2023 foi o ano em que voltamos a respirar. Não foi fácil ser jornalista no Brasil, especialmente de 2018 a 2022, quando as dificuldades enfrentadas especialmente por quem escolheu empreender no campo se somavam a ataques diários e ao clima de ameaça aos profissionais de imprensa por autoridades políticas nos mais altos cargos oficiais. Como se já não fosse pouco, estivemos também na linha de frente da cobertura da mais grave crise sanitária da história do país e do processo eleitoral mais importante da nossa democracia recente.
Neste sentido, o ano que termina trouxe um pouco mais de ar para o jornalismo brasileiro. Nos permitiu tomar fôlego, como quem alcança a superfície depois de um mergulho profundo, e voltar a trabalhar com um pouco mais de leveza e tempo para fazer reflexões e planejar o futuro. Foi assim também na Ajor, que nasceu em 2021, no olho do furacão. Nos ocupamos não apenas das demandas urgentes, como os ataques a jornalistas porque as ameaças são diárias e reais, mas pudemos também planejar o futuro da Associação e das associadas.
Também foi o ano que elegemos um novo Conselho Deliberativo e Executivo (este que vos escreve) para o biênio 23-25. Uma chapa de continuidade, que recebeu do conselho anterior um planejamento estratégico minucioso e uma equipe extremamente competente e dedicada. Mas a Ajor cresceu muito, especialmente no Norte e no Nordeste, onde passamos de uma para quatro associadas e de 13 para 25, respectivamente. Hoje, somos 137 organizações, de todas as regiões brasileiras, dos centros e das periferias, com ou sem fins lucrativos e de vários nichos, linhas editoriais e formatos diferentes.
Esta diversidade é a nossa grande força. Tanto que a Ajor tem sido muito demandada para atuar em várias frentes ligadas ao Jornalismo e a outras pautas igualmente importantes, como a defesa dos Direitos Humanos e da democracia. Já nos tornamos referência, não só no nosso campo, mas estamos no radar de articulações internacionais, movimentos sociais, coalizões por direitos e outros atores políticos.
Estas demandas e a incidência que a Ajor passou a ter têm a ver com a qualidade do trabalho da equipe, mas também com a credibilidade, a qualidade e o impacto do nosso trabalho enquanto organizações que fazem a Ajor. Basta olhar as páginas de associadas para reconhecer que aqui estão representantes de quem faz jornalismo de interesse público, de qualidade, inovador e transformador no Brasil de hoje.
Mas tanta diversidade também nos impõe grandes desafios. As associadas têm características, tamanhos e se encontram em estágios muito diferentes de organização e de gestão. Somos desde organizações jovens, ainda muito pequenas, cujos principais desafios estão ligados à sustentabilidade financeira, mas também outras que são grandes referências nacionais em jornalismo, que tiveram e têm papéis muito importantes na história recente do país, no combate à desinformação, na qualificação do debate público. Há também as que estão no meio do caminho. Ou seja, nem são tão pequenas quanto as que estão começando, mas ainda não estão no patamar das maiores.
Trabalhamos muito para atender a todas e para que todas tenham motivos para estar na Ajor, queiram continuar fazendo parte desta rede, inédita e única no ecossistema do jornalismo brasileiro, e se sintam representadas nos projetos, programas, no Festival 3i e em tudo que a Ajor faz.
Estas ações estão ligadas aos nossos três eixos principais de atuação: Empreendedorismo e Fomento, Defesa da Democracia e Diversidade.
No eixo de Empreendedorismo, participamos de debates importantes. Em Brasília, onde completamos o primeiro ano de atuação, acompanhamos os PLs 2630, 2370 e 1354, que tratam da regulamentação das plataformas e da remuneração do Jornalismo, entre outras pautas, e qualificamos o debate sobre políticas públicas de fomento ao Jornalismo de interesse público. Ainda neste eixo, articulamos iniciativas de apoio ao desenvolvimento institucional de organizações que beneficiaram diretamente 74 associadas em programas de transformação digital, desenvolvimento de audiência, estratégias de publicidade digital e bolsas de reportagem e tivemos papel consultivo no desenho de um piloto de fundo das filantropias voltado para desenvolvimento institucional de organizações de jornalismo brasileiras.
No eixo de defesa da Democracia, passamos a integrar o Observatório Nacional de Violência Contra Jornalistas e Comunicadores e participamos de grupos de trabalho sobre gênero, ataques digitais e combate ao assédio judicial, em espaços de interlocução com o Supremo Tribunal Federal e o Ministério Público de São Paulo.
Já no eixo de Diversidade, focamos na diversidade regional: fizemos uma pesquisa sobre o ecossistema de mídia nativa digital no Matopiba e na Amazônia Legal e realizamos buscas ativas de novas associadas também no Nordeste, onde aconteceu a edição regional do Festival 3i, no dia 1º de dezembro, em Fortaleza, no Ceará.
Neste ano, a Ajor também esteve junto às associadas em ambientes digitais, como em 14 conversas temáticas entre as associadas (chamadas de Conversas em Off), com em média 40 inscritos por sessão, e em eventos presenciais, como o Congresso da Abraji; o TechCamp, em Belém; e o Media Party, em Buenos Aires. Para 2024 queremos mais e queremos contar com todo mundo. Resolvemos ampliar os espaços de escuta e de participação das associadas e passaremos a ter reuniões gerais bimestrais, conversas com a presidenta (mensais), mais Conversas em Off e reuniões por grupos de interesses.
Certamente será um ano de muito trabalho, mas será também tempo de colher bons frutos dos projetos em curso e de lançar novas sementes no sentido de ampliar os benefícios para todas as associadas e construir um ecossistema de mídia nativa digital no Brasil ainda mais sólido, diverso e sustentável.
Tenham todos e todas um Feliz Natal e um Ano-Novo próspero e cheio de esperança!
Conselho Deliberativo e Executivo da Ajor
Carolina Monteiro – Presidente
Vitor Conceição – Vice-presidente
Conselheiros
Antonio Junião
Daniele Moura
Marcelo Zágon
Maristela Crispim
Maria Martha Bruno
Michel Silva
Paulo André Vieira
Rafael Duarte
Raquel Salgado
