Estudantes, jornalistas e outros comunicadores participam de evento realizado pela primeira vez no Ceará
Por Orlando Viana*
Com o tema “Como tirar a sua ideia do papel”, o workshop do Festival 3i Nordeste abordou as etapas para a implantação de um produto jornalístico independente. O evento ocorreu na Universidade de Fortaleza (Unifor) no dia 1º de dezembro. O workshop foi conduzido por Anderson Meneses, cofundador da Agência Mural. Logo na apresentação, ele trouxe um dado alarmante: metade dos municípios brasileiros são considerados “desertos de notícia”, ou seja, não possuem cobertura jornalística adequada. Isto representa quase 28 milhões de pessoas com pouco ou nenhum acesso à informação.
“É urgente a gente produzir jornalismo. A ideia é fomentar mais veículos, pois ainda tem muita gente sem acesso a um jornalista. Fora isso, ainda tem as pessoas que não possuem representatividade na mídia”, relata Anderson.
Ele compartilhou a experiência da Agência Mural, que atua como mídia independente, dando visibilidade às periferias de São Paulo. “Quando a gente procurava os nossos bairros nos jornais, o que a gente encontrava? Não encontrava. A não ser que fosse nas páginas policiais. A Mural nasce dessa necessidade de dar visibilidade às periferias”, relata.
Em seguida, o workshop prosseguiu com a apresentação de um modelo de planejamento dividido em 7 etapas. Na primeira etapa, foi abordado o fator audiência. “Por que começar por audiência? Porque a gente tá falando de pessoas. O jornalismo vai falar com pessoas. E a primeira pergunta que eu faço é: pra quem vocês estão fazendo o seu projeto?”, questiona Anderson.
Foram apresentadas algumas técnicas para entender a sua audiência e conseguir captá-la, culminando na formação de uma persona que sintetiza o seu público. Dentre as técnicas, destaca-se a utilização de pesquisas com grupos focais.
Na segunda etapa foi abordada a proposta de valor, que consiste no produto que será ofertado pelo projeto. Destaque para as técnicas de criação de midia kit e sistematização do impacto do projeto nos diversos espaços de atuação.
A terceira etapa do workshop tratou dos canais de atuação do projeto.Segundo Anderson, é importante identificar qual o melhor meio para se comunicar com a sua audiência. Às vezes, o canal pensado para comunicação não é o mais adequado em função de especificidades da audiência. Como exemplo, imaginemos um podcast publicado em plataformas digitais direcionada para uma audiência periférica. O baixo acesso às plataformas de streaming pode comprometer o alcance do produto. Uma solução possível seria a disponibilização do conteúdo por aplicativos de conversa em áudio, como WhatsApp e Telegram, uma vez que mais pessoas têm acesso a esses canais.
“Às vezes o impacto pode ser maior fazendo um impresso e distribuindo na rua do que fazendo no Instagram”, comenta Anderson. Relacionamento foi o tópico citado na quarta etapa do workshop. Foram abordados quais fluxos de conversas e pontos de contato você precisa definir com a sua audiência.
Na quinta etapa, discutiu-se a importância das parcerias na construção do projeto jornalístico. É importante estar atento para identificar quais são as organizações e as pessoas que podem ajudar na viabilização do projeto.
As duas últimas etapas do workshop trataram de custos e fontes de receita. Foi realizada uma atividade para definir uma tabela de custos e organizar a estrutura de colaboradores do projeto, com funções e remunerações pré-definidas. Com relação às fontes de renda, Anderson explicou que é fundamental estar aberto para as diversas formas de financiar o seu projeto. Ele apresentou o modelo adotado na Mural, que conta com doação de pessoas físicas, apoios e parcerias editoriais e monetização de audiência.
“Pensem também em como os projetos jornalísticos de vocês podem entrar em editais, como a Lei Rouanet ou a Lei Paulo Gustavo”, explicou.
*Reportagem produzida por estudantes de jornalismo para o Foca no 3i, parceria de cobertura do Festival 3i Nordeste entre a Ajor e a Unifor (Universidade de Fortaleza).
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