Estudo global analisa os impactos da violência online contra mulheres jornalistas

Publicada em novembro como um ebook, iniciativa é uma realização do Centro Internacional para Jornalistas com o apoio da Unesco

Depois de três anos de levantamento de dados e entrevistas, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) publicou neste mês o ebook “The Chilling: A global study of online violence against women journalists” (“Um estudo global sobre violência online contra mulheres jornalistas”, em tradução livre). Parte de um projeto encomendado pela Unesco em 2019, trata-se da pesquisa com a maior diversidade geográfica, linguística e étnica já publicada sobre o tema. A edição é de Julie Posetti e Nabeelah Shabbir.

O relatório é baseado em depoimentos de mais de 850 mulheres jornalistas de diversos países. Ao longo de suas carreiras, elas foram alvo de diferentes violências online,  incluindo ameaças de agressão sexual e violência física, mensagens de assédio, invasões digitais, exposição de imagens manipuladas e ameaças financeiras.

Além da análise estatística sobre os ataques a nível mundial, o livro traz casos de estudos de 15 países, incluindo o Brasil, além de listar recomendações de como Estados, organizações intergovernamentais, a indústria de notícias e a sociedade civil podem atuar para mitigar o problema. 

O que dizem os dados

Aproximadamente três em cada quatro mulheres entrevistadas pela pesquisa afirmaram já terem sofrido algum tipo de violência online. Além disso, uma em cada cinco profissionais disse ter sido vítima de ataques presenciais em razão de incidentes propagados no ambiente digital. As jornalistas negras, indígenas, judias, árabes, asiáticas e lésbicas compõem o grupo mais severamente impactado pela violência online.

Na análise brasileira, as pesquisadoras Luisa Ortiz Pérez, Carolina Oms, Eunice Remondini e Kate Kingsford entrevistaram 14 jornalistas e especialistas no tema.  O texto destaca que a pandemia de Covid agravou a violência contra a imprensa no país, uma vez que autoridades públicas acusaram jornais de espalhar notícias falsas sobre a doença, alimentando um ambiente de hostilidade contra redações e profissionais. 

Leia algumas das recomendações do estudo para o Brasil:

As autoridades e legisladores brasileiros devem:

  • Reconhecer a gravidade da violência online no Brasil, incluindo aspectos interseccionais. Em particular, reconhecer que a violência online pode causar graves danos psicológicos, levando jornalistas à autocensura, e que ela criou uma crise de saúde mental entre mulheres jornalistas que demanda discussões aprofundadas sobre discriminação de gênero e desigualdade estrutural.
  • Comprometer-se a trabalhar para acabar com a violência online em vez de incentivá-la. Crimes contra jornalistas muitas vezes ficam impunes porque os perpetradores desfrutam de um nível de impunidade, especialmente no caso de funcionários públicos.
  • Trabalhar com organizações da sociedade civil e provedores digitais para combater ataques contra jornalistas, inclusive por meio de medidas não legais, como políticas de gênero e avanços na educação midiática.

As organizações jornalísticas brasileiras devem:

  • Mudar a cultura de trabalho para que ela se torne mais inclusiva em termos de  gênero e raça, em resposta a muitas mulheres jornalistas não se sentirem seguras ou apoiadas no trabalho.
  • Disponibilizar licença remunerada, bem como apoio psicológico e jurídico, para jornalistas que estão sofrendo assédio online ou enfrentando um processo por causa de seu exercício profissional. 

O ebook pode ser baixado gratuitamente, em inglês, neste link

Foto: Joppe Spaa/Unsplash

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