Programa Acelerando a Transformação Digital selecionou 15 organizações associadas à Ajor para segunda fase do projeto. Iniciativas dão detalhes sobre as mentorias e o desenvolvimento das propostas
Está em andamento a segunda fase do programa Acelerando a Transformação Digital, realizado pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês) em parceria com a Ajor e apoio do Meta Journalism Project. Nesta etapa as 15 organizações selecionadas recebem financiamento de até US$ 15 mil para desenvolver um projeto ou implementar melhorias de processos em suas organizações.
As propostas foram desenhadas durante a primeira fase do programa, que ofereceu sessões de treinamentos sobre temas ligados ao empreendedorismo no jornalismo digital. Além dos recursos, o programa oferece mentoria e coaching estratégico para as iniciativas.
“Eu avalio como bastante positivo que está sendo alcançado. Acredito que todos vão sair mais robustos desse programa, com resultados concretos: em alguns casos novos produtos, em alguns casos mais conhecimento da audiência, em outros uma visão de futuro mais nítida”, conta Andre Furlanetto, um dos mentores do Acelerando e que está trabalhando diretamente com as iniciativas Mobile Time, Fauna News, Nexo Jornal, Rádio Novelo e Agência Tatu.
O especialista explica que as estratégias de trabalho se adequam às necessidades específicas de cada organização, seguindo a lógica do método “Test & Learn” (Testar e aprender, em tradução livre): “Desenhamos pequenos experimentos de produto, de distribuição, de conteúdo etc, e colocamos esses elementos diante da audiência. Partimos de uma hipótese sobre o que vai funcionar, testamos e temos métricas e, em muitos casos, fazemos pesquisas com a audiência que nos apontam o que funciona melhor, nos trazem sugestões e idéias e nos permitem montar um novo teste, construindo sobre o resultado do anterior”.
Graciela Selaimen, mentora do Jornal Plural, Periferia em Movimento e Portal dos Jornalistas conta que têm se aprofundado nas discussões sobre diversidade, equidade e inclusão com as organizações: “Como se aproximar de novos públicos, como adaptar a linguagem jornalística para ter mais impacto em mídias sociais e criar relacionamentos com públicos que atualmente não acompanham os veículos”. Outro foco da mentoria é a captação de recursos, sustentabilidade financeira, relações com a filantropia, e modelos de negócios.
Para Graziela França, Diretora de Conteúdo da Agência Tatu, as mentorias permitem que a equipe enxergue coisas que não conseguiria sozinha. Já o coordenador do Jornal Plural Rogério Galindo revela que o processo está sendo fundamental para a construção das estratégias do projeto: “As orientações da Graciela são seguras e certeiras, sem falar na gentileza com que ela nos atende”.
Também fazem parte do grupo de mentores Nuno De Azevedo Vargas, que está junto das organizações Rádio Guarda Chuva e Alma Preta Jornalismo, e Camila Leães, com O Grito, Matinal Jornalismo, Regra dos Terços, Ponte Jornalismo e Projeto Colabora.
“Durante todo o programa, as empresas e organizações se mostraram muito envolvidas com os assuntos apresentados por especialistas na fase de treinamento. Os projetos inscritos mostraram essa conexão e interação com a proposta do programa: acelerar a transformação digital. Os selecionados já apresentam grandes resultados e acreditamos que o que foi desenvolvido em parceria com os mentores pode refletir em novos frutos para essas empresas no futuro, além de contribuir para a transformação do ecossistema de mídia brasileiro”, afirma Johanna Carrillo, vice-presidente de programas do ICFJ.
Conheça os projetos em desenvolvimento:
O programa da Agência Tatu consiste em ampliar o seu alcance para além de Alagoas. Para isso, o projeto se dividiu em algumas frentes. Uma delas é a conclusão do site, que se tornou mais rápido e com melhor indexação no Google. Em outra, a equipe construiu um documento com as diretrizes e etapas para a capacitação e recrutamento de possíveis correspondentes em outros estados, principalmente no Nordeste. A ideia é financiar pautas propostas por estes jornalistas, que serão publicadas no site.
A terceira meta do projeto é a contratação de uma equipe especializada em SEO, que auxilie na busca por melhor alcance junto ao público e a aquisição de uma ferramenta que possibilita enviar produções para e-mails de veículos e jornalistas de todo o país. Por fim, a realização de produções com mais elementos visuais e menos textos, com o objetivo de consolidar uma identidade visual.
Após dois meses de mentoria e reuniões, a Fauna News investiu em organizar o Business Canvas, determinar a necessidade de aprimoramento nas estratégias de SEO, revitalizar a identidade visual do veículo e criar um podcast. Este último é a parte mais adiantada do projeto, com episódio piloto já gravado e distribuído para um grupo de ouvintes selecionados para “degustação” do novo produto.
Em outra frente, a agência desenvolveu um questionário com a intenção de obter críticas e sugestões. Além disso, contará com uma consultoria de SEO para ser realizada nos próximos dias. A organização também vai reformular sua identidade visual, bem como de todo o portal.
O projeto da Alma Preta Jornalismo visa aumentar a retenção e aquisição de novas assinaturas para a campanha de financiamento coletivo. Após estudos, a equipe decidiu sair da antiga plataforma, Catarse, e migrar para uma nova: Trackmob, que entrega maior possibilidade de interagir com os apoiadores e compreender o seu perfil, e assim continuar crescendo.
O projeto do Jornal Plural pretende oferecer oficinas para jovens da periferia da cidade de Curitiba e região. O objetivo é dar treinamento elementar de jornalismo para os 22 inscritos. Desses, seis serão selecionados para a segunda etapa, em que receberão bolsas para produzir conteúdos para o veículo sobre suas comunidades. As oficinas começaram em junho, com a participação de pessoas da periferia, do Movimento Sem Terra e de outros movimentos sociais; o projeto deu preferência para pessoas negras, mulheres e lgbtqia+.
O projeto da Matinal visa criar um sistema em que os eleitores podem informar suas justificativas para a escolha dos seus candidatos. A ideia é produzir conteúdos focados nessas justificativas, com aprofundamento das temáticas específicas manifestadas como relevantes por eleitores. Como a equipe é reduzida, o primeiro passo foi desenhar um produto que pudesse ser atualizado dentro das condições possíveis, e que garantisse uma certa isonomia na cobertura de diferentes candidatos e temas.
A produção de perfis dos candidatos abordou cinco temas pré-definidos: saúde, educação, economia, meio ambiente e cultura. Esses temas ficarão como opções para justificativa, junto com um campo aberto em que a pessoa pode informar outras temáticas que justificam sua escolha de candidato. Esses temas e as principais respostas que chegam também vão integrar uma lista de filtros para quem não quiser opinar, mas apenas consumir os conteúdos que forem agregados à plataforma.
No momento, a equipe está finalizando o UX (User Experience) da página do projeto e pré-produzindo os perfis dos candidatos. No próximo passo, a agência vai realizar formatação da newsletter especial do projeto, bem como os espaços de conexão com newsletters regulares.
O projeto do Mobile Time consiste na reformulação do site e da newsletter, com a criação de novas seções, aproveitando como gancho o aniversário de 10 anos do veículo. O esboço do novo site está pronto e a principal novidade é uma seção com gráficos interativos. Nele, os leitores podem acessar dados de 7 anos de pesquisas do veículo sobre comportamento de uso do smartphone pelo brasileiro e montar seus próprios gráficos dentro do site.
Na parte de produção, o cartunista Rafael Correa, que desenha para Zero Hora, fará um cartum semanal sobre tecnologia. Dez estão prontos “na gaveta” e serão publicados um a cada semana a partir do lançamento do site. Neste momento, a equipe está fazendo testes com a newsletter, alterando seu formato para que tenha uma visualização adequada em dispositivos móveis, e incluindo algumas novas seções.
O Jornal está implementando uma nova estratégia de CRM (consumer relationship management), que permitirá ter mais conhecimento sobre a jornada dos clientes. Nesse processo de avaliação das ferramentas, com testes e análises de resultados, o objetivo é contratar a mais adequada às necessidades, bem como a fácil integração dessa ferramenta ao sistema.
O projeto da Revista O Grito! desenvolve uma nova seção no site dedicado ao Jornalismo em Quadrinhos, com reportagens investigativas, ensaios, entrevistas e matérias aprofundadas. A proposta é explorar esse formato jornalístico na web, o que se traduz em desafios, pois ainda são poucas as experiências com esse tipo de conteúdo aqui no Brasil.
O jornalismo em quadrinhos faz uso da linguagem das HQs para apresentar uma narrativa jornalística com amplo alcance e forte impacto visual. Além disso, a equipe pretende adaptar esse conteúdo para as redes sociais. No momento, o grupo está finalizando os últimos estudos para buscar a melhor maneira de apresentar esse material nos feeds das redes.
No site, o jornalismo em quadrinhos terá uma seção fixa em destaque. Este novo projeto se apoia na expertise do veículo na cobertura jornalística de quadrinhos e na relação que a agência estabelece com a cena editorial dessa área. As primeiras reportagens já estão em desenvolvimento e serão assinadas por nomes pioneiros e relevantes deste formato, como Carol Ito e Gabriela Güllich.
Além desse protagonismo das reportagens em quadrinhos, a revista vai aproveitar o momento para trazer mudanças na plataforma (versão web e mobile), novas seções, conteúdos originais em redes sociais, entre outras novidades.
O projeto do veículo consiste em aumentar o alcance e diálogo dos conteúdos jornalísticos com o seu público prioritário, que são as mulheres cis negras e periféricas. Ao mesmo tempo em que amplia-se de forma mais efetiva a representatividade territorial nas pautas, contempla-se outras regiões da cidade de São Paulo e região metropolitana. O processo prevê pesquisa de público, aperfeiçoamento na estratégia de distribuição e possíveis reorganizações internas no fluxo de produção.
O projeto da Ponte Jornalismo consiste no treinamento em jornalismo de dados para capacitar a equipe a analisar em profundidade os números da violência de Estado no Brasil e suas intersecções com questões de gênero, raça e classe social. O objetivo do treinamento é incrementar a capacidade da equipe para trabalhar de maneira prática e crítica com os dados de violência policial, abrangendo a coleta, análise, visualização, contextualização e edição dessas informações. Ao final do projeto, espera-se criar um produto jornalístico que permita tratar desse tema de uma forma abrangente e de fácil compreensão.
Para essa tarefa, a agência conversou com alguns dos principais especialistas em jornalismo de dados do Brasil e selecionou a proposta que mais se encaixava em seus anseios, que foi a da empresa Lagom Data, comandada pelo jornalista Marcelo Soares. Os encontros da equipe da Ponte com a da Lagom Data estão sendo feitos na Casa Preta Hub, um espaço de economia criativa localizado no centro da cidade de São Paulo. A ideia inicial era só chegar a um produto jornalístico ao final do curso, mas foram constatados dados tão intrigantes que a agência passou a publicar reportagens nascidas das aulas.
O projeto do Portal dos Jornalistas deu origem ao #diversifica, Hub de Conteúdo para DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) no Jornalismo. Neste primeiro momento, a meta é ampliar a cobertura sobre o tema no Portal, por meio da série Subjetividades, que contará com conteúdos nos formatos de videocast, newsletter, website e redes sociais; além de um podcast quinzenal de entrevistas.
O #diversifica tem o objetivo de conscientizar jornalistas, influenciadores digitais e gestores de comunicação sobre a importância do tema para um jornalismo mais plural. Uma das propostas apostas do hub será a ampliação dos conteúdos produzidos sobre o tema para diferentes plataformas. Além de explorar as já tradicionais e consagradas páginas do portal J&Cia, o #diversifica prepara para o segundo semestre uma série de entrevistas em formato de videocast. Serão seis episódios, que discutirão o passado, presente e futuro da DEI a partir do ponto de vista de profissionais inseridos em diferentes realidades: Negritude, Indígena, LGBTQIAP+, PcD, Saúde Mental e Territórios. Os programas começaram a ser gravados em julho, e a previsão é de que sejam veiculados a partir de agosto.
O projeto #Colabora está desenvolvendo o programa de Diversidade e Inclusão para a redação. A ideia é criar um programa de treinamento e estágio (no modelo de trainee) voltado para jovens jornalistas e comunicadores da periferia. O programa será oferecido exclusivamente para candidatos negros e indígenas que vivam em regiões de periferia ou favelas. Também terá prioridade jornalistas e/ou comunicadores LGBTQI+ e PCDs.
No primeiro momento serão oferecidas 40 vagas para jovens de todo o país que queiram participar de um curso de formação em empreendedorismo e jornalismo independente. Após o treinamento, serão selecionados 2 alunos para fazerem parte do time de trainees do #Colabora.
Entre os conteúdos previstos para o programa, estão os temas relacionados à pauta da diversidade e inclusão, e temas como desenvolvimento de projetos em jornalismo, para ajudar os alunos a criarem os seus próprios negócios no futuro. O veículo prevê a participação de empreendedores da periferia para compartilharem suas experiências. Desta forma, o projeto vai apontar caminhos para o financiamento de negócios em jornalismo, assim como formatos e abordagens mais efetivas para alcançar a audiência.
A Rádio Guarda-chuva, primeira rede brasileira de podcasts exclusivamente jornalísticos, está focando no aprimoramento do Finitude, que é um dos podcasts de fundação da rede. O produto nasceu em 2018 e aborda questões de envelhecimento, saúde mental, cuidados paliativos, morte e luto.
Os trabalhos são com foco na sétima temporada, que será sobre saúde mental. Desta vez, além do tradicional formato de áudio, o veículo fará a apresentação do produto também em videocast. Os estudos tem o objetivo de entender como ampliar o alcance dos canais que já existem e como dar visibilidade ao novo canal, no Youtube, onde serão postados os novos materiais. Além disso, pretende-se entender como manter o projeto sustentável daqui para frente.
O projeto busca conhecer e desenvolver um relacionamento com a audiência, para que o veículo dê os primeiros passos a um modelo de negócio B2C, monetizado por publicidade e receitas diretas do público.
A mentoria começou com um estudo sobre o público-alvo nuclear da Rádio Novelo, já contratado e em desenvolvimento pelo estúdio de inteligência Amarelo. A partir disso, serão desenvolvidos os principais indicadores de dominância nesse universo, com métricas de consumidor e de negócios que irão ajudar a orientar o desenvolvimento dos produtos.
Além disso, o projeto visa aprimorar a narrativa para o mercado publicitário, com um estudo de referências e a reformulação do mídia kit e portfólio para os anunciantes. Também está sendo aplicada uma pesquisa de mercado test & learn para orientar a criação de produtos dirigidos à essa audiência nuclear, como um podcast semanal, uma newsletter e o website, com os quais pretende-se formar ouvintes engajados que podem vir a se tornar assinantes no futuro.
O projeto busca consolidar a audiência do site por meio de iniciativas de impulsionamento. Entre as resoluções do projeto está a realização de campanhas de tráfego pago no Facebook, Instagram e Twitter para direcionar as pessoas para a plataforma. Além disso, campanhas para que os leitores se inscrevam na lista de transmissão do WhatsApp para receber as notícias direto no celular. Até o presente momento, os resultados são promissores a cada semana, com aumento no engajamento das redes, no número de pessoas cadastradas na lista e nas visualizações diárias do site.
Sobre o Acelerando a Transformação Digital
Lançado em novembro de 2021, o programa foi desenvolvido em duas fases. Na primeira, mais de 80 startups e iniciativas digitais de notícias de todo o país participaram de seis sessões de treinamentos virtuais com especialistas, abordando diversos temas, como modelos de negócios e receitas, gestão de projetos e produtos, estratégias de desenvolvimento de audiência, diversidade e inclusão, gestão de conteúdo e monetização. Na segunda fase, as 15 iniciativas selecionadas recebem recursos e mentoria para a implementação dos projetos apresentados.
