Entenda o que está por trás do sucesso do programa, que semanalmente traz relatos independentes produzidos por diferentes profissionais
Conhecida e premiada pelas séries narrativas em podcast, como “Praia dos Ossos”, “Projeto Querino” e “Crime e Castigo”, a Rádio Novelo, organização associada à Ajor, tem apostado também em histórias mais curtas a partir do “Rádio Novelo Apresenta”.
Um podcast narrativo é aquele que tem a história como carro-chefe, sendo roteirizado com personagens, cenas e sequências de acontecimentos, semelhante a um documentário. Embora o formato mais ouvido no Brasil ainda seja o de entrevistas, os narrativos têm conquistado o público aos poucos. O próprio Apresenta é um exemplo disso. Desde que foi lançado, em 17 de novembro de 2022, os mais de 30 episódios disponíveis já ultrapassaram a marca de três milhões de downloads.
A ideia de contar relatos pequenos e interessantes vem principalmente de uma lacuna no mercado de podcasts brasileiro: não havia um espaço para repórteres e produtores publicarem suas narrativas em áudio como freelancers. “Para poder fazer isso, a pessoa era forçada a criar um podcast do zero – o que dá muito trabalho. Fazendo uma analogia com o mundo do jornalismo em texto, seria como se um repórter tivesse que criar um site novo ou imprimir uma publicação de forma independente sempre que quisesse contar uma história”, explica a jornalista e produtora da Novelo, Natália Silva.
Os episódios do programa são divididos em dois atos. Natália conta que os pares são formados organicamente, sem que o produtor de uma narrativa saiba a do outro: “Em geral, as histórias do Apresenta tem arco narrativo bem definido, bons personagens e não deixam os ouvintes no mesmo lugar de partida. Além de uma sequência de ações, nós procuramos histórias que tenham uma camada reflexiva”. Para a produtora, é essa dimensão que une os atos.
A estratégia do storytelling no áudio se configura por técnicas de roteiro e apresentação que trazem um modo envolvente de contar uma boa história. A jornalista listou três dicas para roteirizar narrativas em podcasts, com base na experiência do Apresenta:
Uma coisa que eu finalmente entendi fazendo roteiros do Apresenta é que menos pode ser muito mais. A gente repete essa frase com frequência, mas nem sempre coloca em prática na hora de escrever. Nenhum roteiro ou texto é a obra definitiva sobre um tema, então resista a tentação de tentar produzir um conteúdo excessivamente completo. Bombardear o ouvinte, leitor ou espectador com informação pode desnorteá-lo e, tão ruim ou pior do que isso, deixá-lo entediado.
Tem uma dica que eu roubei de um dos meus manuais de escrita preferidos, o livro “Como Escrever Bem”, do William Zinsser. O autor diz que todo texto de não-ficção bem sucedido deve provocar no leitor pelo menos um pensamento que ele nunca teve antes. Eu acho que publicar uma informação inédita – um furo de reportagem, no jargão jornalístico – pode ser tão valioso quanto oferecer um olhar fresco sobre algum acontecimento ou tema. Seja honesto com você mesmo sobre quão nova é a história que você pretende contar. Se um texto ou roteiro estiver te soando muito parecido com algo que você já leu ou ouviu por aí, continue cavando para encontrar um enfoque original.
Essa dica pode soar um pouco como um “beba água”, aquele conselho tão repetido que perde o impacto, mas eu vou apostar nela mesmo assim porque eu acho fundamental. Leia muito, ouça muito ou veja muito o tipo de conteúdo que você pretende produzir. Eu me canso de cruzar com pessoas que dizem que querem fazer podcast, mas ouviram pouquíssimos. Sem repertório, é impossível desenvolver a sensibilidade para identificar boas histórias e a capacidade para contá-las.
