Clarice Hoffmann e Greg Vieira, que investiga a relação da escritora Clarice Lispector com o Recife, em Pernambuco. O segundo eixo são obras feitas por e para grupos minorizados, trazendo criações de pessoas racializadas, LGBTQIA+ e mulheres, forte dentro do projeto editorial do veículo.

Por fim, o selo vai ser integrado também pelo jornalismo cultural em quadrinhos, que também já tem sido feito pela revista O Grito! na editoria “HQ de Fato”, a qual publicou histórias como a de Eduardo das Neves, conhecido como Diamante Negro, o primeiro cantor negro a gravar uma música no Brasil.

O lançamento do projeto está previsto para dezembro, durante a CCXP 2023, a maior feira de quadrinhos do mundo, em São Paulo. A partir do financiamento coletivo no Catarse, é possível já adquirir a obra com um desconto em relação ao preço de capa e outras recompensas. 

Imagem: Reprodução/Revista O Grito!

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