Como redações ao redor do mundo veem o uso de inteligência artificial

Por Tainah Ramos out 04, 2023

Desigualdade entre Norte e Sul Globais e implicações éticas ainda cercam o debate

Um novo relatório publicado pela JournalismAI em setembro deste ano traz os resultados de uma pesquisa feita com 105 organizações jornalísticas de 46 países diferentes, com o objetivo de conhecer as oportunidades e riscos que a inteligência artificial (IA) oferece ao jornalismo.

O mapeamento incluiu redações de diversos tamanhos de países da América Latina, Europa, Oriente Médio, Norte da África, África Subsaariana, América do Norte e Ásia-Pacífico. Uma das conclusões revela a desigualdade entre o Norte e Sul Global no acesso à tecnologia pelos desafios econômicos, de infraestrutura e também de idioma. 

Dos entrevistados, mais de 75% afirmaram utilizar IA pelo menos em uma das etapas da cadeia jornalística – apuração, produção e distribuição de conteúdo. Mais da metade foi motivada pela possibilidade de aumentar a eficiência e a produtividade, permitindo que os jornalistas tenham tempo para trabalhos mais criativos.

Uso nas redações

1. Apuração
Nesse processo, a IA pode ser utilizada para reunir o material de diversas fontes e sondar o interesse da audiência, como parte de um ciclo de produção de notícias baseada em dados. Cerca de 75% dos participantes do estudo afirmaram que utilizam a ferramenta para coletar as informações em duas áreas principais: automatizar transcrição e extrair texto de imagens; e detectar tendências em grandes bases de dados.

2. Produção
Aproximadamente 90% dos entrevistados revelaram que usam tecnologias de IA para verificação de informações, correções ortográficas, edição de textos, redação de relatórios, elaboração de materiais em storytelling ou narrativas visuais, além de boletins informativos específicos.

3. Distribuição
O maior uso para distribuir conteúdo está em melhorar a visibilidade nos buscadores, a partir de ferramentas de SEO baseadas em IA, com objetivo de aumentar o alcance e também compreender melhor os interesses da audiência. Também são utilizadas tecnologias para otimizar o conteúdo para as redes sociais. Cerca de 80% relataram a presença da tecnologia nesse processo.

A Ajor produziu um material que destrincha como funciona a inteligência artificial e suas implicações no jornalismo.

Ética e política editorial

O relatório aponta que mais de 60% dos profissionais consultados se preocupam com as implicações éticas da inclusão de IA na qualidade editorial e em outros aspectos jornalísticos. Eles buscam compreender como integrar a tecnologia ao trabalho mantendo os valores da profissão, especialmente com a transparência e com suas “caixas-pretas”, em que não se sabe exatamente quais os vieses usados pelas ferramentas.

No entanto, apenas um terço declararam ter ou estar desenvolvendo uma política institucional sobre o tema. No Brasil, o Núcleo, organização associada à Ajor, tornou-se o primeiro veículo a publicar uma política aberta de uso de inteligência artificial na redação, como seu cofundador Sérgio Spagnuolo explicou nesta entrevista.

Confira o relatório completo.

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