Associadas à Ajor mostram como veículos jornalísticos e universidades podem cooperar

Por Tainah Ramos mar 13, 2024

Formulação de políticas públicas, monitoramento de legislação e combate ao discurso de ódio são algumas das parcerias firmadas

“Em tempos de negacionismo e desinformação acelerada, é necessário que a ciência e o jornalismo sejam aliados e caminhem juntos”, afirma Ana Paula Morales, jornalista, pesquisadora e cofundadora da Agência Bori, organização que busca conectar jornalistas a cientistas de diversas áreas.

A Bori foi fundada com a missão de criar essa conexão entre os dois mundos por meio de antecipação de estudos explicados para a imprensa, disponibilização de banco de fontes e workshops. “A ciência ganha visibilidade ao se tornar pauta pública, e o jornalismo é fortalecido pelas evidências científicas”, explica Morales.

Essa interação tem sido cada vez mais aproveitada para trazer profundidade e qualidade às informações disseminadas por organizações de mídia. Um exemplo é o Nexo Políticas Públicas, plataforma do Nexo Jornal, que proporciona um espaço de divulgação da produção científica em diferentes formatos, como infográficos, linhas do tempo e glossários.

“A plataforma publica conteúdos que aprofundam diversos temas da agenda pública nacional, contribuindo dessa forma para ampliar o acesso de informações e dados e, assim, qualificar o debate público. Ao mesmo tempo, o Nexo Políticas Públicas cumpre um papel importante, uma vez que se tornou um espaço para os centros de pesquisa parceiros divulgarem seus trabalhos junto a públicos que não necessariamente iriam alcançar”, detalha a editora do projeto, Ana Beatriz Miraglia.

Para Miraglia, a plataforma funciona como um repositório de conhecimento produzido em diferentes temáticas e demonstra a importância da produção científica para o desenvolvimento do país para um público mais amplo e não apenas para especialistas, além de aprimorar a cobertura e a abordagem do próprio veículo sobre esses temas.

A editora ressalta que a pesquisa acadêmica é um dos pilares para a formulação, implementação e avaliação das políticas públicas. Desse modo, tornar o conhecimento científico acessível para tomadores de decisão, gestores públicos e população em geral contribui para qualificar a discussão e ações nesse campo.

Monitorando documentos públicos

Desde o dia 27 de fevereiro, pesquisadores brasileiros podem se cadastrar no Ciência Monitorada, um projeto do Núcleo Jornalismo, com parceria da Bori. O objetivo é facilitar o monitoramento de documentos públicos brasileiros pela comunidade científica, a partir do Legislatech, ferramenta do Núcleo capaz de acompanhar temas específicos de modo customizado.

O Ciência Monitorada garante que cientistas tenham acesso gratuito à plataforma por um ano para observar documentos públicos, tramitações em casas legislativas e notícias. “Se ficarmos todos – academia e imprensa – de olho nas discussões do país que envolvem temas de ciência, podemos nos unir para que a pauta ganhe repercussão, via imprensa, com base nas evidências científicas produzidas diariamente pelos nossos pesquisadores. Assim, quem sabe, as grandes decisões do país possam se tornar mais efetivas, se finalmente forem tomadas com base em evidências sólidas e de qualidade”, resume Ana Paula Morales.

Combatendo a desinformação de gênero

Discursos de ódio e fake news, que se espalham nas redes sociais e fóruns online, envolvendo mulheres e a comunidade LGBTQIA+, especialmente pessoas trans, são frequentemente temáticas de pesquisadores. Um dos projetos que acompanham essa dinâmica é “A internet como campo de disputas pela igualdade de gênero”, do LEGH (Laboratório de Estudos de Gênero e História), da Universidade Federal de Santa Catarina.

A partir de materiais, como uma cartilha educativa, podcasts, ebook e artigos, a iniciativa busca compreender o ambiente digital como um espaço público de construção e discussão. O Portal Catarinas ficou responsável pela campanha de divulgação científica. “Fomos convidadas a colaborar com a pesquisa, roteiro, edição e divulgação de uma série de oito vídeos que buscam tornar mais acessíveis termos e conceitos comuns nos estudos de gênero, feminismos e sexualidades. As produções possuem linguagem coloquial e didática, pois foram pensadas para as redes sociais e têm o propósito de alcançar, especialmente, o público jovem e adolescente”, conta a repórter e assistente de roteiro, Kelly Ribeiro.

O principal objetivo da parceria com o LEGH é tornar a ciência mais acessível e compreensível para fazer frente à desinformação e a ideologias misóginas e preconceituosas.

Ribeiro destaca que muitos dos temas sobre gênero são explorados há bastante tempo no meio acadêmico, mas ainda soam confusos para uma parte do público. “Entendemos que isso acaba afastando as pessoas de debates fundamentais para a compreensão da nossa sociedade e, consequentemente, também as afasta da construção de soluções para os problemas sociais que temos.”

Foto: John Schnobrich/Unsplash.

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