Abraji lança primeira edição de relatório sobre ataques contra jornalistas no Brasil

Por Victor Moura abr 11, 2022

Na última quinta-feira (7) – Dia da Liberdade de Imprensa, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou a primeira edição do relatório de monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil, com ênfase em 2021. O documento apresenta dados e análises gerais sobre episódios de violência contra jornalistas, comunicadores e meios de comunicação no país. 

O relatório é produto de um acompanhamento anual de restrições à liberdade de imprensa feito pela Associação há nove anos. Desde 2019, o monitoramento passou a integrar a rede latino-americana Voces Del Sur e, assim, aglutinar ajustes metodológicos, alcance continental e publicações anuais no Relatório Sombra Regional

O trabalho produzido pela organização registrou 453 ataques em 2021, um aumento de 23,4% em relação ao ano anterior. Em conversa com a equipe da Ajor, a vice-presidente da Abraji, Katia Brembatti, ressalta que o ponto mais crítico do relatório é a tentativa de legitimação de ataques. 

“O presidente Jair Bolsonaro responde sozinho por cerca de 20% dos registros do período. É inadmissível que a autoridade máxima do país aja com tamanho desprezo a uma profissão tão importante para a sociedade. E a ação dele tem perceptível efeito em cadeia, levando outros apoiadores a agir da mesma forma, contribuindo para o crescente aumento de casos”, expõe.

Lançado em uma data importante para a imprensa brasileira, o relatório tem como objetivo identificar e agir – cobrando autoridades e plataformas digitais medidas para combater o problema. “Evitar ataques não é possível, mas é viável cobrar responsabilização, prevenir com medidas de treinamento que disponibilizamos e proteger também por meio de ferramentas e guias que oferecemos a jornalistas”, argumenta a vice-presidente. 

Além deste ponto, o recorte de gênero foi evidenciado com o devido destaque. A Abraji identificou 45 (9,9%) episódios em que os ataques foram realizados com base na identidade de gênero, sexualidade ou orientação sexual de jornalistas e comunicadores. 

Paralelamente ao acompanhamento de agressões gerais à imprensa e a seus profissionais, a entidade realizou um monitoramento de violência de gênero contra jornalistas. O relatório desse projeto, que contou com o financiamento da UNESCO, foi lançado em 8 de março e está disponível on-line. Os dados sumarizados também podem ser encontrados na plataforma do projeto, em constante atualização.

Além de oferecer um panorama dos ataques contra jornalistas no Brasil, o documento também traz recomendações para lidar com o problema. As sugestões são direcionadas ao poder público, meios de comunicação, plataformas digitais e aos próprios profissionais, reunindo informações de segurança, orientações para políticas públicas, indicações de medidas institucionais e organizacionais, e um apelo à necessidade de responsabilização dos agressores, especialmente quando são atores ligados ao Estado.

Até por isso, o trabalho pretende ter seguimento útil, como salienta Brembatti. “A intenção é continuar monitorando, cobrando responsabilidade e treinando jornalistas para que saibam como agir em diferentes situações.”

O relatório já está disponível, acesse este link

 

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