Ao longo de cinco semanas, especialistas deram dicas, apresentaram estudos de caso e refletiram sobre as novas narrativas para monetizar, promover e ter sucesso ao lançar um veículo jornalístico. Além das aulas, os alunos participaram de webinars ao vivo com empreendedores de meios nativos digitais que compartilharam suas experiências de carreira, gestão e negócios.
A capacitação foi direcionada a pessoas que têm uma ideia de projeto e querem colocá-la em prática; jornalistas que desejam levar seu projeto atual para o próximo nível ou professores que desejam conhecer ferramentas para ensinar os estudantes no cotidiano da sala de aula. Ao todo, 5.453 pessoas participaram das aulas, disponíveis em espanhol e português. O Brasil foi o país com mais inscritos, com 1.664 até o momento.
Segundo Marcelo Fontoura, professor de jornalismo digital e de dados na Escola de Comunicação, Artes e Design Famecos da PUCRS e instrutor da versão traduzida, o engajamento dos participantes nos fóruns de discussão foi expressivo. Para ele, o curso cumpre o mérito de sistematizar conteúdos de diferentes disciplinas e que são essenciais para quem quer lançar seu próprio negócio: “Existe muito material sobre jornalismo digital, muito material sobre empreendedorismo, e mesmo sobre jornalismo empreendedor, mas muito não está reunido. O curso propõe um caminho pedagógico que ajuda os futuros empreendedores estruturarem a sua ideia em torno de necessidades bem específicas”.
Apesar de fase regular ter sido concluída, o treinamento ficará disponível por mais três semanas para que os alunos, ou novos inscritos, completem as atividades e tenham direito ao certificado, oferecido gratuitamente pelo Centro Knight graças ao apoio da Google News Initiative (GNI) e da Climate and Land Use Alliance (Clua).
Dicas para tirar sua ideia do papel
Dividido em cinco módulos, o curso abordou diferentes tendências e eixos do jornalismo empreendedor para ajudar os alunos no planejamento e execução da sua ideia de negócio, desde como criar um projeto até como aumentar a visibilidade, distribuição e alcance de um veículo.
Para Fontoura, um dos principais desafios de quem quer empreender na área é pensar na sustentabilidade do negócio. “De fato, é um desafio de todo o mercado, não apenas dos alunos do curso. Normalmente nos voltamos sempre para as mesmas formas de receita, e não sabemos como aplicar outras ideias”, afirma. “Outra dificuldade comum é encontrar a comunidade com a qual se quer trabalhar. Jornalistas costumam ter dificuldade de pensar na audiência, e hoje não se pode iniciar um projeto jornalístico sem isso”.
Separamos cinco pontos essenciais compartilhados durante curso e que podem ser aplicados em organizações jornalísticas:
1. Fique atento às tendências do setor
Ninguém empreende sozinho. Como todo negócio, o jornalismo também acompanha tendências culturais, econômicas, tecnológicas, de inovação, etc. Conhecer o que outras organizações estão fazendo para alcançar sucesso pode ajudar no planejamento do seu próprio negócio.
Existem diversos relatórios e pesquisas que trazem um panorama do jornalismo pelo país e mundo. Um deles é o “Ponto de Inflexão Internacional”, iniciativa da SembraMedia lançada em 2021 e que mostra dados detalhados sobre a mídia digital na América Latina, Sudeste Asiático e África. A organização também tem uma seção de casos de estudo em seu site na qual compartilha análises detalhadas de como veículos estão inovando em diferentes áreas de negócio.
Outra iniciativa é o Playbook de Startups da Google News Initiative, que traz recursos, recomendações e exemplos de sucesso para ajudar empreendedores no lançamento de startups de notícias digitais. Todo o material foi desenvolvido em parceria com especialistas do setor de notícias e na criação e desenvolvimento de startups digitais.
2. Conheça seu modelo de negócios
Um modelo de negócio é a descrição das bases sobre as quais uma empresa gera valor nas diversas etapas que compõem os processos de produção, circulação e consumo de seus serviços. Ele descreve, por exemplo, que tipo de produto a empresa oferece, qual o seu público-alvo, quais os recursos necessários para seu funcionamento e como ela se apresenta ao mercado.
Uma das ferramentas mais utilizadas para estruturar e visualizar um modelo de negócio é o Business Model Canvas. O curso de Jornalismo Empreendedor disponibilizou uma versão traduzida do documento para que os estudantes brasileiros completassem ao longo das aulas. A SembraMedia também disponibiliza uma série de recursos gratuitos que explicam o passo a passo de aplicação do modelo.
Ter um olhar sistêmico sobre todas as áreas do negócio permite identificar mais facilmente possíveis falhas, assim como propor soluções. Um ponto importante: a comunicação, tecnologia e a indústria jornalística estão em constante movimento. Por isso, é ideal que as redações revejam o seu Canvas periodicamente.
3. De olho nas métricas
Medir o progresso do site, redes sociais ou projetos específicos desenvolvidos pela sua iniciativa jornalística é central para garantir que a organização está no caminho certo para o sucesso. Mas atenção: as métricas que você vai utilizar dependerá sempre do objetivo central do seu negócio.
Para uma iniciativa que se financia por meio de assinaturas, por exemplo, é essencial garantir que as audiências consumam o conteúdo de seus sites e cheguem até a página de compra. Já uma iniciativa que se financia por publicidade no Youtube precisa que o maior número possível de pessoas assista aos seus conteúdos neste canal. Um financiamento por programa de membros, por sua vez, precisa medir a proximidade com a sua comunidade e a escuta ativa de sua audiência.
É importante que a equipe estratégica do veículo defina os KPI’s (Key Performance Indicator, ou Indicador-Chave de Desempenho em tradução livre) que vão guiar o projeto, e utilize ferramentas para mensurar periodicamente se a iniciativa está ou não atingindo estas expectativas. Este texto da Fundação Gabo compartilhado durante o curso dá alguns conselhos de como humanizar a mensuração de impacto dos meios para as audiências.
4. Diversifique suas fontes de receita
Estudos como o “Ponto de Inflexão Internacional” têm demonstrado que a diversificação de fontes de receitas é essencial para a sustentabilidade financeira de veículos nativos digitais. No levantamento, a SembraMedia identificou 30 tipos diferentes de fontes de ingresso que são utilizadas por iniciativas digitais.
Mas atenção: é preciso cautela. Utilizar muitas fontes de receita de uma só vez pode ser contraproducente, principalmente em equipes pequenas. Revise seu Modelo Canvas para entender quais são os serviços que a sua organização pode oferecer e se eles vão ao encontro dos seus objetivos de negócio.
Além disso, considere ter um funcionário dedicado exclusivamente à área comercial. A mesma pesquisa identificou que os veículos que informaram ter este cargo em suas equipes obtiveram de seis a nove vezes mais receita.
E, claro, inove sempre! Escute sua audiência e comunidade para entender quais lacunas de informação e serviços não estão sendo preenchidas e como sua organização pode ajudar.
5. Cuide e promova sua marca
Qual é a missão, visão e valores da sua organização? Quem está por trás dos conteúdos? Como você financia as suas investigações? A transparência de informações agrega valor ao negócio jornalístico e transmite profissionalismo e seriedade à organização. Por isso, é importante investir na comunicação dos propósitos da sua marca e na declaração de visão da sua organização.
Durante o curso, Natalie Van Hoozer, embaixadora da SembraMedia nos Estados Unidos e especialista em audiências, falou sobre a importância de se estruturar a página “Sobre nós” nos veículos. É através dela que a organização vai comunicar seu impacto, alcance e êxito para outras organizações, público potencial e possíveis financiadores.
Mostrar quem são as pessoas que produzem conteúdo para a sua organização e quais os princípios editoriais que guiam esses profissionais dá mais credibilidade à iniciativa. Além disso, ajuda a diferenciar uma organização de jornalismo profissional de portais que mimetizam a linguagem da imprensa para espalhar desinformação.
Este artigo do IJNet sobre o Alma Preta, divulgado durante o curso, mostra a importância de se ter missão, visão e valores nítidos. Expressa ainda como modelo de negócio, atuação jornalística e valores estão intimamente conectados.
Dica extra por Marcelo Fontoura:
“Minha dica é bem direta: tente algo. Qualquer coisa! O quanto antes nós testarmos hipóteses, mais cedo a indústria jornalística terá subsídio para lançar iniciativas cada vez mais bem sucedidas. Precisamos também incorporar o pensamento enxuto e de MVP (Produto Mínimo Viável, em tradução livre): os primeiros lançamentos de algum produto não serão bons, mas permitem validar hipóteses e entregar algum tipo de valor ao público. Como você pode começar um projeto jornalístico desta maneira?”
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