Canais do WhatsApp: quais as percepções de organizações de jornalismo digital sobre os primeiros meses da ferramenta?

Por Tainah Ramos nov 29, 2023

Novo recurso da plataforma é promissor, mas ainda não gerou grandes impactos de audiência

Lançada em setembro, a ferramenta de canais no WhatsApp permite que usuários recebam atualizações sobre organizações e personalidades diretamente no aplicativo. É possível acessá-lo na aba “Atualizações”, separada das conversas, onde está também o “Status”.

O objetivo da plataforma com esse serviço é garantir a privacidade de administradores e seguidores, uma vez que o número de telefone e a foto do perfil dos usuários de um canal não são exibidos.

O recurso chamou a atenção de veículos de comunicação, que começaram a apostar nos canais como meio de distribuição de notícias. A estratégia segue a tendência de consumo de informação da população brasileira. Segundo o Digital News Report 2023, o WhatsApp é a plataforma digital mais utilizada para se informar entre brasileiros.

A Ajor ouviu as experiências de três organizações associadas que já implementaram o novo recurso na rotina de distribuição de notícias e produtos. Representantes da Agência Pública, do Aos Fatos e do Manual do Usuário veem os canais como promissores, mas afirmam que os resultados ainda não são tão animadores e que existem ajustes que poderiam melhorar a função para organizações de jornalismo, especialmente fora da mídia tradicional.

“O fato da busca só retornar canais verificados acaba limitando o potencial do canal e desestimula maiores investimentos”, afirma Rodrigo Ghedin, fundador do Manual do Usuário. Ao acessar o recurso pelo celular, é exibida uma lista geral de canais, com o filtro para o Brasil. O usuário também pode acessar os canais “mais ativos”, “mais procurados” e “novos”, todos eles com selo de verificação.

Com apenas canais verificados na pesquisa, Ghedin  acredita que a ferramenta limita que veículos independentes e locais, por exemplo, alcancem novas audiências ou mesmo se conectem de modo mais eficiente com seus leitores. “O uso que estou fazendo é muito similar ao que já faço há anos no Telegram”, explica. Atualmente o canal possui cerca de 340 inscritos, um pouco mais de 10% dos usuários que o veículo reúne no Telegram. 

Até o momento, o Aos Fatos é a única agência de checagem de fatos a utilizar a nova ferramenta. Apesar do pouco tempo de uso (desde o dia 4 de outubro), a organização já acumula mais de mil inscritos. “Resultado que consideramos bom para uma funcionalidade nova do WhatsApp, que ainda não é conhecida de todos os usuários”, afirma Bernardo Moura, diretor editorial e de operações. 

Para ele, a distribuição das checagens e reportagens pelo canal será importante dentro da estratégia da organização para alcançar novas audiências, embora ainda exista uma limitação técnica. “Diferentemente do Telegram, onde já temos um canal desde o ano passado, com mais de 9 mil inscritos, o WhatsApp ainda não permite acesso à API para que a gente possa otimizar o envio de notícias”, explica.

A dificuldade de medir o tráfego para o site, porém, é um dos problemas do recurso, que não disponibiliza informações sobre alcance. Diretora de Comunicação da Pública, Marina Dias questiona se as pessoas estão, de fato, consumindo e compartilhando as informações enviadas. “Faltam dados para análise e os canais ficam muito escondidos. Seria importante que ficasse mais visível.”

Desde 2019, a Pública envia as reportagens por listas de transmissão, recurso mais antigo do WhatsApp que permite o disparo de mensagens para vários usuários de uma só vez. “A audiência das listas é significativamente maior que a dos canais. Estamos trabalhando uma transição, mas tem sido difícil convencer as pessoas a migrar para o canal”, pontua.

O que diz o WhatsApp

A Ajor entrou em contato com a assessoria de comunicação do aplicativo para entender os critérios utilizados para que canais veículos de imprensa sejam exibidos pelo recurso.A plataforma afirmou que pretende divulgar em breve informações mais detalhadas sobre a verificação de canais.

“Para ajudar usuários a encontrar Canais, alguns de nossos parceiros são destacados aleatoriamente ou as pessoas podem encontrar canais filtrando por ‘Mais Ativo’ ou ‘Popular’, ou Canais disponíveis em seu país. Não recomendamos Canais para pessoas com base em seus comportamentos no WhatsApp (ou seja, quais canais elas já seguem) e quem elas seguem depende inteiramente delas”, disse a assessoria.

Pelo mundo

Organizações jornalísticas ao redor do mundo, como o Financial Times (Reino Unido), La Nación (Argentina), The New York Times (Estados Unidos), Chilango (México) e The Times of India (Índia), já marcam presença na ferramenta. O Nieman Lab ouviu como esses e outros veículos estão utilizando os canais entre as oportunidades e desafios.

Na Espanha, onde o WhatsApp também é um dos principais meios da população se informar, veículos como El Pais, ABC, elDiario.es, As e La Sexta criaram canais para distribuir as matérias.

O próprio WhatsApp lançou um canal oficial na plataforma com as novidades sobre o produto. Para entrar, acesse este link.

Foto em destaque: Dimitri Karastelev/Unsplash.

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