A pesquisa Perfil Racial da Imprensa Brasileira revela que a proporção de pessoas negras nas redações não acompanha a proporção da população negra no País. Em dados absolutos, segundo o IBGE, aproximadamente 56% da população é negra, enquanto nas redações isso não se reflete, tendo apenas 20% do/as jornalistas.
A pesquisa foi realizada por Portal dos Jornalistas, Instituto CORDA Rede de Projetos e Pesquisas e a I’MAX e entre suas análises está uma amostra probabilística com 1000 profissionais para compreender a proporção racial e de gênero entre os jornalistas de redação no País. Os objetivos principais do estudo são contribuir à sociedade informações a respeito do perfil racial dos/as jornalistas no país, analisar os impactos desse perfil racial em relação à própria produção jornalística e gerar insights para que o mercado jornalístico possa ser mais inclusivo.
Segundo o responsável pela pesquisa e diretor do Instituto Corda, Maurício Bandeira, “nas redações, no jornalismo, a reversão dessa situação só poderá ocorrer se, de fato, ações antirracistas forem implementadas com vigor e amplitude, o que até agora não se apresenta, salvo raras exceções.”
A importância de políticas de inclusão
O estudo também revela que a presença de negros nas redações pode estar ligada a diferentes políticas para favorecer o ingresso em cursos superiores. A utilização do FIES (11,4% contra 5,7%) e do PROUNI (17% contra 5,7%) foi maior entre negros do que entre brancos que participaram da pesquisa. As cotas universitárias para pessoas negras também parecem contribuir para a presença desses profissionais nas redações, uma vez que, de acordo com o estudo, 22,4% dos jornalistas negros ouvidos na pesquisa ingressaram na universidade por meio dessa ação afirmativa.
Bandeira pondera que as empresas deveriam operar com uma lógica similar à dos exames vestibulares, beneficiando pessoas não brancas na hora da contratação: “Essa desproporção nas redações só pode ser superada com políticas nas empresas de comunicação, tal qual a política de cotas nas universidades, que mirem explicitamente o objetivo de promover a pluralidade racial nas redações. Como isso ainda não é o que ocorre, a pesquisa pôde captar os resultados de desigualdade presente no jornalismo.”
É essencial ter uma imprensa diversa
Para Bandeira, a pesquisa tem potencial para auxiliar na elaboração de ações que diminuam as desigualdades ao confirmar questões importantes das condições dentro do mercado de trabalho e no cotidiano da imprensa. Para ele, “ o estudo deu contornos nítidos aos problemas que são enfrentados, e que devem ser combatidos, como: maior dificuldade de ascensão do profissional negro, fontes negras são menos procuradas para as pautas em geral e pautas que digam respeito a questões sobre o racismo, sobre a vida de negros e pobres são, em geral, desprezadas.”
O diretor do Portal dos Jornalistas, Eduardo Ribeiro, também reitera que a inclusão de pessoas negras no âmbito do jornalismo é não apenas um compromisso social, mas uma decisão empresarial inteligente: “Em um país em que a população é majoritariamente negra, ganhará mercado quem propor conteúdos e projetos alinhados com a diversidade, que explore com grandeza e lucidez o antirracismo.”
Os dados completos do Perfil Racial da Imprensa Brasileira estão disponíveis neste link.