Eleições: usuários mudam de comportamento nos aplicativos de mensagem

Por Victor Moura ago 31, 2022

De acordo com novo relatório do InternetLab, a participação em grupos de apps é maior entre pessoas com posicionamento político bem definido.

A partir das eleições de 2018, os aplicativos de mensagem instantânea se tornaram uma ferramenta importante para a troca de informações sobre a política brasileira. Apesar da relevância na distribuição de informação, novo estudo diz que o consumo de informações nessas plataformas é feito a partir da relação com outras mídias, da TV ao rádio, passando também por mecanismos de buscas online.

A conclusão é da segunda edição do pesquisa sobre comportamentos e percepções do brasileiro em aplicativos de mensagem privada, lançada pelo InternetLab em parceria com a Rede Conhecimento Social. O objetivo do trabalho é compreender como os usuários se relacionam com as informações recebidas nos apps e de que maneira são criados os parâmetros de confiabilidade desses conteúdos por usuários e grupos sociais. 

Comportamentos dos usuários nos distintos aplicativos de mensagem 

De acordo com a pesquisa, são diferentes as formas de comportamento e utilização em cada aplicativo. As pessoas tendem a utilizar o Whatsapp para ações cotidianas, diferente dos chats de redes sociais, que funcionam para dialogar com pessoas um pouco mais distantes. Já o Telegram é mais um aplicativo para acesso de conteúdos do que para comunicação, sendo utilizado muitas vezes como ferramenta de busca. Além disso, ele permite que usuários encontrem grupos e conteúdos com os quais têm mais afinidade.

Em entrevista à Ajor, a Diretora do InternetLab Heloisa Massaro explica que os usuários passaram a buscar mais notícias no Telegram pois tendem a confiar menos no Whatsapp. “Elas sabem que é importante checar as fontes, por isso, esse consumo não se dá de forma isolada. A compreensão e conclusão da informação consumida está ligada com o contato da pessoa com o mesmo conteúdo em outras mídias, como TV, Internet e a Rádio”, explica.

“Se, por um lado, as pessoas buscam interagir em grupos cada vez menores no WhatsApp, as formas de uso do Telegram mostram uma tendência de ampliar horizontes e fortalecer comunidades, ter acesso a novos conteúdos, e interagir como pessoas ‘fora da bolha’ que tenham interesses em comum”, conclui o estudo. 

A pesquisadora não vê diferença entre o comportamento dos usuários dentro e fora da rede. “Quando o assunto é eleição, o comportamento das pessoas nesses apps tem relação direta com a construção das suas relações sociais. O grupo de whatsapp da família, na pesquisa anterior, foi comparado ao churrasco com a mesma”, afirma.

Das eleições de 2018 para cá: o que mudou? 

De acordo com a pesquisa, houve um aumento  na porcentagem de pessoas que entraram  em grupos de debate político no Whatsapp entre os anos de 2020 e 2021. No entanto, estes usuários estão mais cautelosos quanto ao seu comportamento dentro do aplicativo: eles evitam falar sobre política e se policiam em relação à compartilhamentos.

“Em 2018, estávamos esperando uma eleição parecida com o que aconteceu nos Estados Unidos e no Reino Unido, em 2016: a preocupação muito grande com os anúncios políticos em redes sociais, quanto aos riscos do impulsionamento de conteúdo  e micro direcionamento”. Heloísa explica que isso acabou não se reproduzindo no Brasil, onde as condições de acesso à internet são outras e os aplicativos de mensagem têm um papel importante no cotidiano das pessoas. 

Proliferação de desinformação no período eleitoral e o papel das plataformas digitais

O estudo aponta que já está consolidado no imaginário dos brasileiros que as “fake news” são um problema real na nossa sociedade. Para lidar com esse cenário, as pessoas têm seus próprios critérios para verificação e repasse de informações, o que se reflete no tipo de relacionamento que elas terão com outros usuários.

No centro das dinâmicas de disseminação e consumo de informação, as redes sociais são atores estratégicos na proliferação das informações. “São elas que  intermediam, regulam e controlam a entrega das mensagens. Quanto a conteúdos legais ou nocivos, as plataformas têm responsabilidade sobre a garantia do ambiente íntegro do debate público, pautado por direitos fundamentais”, conclui Heloisa.

 

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