Ato em defesa do jornalismo e da democracia reúne profissionais e entidades em São Paulo

Por Ajor set 28, 2022

Estudantes, jornalistas e representantes de organizações da sociedade civil se reuniram nesta terça (27), em São Paulo, para Ato em Defesa do Jornalismo e da Democracia.

Iniciativa foi organizada pelas entidades: Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Repórteres sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Fotógrafas e Fotógrafos pela Democracia, Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos, Centro Acadêmico Vladimir Herzog e Centro Acadêmico Benevides Paixão.

Ato reuniu dezenas de pessoas em auditório da PUC, em São Paulo. Foto: Cassia Belini

Durante o evento, Patrícia Campos Mello e Bianca Santana, além de outras mulheres jornalistas vítimas de agressões e ataques promovidos pelo atual presidente da República e seus apoiadores, compartilharam suas histórias por meio de depoimentos em vídeo.

As entidades organizadoras também apresentaram os números mais recentes da violência contra as e os jornalistas e divulgaram um manifesto unificado em defesa do livre exercício do jornalismo e da democracia.

Leia na íntegra:

EM DEFESA DO JORNALISMO E DA DEMOCRACIA

Nós, jornalistas, recebemos em junho deste ano uma das notícias mais devastadoras em tempos já marcados por tantas perdas e dores. Todas e todos os profissionais da imprensa também morreram um pouco quando o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram covardemente assassinados enquanto realizavam o seu trabalho.

Um crime ocorrido na Amazônia, em uma longínqua região do Brasil, do ponto de vista daqueles que vivem nas grandes cidades, poderia ser considerado um trágico e isolado episódio. Mas não. As mortes de Dom e de Bruno foram a materialização mais cruel e devastadora das centenas de casos de ameaças, agressões, ataques virtuais e físicos e tentativas explícitas de silenciamento que jornalistas enfrentam nos últimos anos.

Ser jornalista no Brasil é uma profissão de alto risco. Para profissionais que trabalham em grandes e tradicionais redações ou em veículos digitais e independentes. Quem exerce sua profissão nas metrópoles ou os que lutam bravamente para prover informações nos tantos desertos de notícias que se espalham pelo país. Jornalistas que cobrem a grande política nacional ou os fatos do cotidiano. Estamos expostos, realizando nosso ofício em permanente estado de tensão e insegurança.

Para as mulheres,  isso é ainda pior. São ataques de evidente cunho machista e misógino, em linchamentos virtuais, divulgação e exposição de dados pessoais, e ameaças com gestos e palavras  em coletivas de imprensa, entrevistas e coberturas na rua. 

É verdade que trabalhar com jornalismo no Brasil nunca foi fácil. Durante boa parte do século 20, exercemos nosso trabalho sob regimes ditatoriais que impuseram a censura, a intimidação, o silenciamento da imprensa e a morte de jornalistas, como no caso de Vladimir Herzog. E, mesmo em um passado recente, os crimes que enlutaram nossa categoria, como o assassinato de Tim Lopes, há 20 anos, são lembretes de nossas enormes fragilidades e contradições enquanto nação.

Mas é incontestável afirmar que desde o dia 1º de janeiro de 2019, nossa profissão se tornou ainda mais perigosa. Jair Bolsonaro elegeu os jornalistas como inimigos, por meio de permanentes tentativas de descredibilização, ridicularização, ameaças e ataques diretos.

Como era de se esperar, a postura vinda do chefe do Poder Executivo estimulou seus apoiadores a fazer o mesmo contra a nossa categoria. Como indicam os diferentes estudos das organizações que defendem o jornalismo e os jornalistas, nos tornamos alvo dos desejos autoritários de silenciar a livre circulação de informações. Se de fato não estivéssemos enfrentando um verdadeiro projeto obscurantista de poder, por que tanto medo em enfrentar as perguntas de repórteres, os questionamentos que são inerentes à democracia?

Neste ano, desde o início do período eleitoral, os ataques, ameaças e tentativas de censura crescem dia após dia. As entidades aqui presentes estão unidas com a certeza de que precisamos dar um basta ao ódio e à violência. De maneira coletiva, nossa categoria se levanta para defender o jornalismo, a liberdade de imprensa e a democracia.

Nós, jornalistas, estivemos na linha de frente na cobertura da pandemia e reafirmamos nossa função social para a sociedade. Neste ano, mais uma vez, comprovamos que o nosso trabalho é fundamental para o fortalecimento da soberania popular. E, agora, afirmamos de maneira firme e determinada que não aceitaremos nenhum tipo de intimidação, de ameaça à nossa profissão e as demonstrações golpistas que tentam destruir nossa democracia.

Nós resistimos e resistiremos. Seguiremos cumprindo nosso dever de levar informações de interesse público para toda a sociedade, com ética jornalística e profissionalismo. E temos certeza de que o medo, o ódio e a violência não vencerão. Viva a democracia, o povo brasileiro e a luta de cada jornalista deste país!

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