Por Fernanda Iacovo, Juliana Martins, Luíza Quintanilha, Carlos Gabriel Tolêdo, César Oliveira e Kacieny Monteiro, Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA)
No segundo dia de evento, o Festival 3i recebeu os primeiros convidados da sessão de cases de sucesso. Conheça as iniciativas independentes, inovadoras e inspiradoras que mostraram seus trabalhos:
Brasis – Jornalismo de qualidade que visa fortalecer o formato digital
A Brasis é uma newsletter diária, criada em 2022 pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor), que conta com uma curadoria de conteúdo das mais diversas temáticas por diferentes perspectivas.
O projeto reúne produções das mais de cem organizações associadas à Ajor, complementando as mídias tradicionais, construindo um jornalismo de qualidade e fortalecendo o formato digital. Em 2023, o boletim, que é um dos principais produtos da Ajor, já conta com mais de cinco mil inscritos.
Comandada atualmente pela editora Audrey Furlaneto e pela jornalista Tainah Ramos, a Brasis foi o tema do primeirocasedo segundo dia de evento. Audrey também é jornalista e tem Folha de São Paulo, Jornal O Globo, Revista Piauí e outros grandes veículos no currículo, afirma que “O conteúdo do jornalismo local pauta a grande imprensa.”Tainah possui vasta experiência em temas socioambientais e já fez parte do time da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e da Agência Pública. Juntas, elas contaram como foi desenvolver a Brasis e identificaram os impactos da newsletter até o momento.
As associadas da Ajor produzem conteúdos noticiosos (principais notícias do dia, apurações especiais e de nicho) história temática fixa e rotativa. A cobertura local aborda as notícias do ponto de vista dos nativos, com o olhar mais apurado, detalhado e orgânico do que um grande veículo de comunicação. Os leitores conseguem ficar bem informados e ter acesso a conteúdos que não estão disponíveis na grande imprensa. Atualmente, a Brasis conta com mais de 110 associados.
Periferia em Movimento – Caminhos e desafios de implantar o uso da linguagem neutra no Jornalismo
O projeto Periferia em Movimento fala sobre a adoção da neutralidade na linguagem, e ações que incentivam outras organizações a fazerem o mesmo. Pessoas LGBTQIA+ sofrem diariamente com a falta de inclusão social e um dos papéis da mídia é garantir que os direitos humanos contemplem essa comunidade. É indispensável que esse movimento comunicacional compreenda a importância da utilização da linguagem neutra, principalmente para que haja a integração de pessoas não-binárias nas agendas sociais. A instituição estadunidense LGBT Foundation define a não binariedade como uma forma do indivíduo entender o próprio gênero, que ultrapassa a identificação como homem ou mulher apenas.
A jornalista e cofundadora da Periferia em Movimento e da Rede de Jornalistas das Periferias, Aline Rodrigues, e a produtore audiovisual e colaboradore do Periferia em Movimento, Vitori Jumapili, falaram desta temática polêmica na academia e no governo, elus evidenciaram a relevância dessa questão e abordaram a importância de ouvir, aprender e escrever em parceria com a comunidade LGBTQIA+.
Vitori, que se identifica como pessoa trans e se utiliza de pronomes neutros, perguntou quantas pessoas trans conhecemos, trabalhos junto, ou falamos sobre, com intuito de conscientizar a inclusão e acolhimento de tais pessoas que sempre se encontram à margem, por nunca serem ouvidas e consideradas. Já Aline refletiu que devemos saber nos colocar no lugar do outro, mesmo sendo mulher cis branca. Ambas defenderam o conteúdo que contempla a valorização da memória do protagonismo de outras pessoas, com o objetivo de estimular o acesso à informação e comunicação, trabalhando a coerência de discurso, teoria e prática. Para elus, “olho no olho, de dentro para dentro, batalha cotidiana pela coerência, discurso e prática”, recitaram em uníssono.
Elus reforçaram que o sistema linguístico inclusivo é recente, porém discutido há tempos e de maneira profunda. Foi elaborado um plano, pelo Periferia em Movimento, a partir das linguagens opressoras, para discutir a questão de gênero através de lives. Acrescentaram ainda que, em espaços públicos é mais natural se posicionar dessa forma, pois representam jornalistas da quebrada e todes.
Dandara – Monitoramento diário em redes sociais pela busca de publicações duvidosas
Twitter, Facebook e Instagram estão no radar da Dandara, a robô que leva o nome da guerreira negra de Palmares. Seu trabalho é monitorar diariamente essas redes sociais em busca de publicações duvidosas, coletando centenas de conteúdos potencialmente relacionados à desinformação e os armazenando em um banco de dados para checagem de fatos pelos jornalistas da Agência Tatu. Mas como unir jornalismo e inteligência artificial e alcançar sucesso?
Lucas Maia édiretor de tecnologia da Agência Tatu,jornalista e programador com experiência em Python, data storytelling e dataviz. A Agência Tatu é uma premiada startup de jornalismo de dados localizada no estado de Alagoas. Lucas acredita na atuação jornalística como forma de fortalecer a democracia e no poder de tornar dados públicos mais acessíveis a todos, fazendo “verificação cuidadosa com trabalho documental e qualidade superior”.
O bot (robô), aplicação de software feita para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão, foi desenvolvido pela Agência Tatuhttps://twitter.com/Agencia_Tatu, especializada em jornalismo de dados, checagem de fatos e informações. O intuito é combater as fake news, passando informações verídicas e relevantes adiante. Dandara busca desinformação que precisa ser desmentida, usando como ferramenta a inteligência artificial, especificamente para o processamento de linguagem natural, levando ao resultado certo por meio de filtragem de informações.
Canal do YouTube do Meio – Crescimento da newsletter que contém as notícias mais importantes do Brasil
É na rede social mais usada no Brasil para consumir notícias que o Meio, newsletter diária que apresenta os fatos mais relevantes do país em 8 minutos, cresce exponencialmente. A partir de uma grade de programação inovadora em formato e diversa em conteúdo – como os programas “Ponto de Partida” e o “De Tédio a Gente Não Morre” – o Meio conquista e impacta com informação de qualidade milhares de pessoas, atualmente com 240 mil inscritos, que usam o YouTube como sua principal fonte de notícias.
Como o hábito de ler jornal diminuiu, a newsletter do Meio, em 2016, veio com o objetivo de começar o dia bem informado. Caracteriza-se por ser uma startup 100% digital na busca de um jornalismo independente, e está em uma constante crescente, presente no TikTok, Kwai, Twitter etc. Faz a curadoria das notícias dos principais veículos. Em 2019, foi lançado o primeiro programa no Youtube; entre 2020 e 2021 foram lançados quatro programas remotos; já em 2022 teve um grande crescimento no canal, com a primeira live semanal “mesa do meio”, em período eleitoral, que existe até hoje. Em 2023, decidiram investir em outro caminho: documentários e cultura pop. Inauguraram um estúdio próprio e atualmente buscam uma maior profissionalização em seus vídeos, pois são altamente assistidos em aparelhos de TV.
Maria Paula Lettié editora executiva do Meio, responsável pelas áreas de vídeo, podcast e redes sociais. Formada em jornalismo pela Famecos (PUC-RS), tem mais de 20 anos de experiência na concepção, execução e edição de conteúdo para internet e TV. Foi editora de texto na TV Globo e SporTV, além de repórter e apresentadora na RBS TV. É especialista em roteiro e direção de TV e cinema pela New York Film Academy.
Mobile Time – Eventos Como Fonte de Receita
Mobile Time é veículo de diversificação de fontes de receita, nasceu promovendo um site de notícias da indústria móvel e abrange três vertentes: jornalismo, pesquisa de mercado e evento.
Fernando Paiva, jornalista, fundador e diretor geral do site Mobile Time, falou sobre como veículos especializados podem se sustentar financeiramente através da realização de seminários e eventos.
Fernando afirmou que “só é possível um bom evento através do jornalismo, pois você tem acesso aos temas relevantes da atualidade.”
Tanto o site quanto a newsletter são gratuitos, contendo 25 mil assinantes. Apesar disso a audiência é pequena, sendo composta por: bancos, setor varejista, fabricantes de smartphones e diversos setores da economia. A venda de anúncio é a fonte direta de receita do site, além de patrocínio e venda de ingressos dos eventos. Os eventos acontecem em São Paulo, com um público enxuto, porém forte em conteúdo.
Fernando atua há 22 anos como jornalista cobrindo tecnologia móvel e negócios, além de coordenar as pesquisas Panorama Mobile Time/Opinion Box e ser curador de eventos como MobiXD e Super Bots Experience.
Projeto Querino – O olhar afrocentrado brasileiro que os livros não contam
Projeto divisor de águas na podosfera brasileira, por conter produção, roteiro, texto, edição, narração, qualidade sonora, além de histórias reveladas a partir do olhar afrocentrado de um Brasil que não conhece a si próprio. Com mais de 1 milhão de downloads, está no topo da parada de podcasts do Spotify.
O projeto foi inspirado em um podcast nova-iorquino já existente. O primeiro desafio foi decidir como distribuir o projeto para seu público, então decidiram soltar os episódios de uma vez, técnica já usada nos streamings. O obstáculo é incentivar os ouvintes a maratonarem, o que fazia mais sentido para o projeto, pois eles queriam que o público entendesse a história como um todo.
Neste case, Bia Ribeiro que é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e analista de produto e audiência da Rádio Novelo, falou que o projeto objetiva que a audiência o entenda a partir de recortes, como música, religião, entre outros. Foi importante para eles a criação de personas, pessoas fictícias que representam ouvintes ideais, a fim de ter uma comunicação direcionada e ampliar o público em termos de audiência. Para ela, “entender a rotina e o hábito das personas é importante para o direcionamento de uma divulgação assertiva”.
Tik Tok da Lupa – Como as redes sociais estão atreladas ao nosso plano de negócio
O Tik Tok da Lupa faz uso de uma linguagem adequada, bem humorada e dinâmica. Organizações de jornalismo vêm apostando nessa rede do momento, com o objetivo de acompanhar o constante crescimento e combater a desinformação.
Marcela Duarte, gerente de produto da Lupa, roteirista e programadora (@petitemarcela), falou sobre essa mais nova rede social que conquistou milhares de pessoas ao redor do mundo, especialmente o público jovem, e falou sobre a decisão de entrar nesta rede, “acreditamos no esforço coletivo e fornecemos caminhos úteis para lidar com a desinformação”.
A estratégia do projeto foi lançar funcionários da própria empresa como TikTokers, com o intuito de renovar sua audiência. Objetivo foi atingido com mais de 240 mil seguidores. Para a Lupa, é de extrema importância a verificação em seus vídeos, pois o público quer saber o que é realmente verídico na internet.
O Projeto da Lupa tem dois pilares, jornalismo e educação. Com o intuito de guiar os trabalhos nas redes sociais e reformular as mesmas, inclusive o TikTok. É um hub de combate à desinformação, e é isso que mostram em suas redes sociais, com humor para atrair cada vez mais o público jovem.
*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i 2023 com as Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA).
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